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#1957 - Benjamin Clementine - Condolence | A Take Away Show

por Carlos Pereira \foleirices, em 29.02.16

 

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publicado às 18:03


#1956 - Há quanto tempo não digo que te amo

por Carlos Pereira \foleirices, em 29.02.16

Os gestos são apenas palavras

surdas

silenciosas

que não são ditas por timidez ou pudor.

- Há quanto tempo não digo que te amo?

As palavras, sempre as palavras,

perturbadas, perturbadoras,

às vezes banais

quando ditas mil vezes em vão.

- Há quanto tempo não digo que te amo?

O crespúculo do dia quando os nossos olhos abraçam o declinar do sol e

as minhas mãos procuram os teus dedos...

Um gesto simples, prenhe de eloquência, que

as palavras não conseguem entender.

- Há quanto tempo não digo que te amo!

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publicado às 17:41


#1955 - Geografias

por Carlos Pereira \foleirices, em 29.02.16

Geografias

Há as ruas e os lugares. E os lugares que esqueceram como eram chamados para serem ruas, avenidas, caminhos, becos, números de polícia e códigos postais. Havia os quintais, as cortinhas e as quintinhas, os quinteiros, os aidos, a eira, o estrume, os currais e as retretes comunitárias e as folhas de jornal; as ramadas suspensas em braços de pedra;  carros de bois, desfolhadas, o milho-rei e o primeiro beijo. Capoeiras comandadas por galos emproados que comandavam galinhas e garnisés. Porcos na engorda à espera do capador, das arrobas certas e dos primeiros farrapos de geada; Os pés descalços que atropelavam "bolas de capa"; a fruta roubada no quintal do vizinho; as mestras que eram o nosso infantário; o suplício da cata de piolhos e lêndeas; a descoberta de livros que tinham cheiro; o Regedor e Salazar; as noites quentes apaziguadas nas soleiras; a cantina e a sopa dos pobres; o sangue que se ia buscar ao matadouro e que era comido depois de cozido;  as madrinhas de guerra; os soldados a desejarem na Emissora Nacional um feliz natal e um ano cheio de "propriedades"; o mata-porco e o arroz de miúdos; o vinho doce; o colo do meu avô e as sopas de cavalo cansado, e o presépio encaixado numa caixa de sapatos alcatifado com musgo verde; o Bonanza na "sede das pombas"; a alegria e a magia do circo "Arraiola Paramés"; o teatro na "Casa do Povo"; a forja do "Ti" Américo; o saco de pano a tiracolo com a lousa e o caderno de linhas. Primavera, Verão, Outono e Inverno; a Páscoa e as amêndoas e o beijar da cruz; Natal, cigarros e macinhos de chocolate embrulhados em papeizinhos brilhantes e coloridos que guardavamos entre as páginas de qualquer coisa que tivesse letras e desenhos; o tojo para a cama do gado; saquetas com cromos comprados na "Isaurinha"que trocavamos os repetidos; as mãos doridas pelas reguadas do professor Pinto, puxões de orelhas, bofetadas; a apanha diária de leitugas e carrijó; pregoeiros, vendedores de quinquilharias, amoladores, canastras de carapaus e sardinhas; as missas de domingo; os caldos de galinha que celebravam o nascimento e suavizavam as maleitas do parto, e só comidos em dias de festa; a "Ti" Margarida que nos libertava para a vida com um golpe de tesoura enferrujada;  Broa e papas de milho; almoço, janta e ceia, com merenda pelo meio; as rabanadas e malgas de vinho em Castelo de Paiva; as Segundas-Feiras de Páscoa com enguias fritas; os pirolitos e as camarinhas na Senhora da Saúde, em Fornos;  óleo-de-fígado-de-bacalhau; salgadeiras e masseiras; lareira e enchidos abençoados pelo fumo. A noite iluminada a candeias de azeite. A caixa da Sagrada Família. Colchões forrados a palha; forquilhas; brincadeiras, trepar às àrvores, brinquedos feitos de lata, uma fisga no bolso, pedrinhas, botões e berlindes, piões e faniqueiras, e várias fanfarronices; jogar à pancada, fazer recados, o acto subversivo de fabricar cigarros com barbas de milho enrolados em tiras de jornal. Risos, muitos risos que troçavam da pobreza, das doenças e da miséria.

- A bênção, meu Pai?!

- Que Deus te abençoe...

- A bênção, minha Mãe?!

- Que Deus te abençoe...

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publicado às 17:29

 

Autor espanhol foi distinguido no festival Correntes d'Escritas 2016

Javier Cercas, com o romance As Leis da Fronteira, foi o vencedor do Prémio Literário Casino da Póvoa, o principal das Correntes d'Escritas. O festival literário, que está na 17.º edição, reúne até ao fim de semana 80 escritores de onze países na Póvoa de Varzim.

 

Foram também anunciados os vencedores dos restantes prémios, designadamente do Conto Infantil Ilustrado, o prémio literário da Papelaria Locus e o da Fundação Dr. Luís Rainha, numa cerimónia que contou com a presença do ministro da Cultura.

Nascido em Cáceres, em 1962, Javier Cercas tem os seus livros traduzidos em mais de trinta idiomas e tem no currículo diversos prémios literários, nomeadamente o Prémio Cidade de Barcelona, Prémio da Crítica do Chile, o Prémio The Independent Foreign Fiction, ou o The European Athens Prize for Literature. Em 2011, foi-lhe atribuído o Prémio Internacional do Salão do Livro de Turim pelo conjunto da sua obra.

 

In "DN"

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publicado às 21:46


# 1953 - As coisas (Poema de Armando Silva Carvalho)

por Carlos Pereira \foleirices, em 24.02.16

AS COISAS

 

I

 

As coisas fornecem-nos o modo

o lábio frigidíssimo da vida

 

perfume de torneira no silêncio

o céu lastima-se do uso

do modo como se persegue

as coisas.

 

II

 

É deste modo quase obsceno

de quebrar as frases

deste modo antigo de sair dos ossos

que sinto a cortesia do poema

 

desperto os membros

com pena de levantar o corpo

com tímidas conversas

afasto-me do sono

com pena de acordar a alma

e pelas novas linhas do poema

deslizo agarrado às coisas

 

III

 

Este deserto principia

nos dedos e nas palmas

não fica como dizem

pelo rosto das entranhas.

 

Ele só principia em mãos

que escrevem, depois

socorre-se das coisas.

 

E corre nas palavras

poderosas maduras

as ânforas antigas

as mães do nosso sonho.

 

Diante dos objectos

o só cristal dum grilo

o som rouco do mar

eu,só, nu nas paredes.

 

Por isso é meu dever

e eu bendigo

o berço luminoso

dos meus versos.

 

Esta ruidosa planície

que anoitece, branca 

por fora, humana

no percurso,

 

e simples como um povo.

 

Dissipo assim este deserto

o to, aéreo da memória

o jogo dos antigos

as estações translúcidas.

 

Deitado no meu corpo

disfarço o mais que posso

o artifício que encanta

como as crises as bruxas

as amantes.

 

Dissipo deserto e bem mastigo

as coisas com seu peso e os meus braços

podem ser também as árvores que falam.

 

IV

 

Parados neste tempo

momentos de poeta

desanuviam coisas

revestem os limites.

 

Comentam depois pausas

inquirem das notícias

desdobram na paisagem

o curso interior

 

dos eixos e dos dínamos

dissecam como lâminas

o ventre dos sistemas

não dão já fantasia.

 

Carecem de sossego

embarcam com seu modo

pelos túneis do trabalho

momentos de poeta.

E os homens atravessam

à escala ddeste ofício

ofício de poeta

desanuviando coisas.

 

V

 

Por certo as coisas geram

funestas alquimias

depois voam pelos olhos

verdades que se inscrevem

na curva de uma  boca

no aceno dos cabelos

se as coisas já se usam

quando as donzelas coram

 

eu velo assim enxuto

o lado inferior

mas rápido das coisas

não temo este poema

em vias de sumir-se

procuro e recalcitro

pra já soam na noite

os órgãos das paredes

para que eu veja este meu corpo

que alastra este memória

depois sei como penso

pesado nos minutos

 

demais sou camponês

que invade este teatro

e o meu irá por certo

ao berço dos que sofrem

por cima dos troféus

os pais pedem-nos vida

se quis andar nos adros

agora quero a mais

devida ausência

de mistério

 

e ir chamar o mar

sem gritos saudosistas

e ir chamar fadistas

mas quero a conivência

já destes meus amigos

já destes anciãos

sentados no sossego

aos quais peço o adorno

com fresca ansiedade

que chamam de certeza.

 

VI

 

Chamar aqui as coisas. Dividir

e comentar de rosto a pino

estas colheitas.

 

Potentes animais repartem

entre si

o pasto da preguiça.

 

Mas sempre ao pé das coisas

um ruído aponta

e é longe o Sol

os lábios da criança

a procurar na mesa.

 

É enrolar o braço

nesta roda que uiva

espremer o soro patético

do sono.

 

Marcar no chão

sementes de ternura

e cortejar apenas

um coração que viva.

 

Descer dos astros e procurar nas ervas

o sabor honesto para se dar à morte.

E como a rua é forte

ouve-se já o canto

nos intervalos da chuva:

nos ombros as mulheres

passeiam a desgraça

um cântaro mecânico

enche os seus olhos de água.

 

Há plantas podres

mas é a terra cheia

de saúde

e são assim os dias.

 

VII

 

Subo os olhos

pela prosa carcomida

e mal passei a mão

pela raiz de tudo.

 

Ao longo das estradas

alguém depositou

a baba centenária

sentando-se a dobrar

a ponta das semanas

entre os anéis do tempo.

 

Mas deve-se afirmar

que neste mar há ilhas

- talvez sejam ilhotas -

pessoas insulares

e muito desperdício.

 

Há seres prejudicados

pelo aspecto teocrático

de todas as manhãs.

 

Ideias infantis

malucas poderosas

tenazes flores peludas

um girassol nos anos

 

...................................

"perfume de torneira no silêncio

o céu lastima-se do uso

dos versos demagógicos cabrestos

do modo como persegui as coisas."

 

Poema de Armando Silva Carvalho, in Obra Poética (1965-1995), Edições Afrontamento, Julho de 1998

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publicado às 18:44


#1952 - Questões de Semântica

por Carlos Pereira \foleirices, em 24.02.16

Não sou um homem moral (embora tente manter a minha consciência em equilíbrio) nem um sábio; não sou nem um esteta nem um filósofo. Sou apenas um homem nervoso, por força das circunstâncias e dos meus próprios actos.

 

Joseph Brodsky, A marca de água

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publicado às 18:35


#1951 My Autumn Empire - Death Song

por Carlos Pereira \foleirices, em 24.02.16

 

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publicado às 18:31


#1950 James Yorkston - Woozy With Cider (Jon Hopkins Remix)

por Carlos Pereira \foleirices, em 24.02.16

 

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publicado às 17:31


#1949 - Le temps qui reste

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.02.16

 

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publicado às 20:31


#1948 - Carlos Cipa - The Whole truth

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.02.16

 

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publicado às 18:56


# 1947 - Carlos Foster - You'll survive

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.02.16

 

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publicado às 18:50


#1946 - A FADIGA

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.02.16

A FADIGA

 

Nada me  prende à vida

e se vivo,

só vivo de fadiga e se forçado

sou a continuar a fatigar-me

como sucede agora, e me nutro

de desgostos veementes e absurdos

nestes climas atrozes, a existência

receio abreviar

 

Outrora está tão perto que está longe:

que diferença fazem as idades, que muralha

as separa?

Nada posso dizer: o que perdi

esqueci porque as palavras

não formam já o mundo nem o mundo

forma já as palavras;

para poder beber destilo o mar

 

POEMA DE GASTÃO CRUZ, in Óxido, Assírio & Alvim, 2015

 

 

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publicado às 18:30


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