Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Eu não sei o nome destes pássaros que viajam alto.
Anjos? Não. Ouve-se-lhes bater o coração.
Os nazis distribuíam sopa aos pobres
(vejo na TV como quem diz "nem tudo foi mau").
Revejo-me numa foto de 70
dando sopa aos pobres de Cangombe. - "Tu és nazi,
pergunto?"
Não te compete a ti explicares-te, rapaz
sobretudo quando escreves versos
e pensas que em qualquer caso vale sempre a pena
adiar um pouco mais a morte.
E nem nunca mesmo ninguém explicou se um império que morre
morre de imortalidade ou de morte natural.
Tranquiliza-te: a besta que és
tu a suportas cada vez menos. Isso é bom, tão sério sendo?
Poema de J.H. Santos Barros [Angra do Heroísmo, 1946 - Mérida, Espanha, 1983]
"As histórias que os outros contam sobre nós, e as histórias que contamos sobre nós próprios: quais são as que mais se aproximam da verdade? Será assim tão evidente que são as próprias? Será que cada um é uma autoridade para si próprio? Contudo, essa não é verdadeiramente a questão que me ocupa. A verdadeira questão é: haverá, nessas histórias, uma diferença entre verdadeiro e falso? Em relação a outras histórias sobre aspectos exteriores ela existe, de facto. Mas o que sucede quando nos dispomos a compreender alguém na sua interioridade? Será que essa viagem algum dia terá fim? Será que a alma é um espaço habitado por factos? Ou será que os supostos factos não passam das enganadoras sombras das nossas histórias?"
Comboio Nocturno para Lisboa - Pascal Mercier
Vejo-te nua
a dançar
em cima de um banco
no meu jardim
Pergunto-te, porque estás nua?
Respondes com um gesto largo
um encolher de ombros
e um sorriso magnífico
Não esperes para ver o fim da história. As várias histórias, sendo diferentes, tendo personagens diferentes, têm sempre o mesmo final.
São histórias que não acabam bem nem acabam mal. Não acabam, porque os argumentistas são todos do mesmo lado da história.
no país no país no país onde os homens
são só até ao joelho
e o joelho que bom é só até à ilharga
conto os meus dias tangerinas brancas
e vejo a noite Cadillac obsceno
a rondar os meus dias tangerinas brancas
para um passeio na estrada Cadillac obsceno
e no país no país e no país
onde as lindas raparigas são só até ao pescoço
e o pescoço que bom é só até ao artelho
ao passo que o artelho, de proporções mais nobres,
chega a atingir o cérebro e as flores da cabeça,
recordo os meus amores liames indestrutíveis
e vejo uma panóplia cidadã do mundo
a dormir nos meus braços liames indestrutíveis
para que eu escreva com ela, só atá à ilharga,
a grande história do amor só até ao pescoço
e no país no país que engraçado no país
onde o poeta o poeta é só até à plume
e a plume que bom é só até ao fantasma
ao passo que o fantasma - ora aí está -
não é outro senão a divina criança (prometida)
uso os meus olhos grandes bons e abertos
e vejo a noite (on ne passe pas)
diz que grandeza de alma. Honestos porque.
Calafetagem por motivo de obras.
É relativamente queda de água
e já agora há muito não é doutra maneira
no país onde os homens são só até ao joelho
e o joelho que bom está tão barato
Poema de Mário Cesariny (1923-2006)
O escritor norte-americano Philip Roth foi agraciado com o Prémio Príncipe das Astúrias das Letras 2012, derrotando na última fase de votações o outro finalista, o japonês Haruki Murakami.