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O poeta sueco Tomas Tranströmer, Prémio Nobel da Literatura em 2011, morreu esta quinta-feira. Tinha 83 anos.
Tranströmer nasceu em 1931, em Estocolmo. Os seus poemas estão traduzidos em 30 línguas, incluindo português.
O autor tinha dificuldades em falar desde que em 1990 sofreu uma apoplexia e recebeu o prémio em 2011 numa cadeira de rodas. Ganhou na casa do prémio Nobel, algo que não acontecia desde 1974 quando Eyvind Johnson e Harry Martinson foram laureados.
Vasco Graça Moura traduziu o seu poema chamado "Lisboa":
In
“Falar do processo que levou à concretização desta exposição, é falar do desenho; isto se pensarmos que na atualidade deixou de se considerar relevante aquilo que se representa ou se reconhece no desenho, para se realçar a importância do como é desenhado, do processo. No seguimento deste raciocínio, as obras a selecionar estariam à partida marcadas quanto à sua especificidade conceptual. Abrangendo grande variedade de suportes, do papel ao cartão, da tela à madeira; e de técnicas ou meios, do simples lápis riscador, ao marcador, à lata de aerossol, do uso da luz néon, ao vídeo e à forma tridimensional o desenho em manifesta pulsão”. - Paulo Moreira
Local:
Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira
horário:
segunda a sexta: 09h30 às 19h00
sábado: 10h00 às 17h00.
patente até 07 de maio de 2015
"Qualquer pessoa que voluntariamente toque noutra pessoa do mesmo sexo para fins de gratificação sexual deve ser morta com balas na cabeça ou por qualquer outro método conveniente", defende.
Lei da Supressão Sodomita. É assim que se chama a proposta de lei apresentada pelo advogado norte-americano Matthew Gregory McLaughlin e que inclui sete medidas contra aqueles que se envolvem em sodomia homossexual, que define como "um mal monstruoso que Deus todo-poderoso, que dá liberdade e independência, nos ordena a suprimir sob pena de nos destruir".
In "Diário de Notícias on line"
The ten authors on the list are:
Em memória de Herberto Helder [1930-2015]
PREFÁCIO
Falemos de casas, do sagaz exercício de um poder
tão firme e silencioso como só houve
no tempo mais antigo.
Estes são os arquitectos, aqueles que vão morrer,
sorrindo com ironia e doçura no fundo
de um alto segredo que os restitui à lama.
De doces mãos irreprimíveis.
- Sobre os meses, sonhando nas últimas chuvas,
as casas encontram seu inocente jeito de durar contra
a boca subtil rodeada em cima pela treva das palavras.
Digamos que descobrimos amoras, a corrente oculta
do gosto, o entusiasmo do mundo.
Descobrimos corpos de gente que se protege e sorve, e o silêncio
admirável das fontes -
pensamentos nas pedras de alguma coisa celeste
como fogo exemplar.
Digamos que dormimos nas casas, e vemos as musas
um pouco inclinadas para nós como estreitas e erguidas flores
tenebrosas, e temos memória
e absorvente melancolia
e atenção às portas sobre a extinção dos dias altos.
Estas são as casas. E se vamos morrer nós mesmos,
espantamo-nos um pouco, e muito, com tais arquitectos
que não viram as torrentes infindáveis
das rosas, ou as águas permanentes,
ou um sinal de eternidade espalhado nos corações
rápidos.
- Que fizeram estes arquitectos destas casas, eles que vagabundearam
pelos muitos sentidos dos meses,
dizendo: aqui fica uma casa, aqui outra, aqui outra,
para que se faça uma ordem, uma duração,
uma beleza contra a força divina?
Alguém trouxera cavalos, descendo os caminhos da montanha.
Alguém viera do mar.
Alguém chegara do estrangeiro, coberto de pó.
Alguém lera livros, poemas, profecias, mandamentos,
inspirações.
- Estas casa serão destruídas.
Como um girassol, elaborado para a bebedeira, insistente
no seu casamento solar, assim
se esgotará cada casa, esbulhada de um fogo,
vergando a demorada cabeça para os rios misteriosos
da terra
onde os próprios arquitectos se desfazem com suas mãos
múltiplas, as caras ardendo nas velozes
iluminações.
Falemos de casas, É verão, outono,
nome profuso entre as paisagens inclinadas.
Traziam o sal, os construtores
da alma, comportavam em si
restituidores deslumbramentos em presença da suspensão
de animais e estrelas,
imaginavam bem a pureza com homens e mulheres
ao lado uns dos outros, sorrindo enigmaticamente,
tocando uns nos outros -
comovidos, difíceis, dadivosos,
ardendo devagar.
Só um instante em cada primavera se encontravam
com o junquilho original,
arrefeciam o resto da ano, eram breves oa mestres
da inspiração.
- E as casas levantavam-se
sobre as águas ao comprido do céu.
Mas casas, arquitecos, encantadas trocas de carne
doce e obsessiva - tudo isso
está longe da canção que era preciso escrever.
- E de tudo os espelhos são a invenção mais impura.
Falemos de casas, da morte. Casas são rosas
para cheirar muito cedo, ou à noite, quando a esperança
nos abandona para sempre.
Casas são rios diuturnos, nocturnos rios
celestes que fulguram lentamente
até uma baía fria - que talvez não exista,
como uma secreta eternidade.
Falemos de casas como quem fala da sua alma,
entre um incêndio,
junto ao modelo das searas,
na aprendizagem da paciência de vê-las erguer
e morrer com um pouco, um pouco
de beleza.
Poema de Herberto Helder in "A Colher na Boca", 1961
Entrevista publicada no Diário de Notícias
Pois, senhores, falo-vos hoje da Maria de Lourdes, empregada de tabacaria e poeta. Tem vinte anos, olhos negros e tristes, vive num quarto sem janela e é orfã de pai e mãe. Não me perguntem como foi que adivinhei o segredo escondido: acreditem, apenas.
Há no mundo muita coisa inexplicada: guerras, fortuna, jogo, jeito para o negócio, navios da carreira de África. Matéria-prima para sonhos passados aos direitos. Aventura. Milagre.
A Maria de Lourdes tem vinte anos. (E isso que importa?). A Maria de Lourdes é poeta. (Melhor fora que tivesse voz e cantasse em programas radiofónicos). A Maria de Lourdes é triste. A Maria de Lourdes é feliz. (Será?).
Todos os dias, chega um navio ao porto. (É o teu, Maria?). Todos os dias se embarca para a América.(E tu, Maria, e tu, Maria?). Todos os dias se vendem maços de tabaco, bilhetes de cinema, consciências. (Cautela, Maria; cautela, Maria...):
Bom dia, Maria. Boa noite, Maria. Boa tarde, Maria, triste e feliz, que fazes versos a pedir desculpa. E se o milagre acontecesse? Olha o Menino, a descer pela corda frágil de um raiozinho de lua!
Beija-lhe os pés, Maria. O céu é para todos.
Esta madrugada olhei a estrela-d'alva e lembrei-me de ti, Maria. De ti, rapariguinha triste, poeta, empregada de tabacaria. Há quem diga que a Terra é redonda. Mentira, Maria - ou pelo menos não o é, se não houver sentido para o amor iconsequente.
E o cansaço nos ombros, Maria? E a saudade sem nome? E Paris, cada vez mais distante? E o teu vestido azul, primaveril? E os fantasmas com passaporte para as Ilhas, acções desvalorizadas, compromissos de emprego e de família?
Não há nada a fazer, minha filha. (D. Quixote casou com Dulcineia que era, ao que me dizem, um óptimo partido). Das nove às sete, com intervalo para almoço, escrever poemas na Praça da República: para quê, Maria, para quê?
Adeus, Maria
Crónica de Daniel Filipe in "Discurso sobre a cidade" editado pela Editorial Presença em Setembro de 1977.