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O VII Simpósio, organizado pela Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e coordenado por Renzo Barsotti, será realizado, como habitualmente, na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira, no dia 20 de Dezembro, pelas 15h00. No âmbito do Ano Europeu do Diálogo Intercultural, o tema será o diálogo entre culturas.
Este simpósio, moderado por Carlos Magno, terá como conferencistas:
- Fernando Savater, filósofo
- Henrique Cymerman, jornalista
- Rui Pereira, Ministro da Administração Interna.
Aceitam-se inscrições até ao dia 17 de Dezembro de 2008, limitada à lotação do auditório da biblioteca municipal.
Para mais informações contacte, por favor, a biblioteca municipal através do telefone 256377030 ou e-mail: bibliotecasmf@yahoo.com.
Simpósios anteriores
quem já cá esteve:
2000
o destino cultural da europa
conferencista:
eduardo lourenço
2001
promessas de identidade
conferencistas:
gianni vattimo
francesco alberoni
raimon panikkar
moderadores:
fátima pombo
carlos magno
2002
a europa na geografia da história
conferencistas:
josé saramago
antonio di pietro
vasco graça moura
moderador:
carlos magno
2004
realidade e utopia
conferencistas:
remo bodei
omar calabrese
pacheco pereira
oliviero toscani
jean ziegler
moderador:
Carlos magno
2005
a europa e o terrorismo global
conferencistas:
Zuhair Al Jezairy
Issam Sadek Beseisso
Ely Karmon
Rui Pereira
Giuliana Sgrena
Piero Luigi Vigna
moderador:
Carlos Magno
2006
qual é o deus do mediterrâneo
conferencistas:
Salman Rushdie
Anselmo Borges
Cláudio Torres
moderador:
Carlos Magno
2007
identidades: diverCIDADE global
conferencistas:
Bernard Henri-Levy
Tahar bem Jelloun
Paul Rusesabagina
Carlos Amaral Dias
moderador:
Carlos Magno
"
As desigualdades sociais têm vindo a diminuir desde 2005
".
A afirmação é do nosso Primeiro-Ministro...
... que deve ter estudos muito profundos para fundamentar esta afirmação!
Confesso que esta tirada de Sócrates teve piada...
... de muito mau gosto.
Decenas de zapatos donados, con etiquetas con nombres de muertos en la guerra de Irak, han sido colocados frente a la Casa Blanca, protesta inspirada por el incidente del periodista iraquí que lanzó sus zapatos a Bush [in El País]
O VII Simpósio, organizado pela Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e coordenado por Renzo Barsotti, será realizado, como habitualmente, na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira, no dia 20 de Dezembro, pelas 15h00. No âmbito do Ano Europeu do Diálogo Intercultural, o tema será o diálogo entre culturas.
Este simpósio, moderado por Carlos Magno, terá como conferencistas:
- Fernando Savater, filósofo
- Henrique Cymerman, jornalista
- Rui Pereira, Ministro da Administração Interna.
Aceitam-se inscrições até ao dia 17 de Dezembro de 2008, limitada à lotação do auditório da biblioteca municipal.
Para mais informações contacte, por favor, a biblioteca municipal através do telefone 256377030 ou e-mail: bibliotecasmf@yahoo.com.
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fátima pombo
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a europa na geografia da história
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josé saramago
antonio di pietro
vasco graça moura
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omar calabrese
pacheco pereira
oliviero toscani
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2005
a europa e o terrorismo global
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Zuhair Al Jezairy
Issam Sadek Beseisso
Ely Karmon
Rui Pereira
Giuliana Sgrena
Piero Luigi Vigna
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2006
qual é o deus do mediterrâneo
conferencistas:
Salman Rushdie
Anselmo Borges
Cláudio Torres
moderador:
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2007
identidades: diverCIDADE global
conferencistas:
Bernard Henri-Levy
Tahar bem Jelloun
Paul Rusesabagina
Carlos Amaral Dias
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Carlos Magno
"José Sócrates não serve.
Transformou a política numa tagarelice."
Baptista-Bastos [in Diário de Notícias]
"Sócrates tem a mania, deixa-se dominar por uma arrogância pouco adulta, tem alguns ministros execráveis e é apoiado por uma cambada que inferniza a vida a gente séria e na qual as pessoas de valor procuram não dar nas vistas."
Joaquim Letria [in 24 Horas]
Just another day
Por Sérgio Rodrigues
BRAVO!: Você pegou todos os presidentes desde Getúlio Vargas. Quem sofreu mais com o Millôr? José Sarney, que você destruiu naquela série de textos no Jornal do Brasil sobre o romance Brejal dos Guajas (mais tarde reunidos no livro Crítica da Razão Impura)?
Millôr: Não tenho essa consciência. A gente vai fazendo... O Sarney não sofreu como presidente, mas como escritor. Terminei a série perguntando: "Afinal de contas, Sir Ney escreveu ou não escreveu um livro? Escreveu, porque segundo a Unesco livro é uma publicação não periódica de mais de 49 páginas. E quando Sir Ney chegou, depois de muito esforço, à qüinquagésima página, fechou a máquina e gritou lá para dentro: 'Mãe, acabei!'".
Você prometeu se candidatar à vaga dele na Academia Brasileira de Letras. Pretende cumprir?
Cadeira 38, é verdade. Um perigo. Claro que vou ter que cumprir.
Promessas à parte, já lhe passou pela cabeça se candidatar à Academia?
Não é que não me passe pela cabeça: não passa por nenhuma parte do corpo. Aliás, não tenho muita admiração por aquela frase do Machado de Assis: "Esta é a glória que fica, eleva, honra e consola". Bastaria dizer: "Esta é a glória que fica". Consola? Só se for um consolador de borracha.
Você costuma dar cascudos em Machado. Sua crônica sobre a suposta relação homossexual de Bentinho e Escobar em Dom Casmurro é famosa. Considera o Bruxo um escritor medíocre?
A palavra não é "medíocre". Desde criança, nunca fui induzido pelo nome. Diziam: "Você não vai gostar do Euclides da Cunha, aquela primeira parte de Os Sertões é muito chata". Um dia fui ler e achei sensacional. Guimarães Rosa eu li com certa dificuldade, mas insisti e vi que a dificuldade era minha, não dele. O Proust eu li em português, francês, inglês e espanhol: é toda uma dimensão literária. Mas o Machado não me diz nada, como o Joyce, que eu nunca consegui ler. Não acredito em ler com esforço.
A cultura escrita está perdendo prestígio no mundo inteiro. Isso é ruim?
O volume de escritos está numericamente maior e percentualmente menor. Com a internet, cada um tem seu blog, e, quando há um volume muito grande de gente praticando, tudo se abastarda. Quando se deliberou que não haveria mais métrica e rima na poesia, toda senhora de 50 anos começou a fazer poesia. Hoje o marketing é violento. Quando o cara consegue explodir, como o Paulo Coelho, está feito: nada faz mais sucesso que o sucesso. Eu só li um livro dele, um com nome árabe [O Zahir]. Outro dia ele disse que não liga para o que os tradutores fazem com seus livros. Pô, o tradutor só pode melhorar aquilo! Mas vai melhorar o Guimarães Rosa...
Você é famoso por não ser saudosista. Existe algo em que o mundo tenha sido melhor do que hoje?
Ah, sem dúvida: Ipanema nos anos 60. Fui morar lá em 1954. Meu edifício foi o primeiro, tive que espantar os índios da praia. Não havia sinal de trânsito. O Rio era uma aldeia. Antes disso eu morava na avenida Atlântica, a duas quadras do meu amigo Sérgio Porto. É impressionante o modo como a gente trabalhava. Eu ficava na praia até as onze. Todo dia tinha mil coisas para fazer, mas às sete da noite estava no bar Vilariño, às nove no Juca's Bar. Como pode? Não sei. Levava para a praia um cestinho com os jornais, ia escrevendo uns negócios e guardando ali, enquanto a gente conversava. Foi quando inventamos o frescobol.
Como foi essa história?
No começo era só peteca e mar, isto é, jacaré. No Arpoador começavam a chegar as primeiras pranchas, de dez metros. Um dia apareceu uma pessoa com uma caixa, que tinha dentro uma bola e uma raquete pesada. A gente batia e a bola voltava, como um bumerangue. Chamava-se "la pelote basque sans fronton" [pelota basca sem paredão]. A raquete já estava ali, e apareceu alguém com uma bola de tênis. A gente pegava essas bolas e esfregava com querosene, para deixá-las carecas. Nunca mais deixei de jogar frescobol. Cheguei a jogar muito bem.
Você é o maior tradutor brasileiro de teatro. Já encarou Shakespeare e Tchekov, Molière e Ibsen, entre muitos outros, mas começou traduzindo quadrinhos. É um autodidata também em línguas estrangeiras?
Autodidata é um louvor. Sou audacioso e tenho instinto, sensibilidade. E não tenho medo. Quero que o Shakespeare se dane, para não dizer coisa pior. Uma vez encontrei o Nelson Rodrigues na cidade e ele disse: "Ô Millôr, é verdade que tu melhora o Molière?". Respondi: "Nelson, sou mais velho que o Molière. Traduzo com absoluta fidelidade, mas, se ele deixar uma bola na cara do gol, eu chuto".
É mais importante para um tradutor dominar seu idioma do que a língua-fonte?
O importante é a língua para a qual se traduz. No teatro, então... Um dia o [diretor de teatro] Gianni Rato chegou aqui com A Megera Domada. Eu falei que não sabia traduzir aquilo. Aí fui pesquisar as traduções que existiam. Olha, é inacreditável: o pessoal cortava trechos, dizia uma coisa pela outra, e humor ninguém sabia. Fiz uma Megera Domada melhor e aprendi o valor do trocadilho. Dizem que o trocadilho é a mais baixa forma de humor, mas, se você tirar o trocadilho de Shakespeare, ele desaparece. O Agrippino Grieco escreveu: "Menotti del Picchia, fecha a braguilha do teu nome!". Isso é ótimo! Não dá para dizer de outra forma.
Quais humoristas brasileiros você admirava quando começou? Era fã do Barão de Itararé?
Não era e fui ficando cada vez menos. Ele tem meia dúzia de coisas, o marketing do Rio Grande do Sul e aquela bobeira fundamental: você diz que uma coisa é boa e as pessoas acreditam. Em São Paulo, houve um humorista popular muito bom, o Juó Bananere, que ninguém conhece.
Quem faz o Millôr rir no humor brasileiro de hoje?
Hoje está tudo espalhado, existe muita gente boa por aí que eu não conheço. Mas dos meus colegas tem o Jaguar, o Chico e o Paulo Caruso, os paulistas como o Laerte e o Angeli, muita gente. Escrevendo é que eu vejo poucos além do Verissimo, que está consagrado.
Você conviveu com Nelson Rodrigues. Concorda que ele é o maior dramaturgo brasileiro?
Ninguém vai desfazer esse mito, mas é um mito com fundamento. O Nelson tem humor. Com meia dúzia de frases, liquida o Barão de Itararé: "Eu não sou machista, machista é a natureza".
Qual é a melhor peça de teatro do Millôr?
Flávia, Cabeça, Tronco e Membros. Foi encenada uma vez só, com direção do [Luiz Carlos] Maciel. Um dia fui ver um ensaio e nunca mais apareci, nem na estréia. Não entenderam nada. Acho excelente, mas morreu. Foi a única peça que não escrevi de encomenda. Minha vocação é essa. Não trabalho por dinheiro, mas sem dinheiro eu não trabalho.
Ouça aqui trecho da entrevista de Sérgio Rodrigues com Millôr Fernandes
A revista Tabacaria vai voltar a ser editada, «não necessariamente com esse nome», garantiu hoje Inês Pedrosa, directora da Casa Fernando Pessoa, em entrevista ao jornal Público. «Tem de ser bilingue, além de fortemente literária. Pessoa já não é só de Portugal - aliás, nunca foi. Temos também um projecto de edição contínua de textos em torno de Fernando Pessoa com o grupo editorial Leya. Estamos a estudar o modelo.»
os encargos de todas as obras públicas anunciadas, boa parte do nosso futuro está hipotecada; pelo presente já ninguém dá nada; resta o passado. Não se estranhará, pois, que o Governo prepare um novo regime para o património histórico e cultural que abre portas à venda mais ou menos indiscriminada de monumentos históricos. "O mote é alienar", denunciam, alarmadas, as associações de defesa do património.
Se a coisa, congeminada no Ministério das Finanças, for avante, depois do Forte de Peniche transformado em pousada, veremos um dia destes uma loja Ikea na Torre de Belém e um hotel de charme no Mosteiro de Alcobaça (e porque não no da Batalha?); Rui Rio poderá, finalmente, vender a Torre dos Clérigos em "time-sharing"; e António Costa, em Lisboa, fazer dos Jerónimos um centro comercial. Governados por mercadores sem memória e sem outra cultura que não a do dinheiro, faltava-nos ver a nossa própria História à venda. Em breve, nem Cristo (quanto mais nós) terá poderes para expulsar os vendilhões do Templo porque eles já terão comprado o Templo e já lhe terão dado ordem de expulsão a Ele.
Pedras, "cocktails molotov", ovos, gritos ou insultos, as diferenças que a raiva tem assumido nas ruas de Atenas, Paris, Lisboa, Roma, Copenhague e mais cidades, não chegam para ocultar semelhanças fundamentais. Dirigidas por contabilistas sem outra ideologia senão o mesmo vácuo discurso anti-ideológico do "fim da História" (ou das "terceiras vias"), burocratas incapazes de uma ideia ou um ideal minimamente mobilizadores, as democracias europeias, muitas vezes sob a tutela de partidos com a designação de "socialistas" ou "sociais-democratas" também eles transformados em gestores de interesses e clientelas, tornaram-se lugares onde deixou de haver motivos de esperança e onde exércitos cada vez mais numerosos de excluídos convivem com a riqueza escandalosa, a ostentação e a corrupção.
Num tal ambiente social, uma centelha, como aconteceu com o assassínio de um jovem em Atenas, pode incendiar toda a pradaria. Depois, para a guerra civil social começar a assumir contornos antidemocráticos, basta saltar de qualquer esquina um populista. É isto que as lideranças europeias parecem não compreender.
Os premiados, que receberão cinco mil euros, foram escolhidos de entre 485 candidatos que enviaram os seus textos para o concurso organizado pela estação Radio Francia Internacional, Instituto Cervantes, Instituto do México em Paris, Casa da América Latina, Colégio de Espanha e Le Monde Diplomatique.
Em «Los Anacrónicos», de Padilla, «a celebração solene e pomposa de uma vitoriosa batalha dá lugar ao desenvolvimento de fortes conflitos entre os membros da associação de ex-combatentes», o que recria «um turbilhão de honras e medalhas de pacotilha que o narrador, com violento sarcasmo, desmistifica», indicou o júri.
«La Mensajera», de Dávila, por sua vez, é uma obra «com uma linguagem sóbria e precisa», em que «o narrador situa os factos num país africano em guerra», explicou o júri ao anunciar o prémio, em comunicado.
Este livro trata da «construção de uma balsa capaz de transportar material bélico de uma margem a outra, em vista de uma próxima batalha» que «se torna o épico desafio de um simples sargento», acrescentou.
Por outro lado, a argentina Lidia Barugel foi distinguida na categoria de novela, pela obra «Otilia Umaga, la mulata de Martinica».
Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ónibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Poema de Carlos Drummonde de Andrade, do Livro "Antologia Poética" de 1962 e editado em Portugal em Dezembro de 2007 pela editora Relógio D'Água Editores
Chão de giz
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«As Vozes do Rio Pamano» é um romance de fôlego acerca das complexas histórias individuais que se ocultam por detrás da história da Guerra Civil de Espanha, cujas reminiscências perduraram ao longo de toda a transição do país para a democracia e que ainda hoje se fazem sentir, marcando a memória colectiva espanhola. Certo dia, no ano de 2001, uma professora e fotógrafa desloca-se à povoação de Torena para recolher material didáctico da velha escola que está prestes a ser demolida. Esta trivial circunstância irá desencadear a revelação de um enredo complexo, pois Tina toma posse de um caderno manuscrito que ali permanecera escondido ao longo de décadas e que contém as memórias do mestre-escola, numa carta que nunca chegou ao seu destinatário. Pouco a pouco, interpelada pelas experiências e pelos factos contados por Oriol Fontelles, Tina deixa-se envolver na memória histórica da aldeia, situada no epicentro da repressão franquista. E assim o leitor fica a saber como as coisas se passaram em Torena: assassínios e vinganças; jogos de poder e influência; medo e intimidação; combatentes da resistência, fascistas e heróis anónimos, cujas vidas permaneceram envoltas na bruma dos tempos e do esquecimento, obliteradas pela reescrita da própria história. | |
The Christmas Song sung by Nat King Cole
"A língua é que nos escolhe", diz-nos. Ele foi escolhido pela catalã para escrever um grande romance, "As Vozes do Rio Pamano".
Muito resumidamente, "As Vozes do Rio Pamano", livro do catalão Jaume Cabré publicado pela Tinta-da-China, conta a história de uma mulher que tenta resgatar a verdade sobre um herói franquista, que foi afinal um herói da resistência ao franquismo. É um retrato de conjunto que percorre os últimos 60 anos da história de Espanha e da Catalunha.
Cabré nasceu em Barcelona em 1947, estudou filologia catalã, foi professor do ensino secundário e hoje é escritor profissional, substancialmente graças aos guiões que escreve para produções audiovisuais. Tem também ensinado guionismo na Universidade de Lleida. Cabré esteve em Lisboa para apresentar o romance, que foi publicado na Catalunha em 2004 e já está traduzido, com merecido sucesso, em diversas línguas. Falámos com ele. O catalão foi a língua oficial de trabalho da entrevista.
O pós-Guerra Civil e o franquismo são os temas de fundo deste livro. A questão continua sendo uma "ferida" não totalmente fechada na sociedade espanhola?
Sim e, demonstrando isso, ultimamente saíram uns quantos romances sobre o tema, como "Pa Negre", de Emili Teixidor, "La Meitat de l'Ànima", de Carme Riera, e "La Noia del Ball", de Jordi Coca. São obras que falam da guerra, ou do imediato pós-guerra, escritas por quem já não a viveu. São filhos dos que viveram a guerra. Por outro lado, há hoje um debate na sociedade espanhola, na imprensa, no Parlamento, sobre a reivindicação da memória histórica. É um debate que não está encerrado. Houve um juiz que disse: agora poderemos julgar Franco.
Refere-se ao juiz Baltasar Garzón?
Sim. Temos pendente, do ponto de vista da Catalunha, a reivindicação da figura de Lluís Companys, que foi assassinado pelo franquismo porque era presidente da Generalitat da Catalunha. Foi fuzilado. Todas estas questões denotam que ainda não se fechou essa ferida. Neste romance falo da tergiversação da memória e da reinvindicação do passado colectivo.
Quanto a julgar os crimes do franquismo, Garzón teve de fazer marcha atrás. O que pensa disso?
Penso que há muita gente que quer que se encubram as coisas. Com a morte de Franco houve um processo de transição, não houve uma ruptura. Foi um processo tutelado pelo exército franquista. Mudaram algumas peças. À Catalunha e ao País Basco disseram: falemos de autonomia de maneira séria... E houve comunidades autónomas para toda a gente, o que é um disparate, porque havia regiões, como a Extremadura ou La Rioja, que tanto se lhes dava. Sentem-se espanhóis e dão-se bem com isso. Foi para que se não notasse nenhuma diferença entre o País Basco, a Catalunha e o resto. Para os perdedores da guerra, os anos da ditadura franquista foram difíceis, aliás até ao fim. Franco morreu em Novembro de 75 mas em Setembro ainda assinava condenações à morte. Nada de brincadeiras! É terrível. Os vencidos pagaram, os franquistas não. E ainda os há que estão no poder ou próximo dele, com influência política e tudo isso. O franquismo como tal não pagou e para muita gente isso é uma situação injusta. Há até um processo de abertura das valas comuns do franquismo. E há pessoas de oitenta e tal anos, que sabem dessas valas comuns, mas não querem falar sobre isso, ainda têm medo. Medo! Franco já morreu há 30 anos, mas não querem falar porque têm o medo entranhado. Porque toda a vida foram obrigadas a calar.
Há na Catalunha uma sensibilidade especial quanto a essa matéria? E a literatura catalã soube abordá-la?
Essa sensibilidade é acompanhada por um certo cansaço, também. Nos anos 50 e 60 houve literatura que falou da guerra, escrita por protagonistas, por gente que a viveu, na retaguarda ou na frente. Muitos escreviam no exílio, como Avel.lí Artís-Gener, Pere Calders, Riera Llorca. Depois falou-se de outras coisas, e o que é curioso agora é este regresso. Que talvez tenha algo a ver com o segundo mandato de Aznar, que foi com maioria absoluta e que foi horroroso. Portanto, as pessoas fecham-se a escrever para não ouvirem falar dessa gente... Dizia o bispo de Madrid que há que voltar a página, perdoar. Bom, depende... É o que digo no romance com aquela frase de Jankelevitch ["Pai, não lhes perdoes, porque eles sabem o que fazem"]. De uma perspectiva cívica pode-se dizer: tenho direito a não perdoar. Não digo eu, pessoalmente, que sou afectado de maneira colectiva, mas sim uma pessoa directamente afectada, que pode dizer como Jankelevitch: e eu agora é que hei-de perdoar aos verdugos nazis? A minha prima e toda a sua família é que podiam perdoar a quem os levou e os fez sair pela chaminé de Auschwitz. Não podem? Então o verdugo que vá para a tumba sem o perdão das vítimas! Porque, de certa maneira, os verdugos exigem o perdão! Não, nem perdoo nem esqueço. Outra coisa é que me queira vingar ou não. Entendo que se possa dizer: perdoo para que possa dormir tranquilo. Perdoem tudo o que quiserem, mas não esqueçam. Senão as coisas voltam...
Voltam?
Estamos sempre à beira da possibilidade de... Há uma imprensa espanhola, sobretudo certa imprensa madrilena, muito estúpida, com uma linha xenófoba até, sobretudo no que diz respeito à Catalunha. Todos os dias dizem mentiras, meias verdades, e vão criando um ambiente anticatalão que é impressionante e que está a alastrar por toda a Espanha.
É um escritor catalão ou um escritor espanhol?
Sou um escritor catalão sem qualquer espécie de dúvida, porque escrevo em catalão. Sou escritor espanhol mas por causa do passaporte ou por aquilo que poderíamos chamar imperativo legal.
No ano passado, por causa da representação catalã na Feira de Frankfurt, houve polémica à volta da questão de saber quem é e quem não é autor catalão...
Uma polémica artificial. Um escritor português que escreva em finlandês pertence à literatura finlandesa, não à portuguesa. Porquê? Porque escreve em finlandês. Em contrapartida, com a literatura catalã, em Espanha... Não sei, não nos deixam ser felizes! É verdade! Deixem-nos em paz! Uma literatura é a que se faz numa língua. A literatura espanhola é a que é escrita em espanhol e portanto García Márquez é literatura espanhola, embora seja colombiano. É lógico! De qualquer maneira, essa polémica fez-se a partir de jornais de Madrid e de alguns de Barcelona que têm a mesma linha. Mas tal como começou, acabou.
A promoção da literatura catalã em Frankfurt resultou?
Creio que sim. Conseguiu-se usar Frankfurt como uma montra para que se soubesse na Europa e no mundo que a literatura catalã existe e que tem vida própria, que tem alguns clássicos notáveis e que tem uma literatura contemporânea viva, eficaz e de qualidade. Não digo que seja a melhor literatura do mundo, mas tem a qualidade normal de muitas outras literaturas e de vez em quando alguma obra muito boa. Como dizia um amigo meu ironicamente, a literatura catalã foi um segredo de Estado muito bem guardado pela Espanha durante muito tempo.
Cresceu e formou-se sob o franquismo. Qual era então a situação da língua catalã?
Nasci no ano de 1947 e portanto os anos 40, que foram os mais duros, não os vivi. Recordo os anos 50, quando tinha oito, nove anos, uma Barcelona cinzenta, triste, as pessoas falando em voz baixa porque se falássemos catalão na rua e nos ouvissem... É que tinham proibido a língua! É uma coisa tão estúpida! Sabe o que é proibirem a sua língua e imporem-lhe outra? Quando o exército de Franco entrou por Lleida, o que fez primeiro foi abolir o Estatuto da Catalunha e proibir o uso público da língua: toda a imprensa tinha de ser em castelhano, não se podia fazer nenhum acto público em catalão, todos os nomes das ruas tinham de ser mudados para castelhano... Mas a proibição da língua já a tinham vivido os nossos avós com Primo de Rivera, nos anos 20, e já a tinham vivido outras gerações, porque logo que os Bourbon entraram em Espanha [no início do século XVIII] uma das primeiras coisas que fizeram foi dizer que isto tinha de acabar, tinha de haver uma língua e um império.
Podemos dizer que os autores catalães são bilingues?
Não. Eu não sou bilingue.
Não fala castelhano?
Sei castelhano, como sei francês e outras línguas. O que acontece é que não o falo. Se for a Espanha falo-o. Há uma certa confusão. Eu sei línguas, não é que seja bilingue. É diferente. Bilingue é aquele que usa duas línguas de maneira indistinta, por razões familiares, por gosto ou pelo que seja. Eu uso uma, que é a minha língua familiar, social e que é também a minha língua literária. A maioria dos autores em catalão são unilingues. O que acontece é que são capazes de falar e de escrever em castelhano, e em francês ou inglês, depende. É curioso que em Espanha se diga que a Catalunha é bilingue depois de, com os processos migratórios, o castelhano, que é muito forte, estar a criar graves problemas à sobrevivência do catalão. O bilinguismo é bom, devemos poder falar as duas línguas, dizem. Mas os castelhanos só falam em castelhano. Ou seja: bilingues são vocês, eu sou monolingue em castelhano. Assim não vale, a coisa não funciona. Então, como a coisa não é justa, eu continuo a ser monolingue em catalão e pronto! No dia em que houver igualdade de tratamento, falemos.
Estava a pensar num autor como Pere Gimferrer, que começou por ser poeta em castelhano e depois passou a escrever em catalão...
Sim, o caso de Gimferrer é claríssimo, podemos dizer que é um escritor bilingue. Como Eduardo Mendoza, que escreve teatro em catalão e os romances, pelos quais é mais conhecido, escreve-os em castelhano. Mas também não escolhemos uma língua, é a língua que nos escolhe a nós e que nos diz: para te sentires bem hás-de escrever na língua que tens dentro de ti.
O catalão é hoje institucionalmente discriminado positivamente na Catalunha, mas parece estar a retroceder socialmente. Qual pode ser a evolução deste problema?
Retrocede por duas razões. O processo migratório dos anos 60 para a Catalunha era espanhol e, se muitas dessas pessoas se integraram na língua, muitas outras não, e portanto houve um aumento da população falante do castelhano. Agora há a emigração dos países de Leste, da América Latina e de África, que funciona em detrimento da língua catalã porque, como se encontram num ambiente castelhanizado, essas pessoas agarram-se à língua mais poderosa, que é o castelhano, e isso cria problemas à expansão da língua catalã. Portanto, temos um problema grave. E é um problema grave na medida em que a Espanha, socialmente, não o considera como tal, porque a eles tanto se lhes dá. Não vêem como um drama que o catalão possa morrer. Mas a morte de qualquer língua é um drama, porque é a morte de uma maneira de entender e interpretar o mundo.
O catalão é uma língua sem Estado e esse é que é o problema?
Sim, e por isso, e por outras coisas também, sou independentista. O meu anseio, o meu sonho é a independência da Catalunha em relação a Espanha. Devíamos ter feito como Portugal, mas perdemos a guerra e vocês ganharam-na. É uma pena. Não tivemos essa sorte. É claro que, no contexto europeu, a maioria das línguas que não têm Estado estão em brutais dificuldades e talvez a que tenha mais força seja a catalã. Mas há línguas socialmente mais restringidas, como o esloveno, que é falado por dois milhões de pessoas, e que não têm problemas porque têm um Estado.
Que evolução poderá ter esse problema, do ponto de vista político?
Não sei, não sei... Sei que a independência é uma questão muito difícil, mas é uma questão que se põe e que se põe abertamente. E há partidos independentistas na Catalunha, tal como no País Basco. Proclamamos que todos os povos têm direito à autodeterminação. Sendo assim, os catalães, que também são um povo, também têm direito à autodeterminação.
Em "As Vozes do Rio Pamano", a personagem Tina acredita que a verdade não prescreve, mas o final do romance parece não lhe dar razão. Os cadernos com a "verdade" sobre Oriol desaparecem. É um final pessimista...
Porque a realidade é assim, é muito dura, e normalmente ganha quem tem o poder. Quem tem o poder não faz concessões. Frequentemente, os que exercem o poder não são nada bons - lendo os jornais, vemos isso - e portanto as pessoas mais inocentes são as que acabam perdendo. É isso que acontece a Tina. Trata-se da tergiversação da memória. Os cadernos de Oriol desparecem porque os que têm influência agem segundo os seus interesses, não segundo a ideia da verdade.
A história é sempre escrita pelos vencedores?
É isso mesmo. É outra coisa que aprendi escrevendo esta história. São sempre os vencedores quem escreve a história, portanto ela acabará por ser aquilo que os vencedores disserem que é. Se Oriol é um herói do franquismo é um herói do franquismo e ponto final, acabou-se. Porque o digo eu, que estou no poder. E a sua memória que vá para o diabo... É uma maneira dura de pôr as coisas, mas parece-me que é realista.
Oreste Zevola
A mão que estendes é o prolongamento da tua boca.
Os teus dedos, a
língua húmida escondida
na vergonha da fala;
tu não falas,
por pudor, receio;
apenas gesticulas com o coração
- vê-se nas pequenas gotas que iluminam o teu peito -
são as tuas palavras visíveis,
incandescentes
escritas por pequenos pontos
em redor dos teus mamilos, e
que, nas madrugadas de corpo perro,
se refugiam no teu umbigo
porque, enfim, já estás só na companhia do teu corpo,
o lugar onde as falas não precisam de ser
explicadas, gritadas, escritas.
O Prémio Pessoa 2008 foi atribuído ao arquitecto João Luís Carrilho da Graça «por ter desenvolvido uma actividade profissional com grande rigor e coerência», segundo anunciou o júri.
O prémio, atribuído anualmente a uma figura portuguesa que se tenha destacado na vida artística, literária ou científica do país, foi instituído em 1987 pelo jornal Expresso e pela empresa Unisys, e é constituído por um diploma e 60 mil euros.
Carrilho da Graça foi autor, entre outras obras, do edifício da Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa e do Pavilhão do Conhecimento dos Mares da Expo 98, actual Centro Ciência Viva, no Parque das Nações.
«Carrilho da Graça tem desenvolvido, ao longo de 30 anos, uma actividade profissional com grande rigor e coerência, criando uma linguagem própria que adequa a cada situação específica», diz o comunicado do Prémio.
Carrilho de Graça nasceu em 1952 e licenciou-se em 1977 pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. É professor em várias universidades portuguesas, entre elas a Universidade Autónoma, Universidade Técnica de Lisboa e Universidade de Évora e colabora com instituições internacionais. [diariodigital.pt]
Será que Deus não consegue compreender a linguagem dos artesãos?
Nem música nem cantaria.
Foi-se ver no livro: de um certo ponto de vista de:
terror sentido beleza
acontecera sempre o mesmo - quebram-se os selos aparecem
os prodígios
a puta escarlate ao meio dos cornos da besta
máquinas fatais, abismos, multiplicação de luas
- o inferno! alguém disse: afastem de mim a inocência
eu falo o idioma demoníaco.
Há imagens que se percebem: a do leão às escuras bebendo água
gelada, a imagem de uma pessoa com a mão gloriosa nas chamas
não pára de gritar mas não tira a mão do fogo
compreende-se? como se compreende?
é uma espécie de força absoluta. Há quem pinte cavaleiros luminosos
montados em cavalos azuis. Vão para a guerra, vão matar,
roubar, violar, Deus olha.
Sangue. Quais os problemas? Vermelho e azul, distribuição de formas, a beleza
e os seus segredos - o número, a razão do número
que tudo seja perfeito em coral e cobalto.
O caos nunca impediu nada, foi sempre um alimento inebriante.
O homem não é uma criatura entre mal e bem: falava-se com Deus
porque Deus era potência, Deus era unidade rítmica.
A mão sobre as coisas - cada coisa tem a sua aura, cada animal tem
a sua aura, como se pastoreiam as auras!
em transe: eu sou a coisa. Acabou.
Sento-me a conversar com Deus: palavra, música, martelo
uma equação: conversa de ida e volta.
Depois há gente que fala entre si, depouis é o medo, depois é o delírio.
Escuta a breve canção dentro de ti. Que diz ela?
Não move as coisas com as suas auras, nem tu nem a tua canção
pertencem ao mundo cheio, alma que sopra.
Nada se liga entre si, Deus não se debruça na canção; destroça
a cadência
- o demoníaco. Já não se vê um degrau
arrancar de outro degrau pelas lentas escadarias de mármore ao fundo.
A canção abandonou o seu espaço contínuo,
Que se pode fazer? - Apenas um encontro de objectos; um degrau, outro e outro degraus onde ninguém assenta o pé
e depois o outro pé - por onde se não sobe para assistir ao braço que torcendo
laçasse o corpo num umbigo incandescente, por onde ninguém
sobe para sentar-se ao órgão
e discutir em música as proporções? Aquele que disse:
eu tenho a temperatura de Deus - era um louco meteorológico.
Mas se afinal se entende que numa resposta
se oculta uma pergunta do mundo, mas
se afinal a substância
de alguém que pôs a mão no fogo é igual à substância do fogo
enquanto grita. A substância de um homem e de uma estrela; a mesma.
O poder de criar a canção, isso.
Bato na rosácea com o martelo
o rosto onde bate a rosácea roda voltado para cima -
Poema extraído do livro "A faca não corta o fogo", edição 1268 da Assírio & Alvim, Setembro de 2008
Há muito aclamado como um dos maiores poetas italianos de hoje, Elio Pecora só agora viu os seus poemas publicados em Portugal. Uma pátria que não dissocia do universo de Pessoa, que admira profundamente.
No discurso pausado e sereno do autor, que acaba de lançar pela Quasi uma recolha dos seus poemas, há uma palavra usada com mais insistência do que todas as outras: "trabalho". As alusões às musas e à inspiração divina são trocadas de bom grado por aquilo que considera ser o verdadeiro ofício de um poeta - "a busca da palavra exacta".
O recente vencedor do Prémio Internazionale Mondello lamenta que essa paciência detenha cada vez menos cultores, preterida por um frenesim na publicação que está longe de produzir resultados satisfatórios. "Escreve-se muito, lendo pouco e com pouca vontade de trabalhar. Noto muita inquietude nos jovens poetas. Com os anos, vamos aprimorando as nossas qualidades. A maior parte do que escrevo não publico, pois faz parte do processo constante de aperfeiçoamento".
O remoque à ânsia de reconhecimento que caracteriza os jovens autores de hoje não invalida que se mostre "optimista" com o número crescente de poetas, "apesar de este continuar a ser um género minoritário".
Publicado em 1970, "La chiave di vetro", o primeiro livro de poesia de Elio Pecora foi o momento em que se sentiu finalmente preparado. Por isso, não tem pejo em reconhecer que destruiu grande parte dos poemas anteriores a essa data, porquanto "foram uma simples aprendizagem".
Apesar de o seu caso particular o desmentir, defende que "um poeta não depende da idade" e cita como exemplo obrigatório Rimbaud, que "aos 18 anos já era um grande escritor". Tudo somado, Pecora diz reger-se por um regra simples: "Apenas acredito na qualidade da obra e não na idade".
É por advogar tal tese que afirma não se sentir distanciado face aos primeiros textos publicados. Já em 1997, quando recolheu num volume 20 anos da sua poesia, dizia duvidar da "cronologia de uma obra". E socorre-se de Dante, Goethe ou Pessoa como prova suprema de autores que, ao longo da obra, dissecaram um punhado restrito de temas. "Desde que comecei a publicar elegi a exactidão e a clareza da palavra como linhas fulcrais da minha poesia. Continuo a escrever porque entendo que hoje posso enunciar melhor o que penso e sinto".
A brevidade dos escritos de Pecora não é uma simples questão estética, mas antes um esforço deliberado para sintetizar em poucas palavras a complexidade do Mundo. Nos escritos mais recentes - o livro agora lançado reúne nove inéditos - perpassa uma atracção pelos mistérios existenciais que pode ser confundida, numa leitura apressada, com uma aproximação ao divino. Elio Pecora não concorda que possa ser considerado hoje um homem mais religioso, a menos que "entendamos por religião uma tentativa de compreensão dos mistérios do Mundo e da vida".
Em "Quadros citadinos", de 2007, há dois poemas intitulados "Despedida" e, na escrita descarnada do autor, não faltam alusões pontuais a "vazio", "angústia", "medo" ou "morte". Mesmo assim, o poeta descarta o tom sombrio da obra escrita nos últimos anos, atribuído por alguns críticos. "Há uma maior tranquilidade, não desencanto. Continuo um apaixonado da vida, mas estou mais consciente da sua finitude. Acredito, tal como Lucrécio ou Horácio, que nascer implica morrer, da mesma maneira que a glória pressupõe o fracasso. É a simetria perfeita da existência", proclama.
No prefácio da edição de "Poemas escolhidos", a professora universitária Maria Bochicchio alude à genealogia literária do autor, tão vasta que abarca poetas nacionais como Attilio Bertolucci e Dario Bellezza ou autores estrangeiros (Wittgenstein, Hölderlin, Eliot, Brodski ou Szymborska). O vencedor dos prémios Dessi ou Calliope admite que "não se pode escrever poesia se não estivermos a par do que se publica" e garante que, ainda hoje, continua "um leitor voraz".
Pese embora o prestígio acumulado em quatro décadas de publicação, é como divulgador de poesia que prefere ser citado. Além de organizador póstumo da obra de Sandro Penna, dirige a revista "Poeti e poesia", na qual divulga autores de todo o Mundo. "Três quartos do que escrevo é divulgação de poesia. Prefiro dedicar mais tempo ao estudo da poesia dos outros", confessa.
De Moravia a Pasolini, passando por Penna, o poeta privou com as mais insignes figuras da literatura italiana das últimas décadas. Com a maior parte estabeleceu relações de amizade duradouras que actualmente considera improváveis entre colegas do mesmo ofício, dado o clima de rivalidade que diz existir. "Naqueles anos, nas décadas de 60 e 70, Roma era uma cidade onde se discutia tudo abertamente e existia camaradagem. Tudo isso mudou. Se hoje disser a um jovem poeta que o livro que publicou não é nada por aí além, ganho um inimigo", desabafa, desgostoso.
Sobre a pujança da literatura italiana, Pecora prefere não alongar--se, mas considera preocupante que os autores procurem os filões comerciais mais atractivos, como acontece agora com os livros-denúncia, de que o exemplo recente mais notório é "Gomorra", do jornalista Roberto Saviano
Já está a funcionar a versão online do suplemento cultural do Público. Muito bom.
"Quem é que sabe o que é uma OCD?". Havia cerca de quatrocentos jornalistas de televisão na sala de conferências e à pergunta de Steve Sedgwick da CNBC ninguém respondeu. Eu estava lá. A questão tinha sido posta em Inglês. 'What's a CDO?'.
Depois de esgotado o minuto de embaraço Sedgwick, um especialista em jornalismo económico e financeiro, voltou à carga: 'Presumo que também não saibam o que é uma OCD ao quadrado…ou ao cubo? '. Não se sentiu o arrastar de pés do desconforto nem o silêncio que permitiria ouvir o tal alfinete a cair no chão porque o auditório do Hilton de Valência é alcatifado. Foi o próprio Sedgwick, um tipo irritantemente novo, irritantemente bem parecido e bem vestido, irritantemente sabedor e extraordinariamente sagaz a fazer entrevistas (o que irrita também) que nos deu a redenção: 'Não se preocupem muito. O Presidente de um dos maiores bancos multinacionais foi questionado sobre isto na Câmara dos Comuns e também não sabia'. Tinha sido no início da crise numa audição no parlamento britânico quando os bancos da City começaram a falir.
Numa áspera troca de argumentos o parlamentar inquiridor tinha confrontado o banqueiro com o facto de desconhecer um produto que o seu banco andava há anos a vender por todo o Mundo. Os jornalistas que participaram no seminário de Valência, além da lição de humildade de que a crise financeira tem que ser jornalisticamente mais bem tratada, receberam como bónus a informação do que é uma CDO ou uma OCD em português. É um dos tais produtos financeiros tóxicos que nos fazem perder empregos, ter fome e que durante uns anos enriqueceram obscenamente uma série de Donas Brancas por esse mundo fora. Tecnicamente definida como Obrigação de Dívida Colateralizada, na realidade traduz-se na manipulação dos ingénuos que acreditam em galinhas dos ovos de ouro ou, já que estamos em avicultura, confiam que o tal ovo que se supõe esteja no oviducto do galináceo mas ainda ninguém viu, acabe por sair na forma de uma omeleta de espargos. Depois o ovo não sai e aumentam-nos os impostos e tiram-nos os empregos e retardam-nos a pensão de reforma e fecham maternidades e escolas e esquadras de polícia. Estamos a viver em Portugal uma destas monstruosidades.
Preocupado com a crise financeira internacional o governo de Sócrates disponibilizou uma quantidade astronómica de dinheiro para "salvar o sistema". Todos assumimos que se tratava de apoiar algo que servisse o bem público. O primeiro acto detectado deste plano foi salvar, o Banco Privado que tem tanto a ver com o público como a Ferrari, a Bentley e a Louis Vuitton têm a ver com a Carris. Fiquei finalmente a compreender a lição do jornalista de economia em Valência. O Estado Português deu dinheiro à banca privada mas não se quis meter no Banco Privado. Seis bancos privados, por razões que a razão ainda desconhece "colateralizados" pelo Estado Português, dão ao Banco Privado o "colateral" para manter os interesses privados que representa salvaguardados. É de facto a tal dívida sobre dívida colateralizada ao quadrado de que falava Sedwick na conferência de Valência e nós não sabíamos o que era. Pelo menos uma coisa já sabemos agora. É que vamos pagar por ela.
Ensaísta e ficcionista, António Alçada Baptista, faleceu em Lisboa, aos 81 anos, admitiu ter na sua escrita uma sensibilidade feminina e ser dos poucos escritores que não tinha vergonha dos afectos.
"A minha obra escrita vende-se muito por uma razão simples, porque eu sou talvez o primeiro escritor que não teve vergonha dos afectos", disse um dia o escritor sobre a sua obra - ao todo 14 títulos - que percorreu o ensaio, crónica, novela e o romance.
Nascido na Covilhã em 1927, frequentou o colégio de jesuítas, onde foi profundamente influenciado pelo Cristianismo e por pensadores como Emmanuel Mounier e Teillard de Chardin, vindo a formar-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, e exerceu advocacia entre 1950 e 1957.
"A Pesca à Linha - Algumas Memórias", obra assumidamente de memórias e recordações, revelou o profundo sentido afectivo que caracteriza a escrita de Alçada Baptista, enquanto em "Um Olhar à Nossa Volta" deixou o testemunho de uma vivência colectiva registada na década de 70 e 80 marcada por inquietações político-sociais.
Mas foi com "Peregrinação Interior - Reflexões sobre Deus" (1971) e "Peregrinação Interior II - O Anjo da Esperança" (1982) que obteve a unanimidade da crítica e do público.
Da sua obra constam ainda "Documentos Políticos" (crónicas e ensaios, 1970), "O Tempo das Palavras" (1973), "Conversas com Marcello Caetano" (1973), "Os Nós e os Laços" (romance, 1985), "Catarina ou o Sabor da Maçã" (novela, 1988), "Tia Suzana, meu Amor" (romance, 1989) e "O Riso de Deus" (romance, 1994).
Em 1961 e 1969 foi candidato pela Oposição Democrática nas eleições para a Assembleia Nacional e, de 1971 a 1974, foi assessor para a Cultura do então ministro da Educação Nacional, Veiga Simão.
Funcionário da Secretaria de Estado da Cultura desde 1978, presidiu aos trabalhos da criação do Instituto Português do Livro, a que presidiu até 1986.
Recebeu das mãos do Presidente da República Ramalho Eanes a Ordem Militar de Cristo, em 1983, e a Grã-Cruz da Ordem do Infante entregue pelo Presidente Mário Soares, em 1995, de quem foi colaborador.
Escreveu inúmeras crónicas na rádio, na televisão e em diversos jornais e revistas.
Sócio da Academia Brasileira de Letras, da Academia das Ciências de Lisboa, e da Academia Internacional de Cultura Portuguesa, foi também presidente da Comissão de Avaliação do Mérito Cultural e administrador da Fundação Oriente. [notícias.sapo.pt]
Pink Floyd - Echoes
Astor Piazzolla (1921 - 1992) "Milonga Del Ángel"
O VII Simpósio, organizado pela Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e coordenado por Renzo Barsotti, será realizado, como habitualmente, na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira, no dia 20 de Dezembro, pelas 15h00. No âmbito do Ano Europeu do Diálogo Intercultural, o tema será o diálogo entre culturas.
Este simpósio, moderado por Carlos Magno, terá como conferencistas:
- Fernando Savater, filósofo
- Henrique Cymerman, jornalista
- Rui Pereira, Ministro da Administração Interna.
Aceitam-se inscrições até ao dia 17 de Dezembro de 2008, limitada à lotação do auditório da biblioteca municipal.
Para mais informações contacte, por favor, a biblioteca municipal através do telefone 256377030 ou e-mail: bibliotecasmf@yahoo.com.
22h00 - "A Festa da Menina Morta" de Matheus Nachtergaele
Sinopse:
Há 20 anos uma pequena população ribeirinha do alto Amazonas comemora a Festa da Menina Morta. O evento celebra o milagre realizado por Santinho, que após o suicídio da mãe recebeu em suas mãos, da boca de um cachorro, os trapos do vestido de uma menina desaparecida. A menina jamais foi encontrada, mas o tecido rasgado e manchado de sangue passa a ser adorado e considerado sagrado. A festa cresceu indiferente à dor do irmão da menina morta, Tadeu. A cada ano as pessoas visitam o local para rezar, pedir e aguardar as "revelações" da menina, que através de Santinho se manifestam no ápice da cerimônia.
POLITIZAÇÃO
"Politizar sem primeiro instruir provoca a intervenção do mais grosseiro rosto dos desejos humanos. Aparece a cupidez e a insolência, e por aí adiante."
Do livro "Dicionário Imperfeito" - edição Guimarães Editores, 2008
20h30 - Homenagem a Helena Ignez - A Canção de Baal
Sinopse:
Poeta e cantor, Baal é convidado por um mecenas para ter seu trabalho lançado internacionalmente. Porém, o artista recusa o convite de ascensão social com sarcasmo e bom humor. Escolhe uma vida outsider, de artista anárquico, gozador, que prefere a liberdade, zombando dos compromissos de uma vida social na qual não acredita.
22h00 - "A Erva do rato" de Julio Bressane
Sinopse:
Livremente inspirado em "A Causa Secreta" e "Um Esqueleto", de Machado de Assis, A Erva do Rato funde dois elementos dos contos: a relação do homem com a morte e a incompreensível relação que estabelece com os animais. Ele e Ela caminham por um cemitério à beira-mar. Os pronomes são seus nomes. Ela, professora, com o pai morto há apenas três dias, não tem mais ninguém no mundo. Diante de tal situação, Ele se propõe a cuidar dela enquanto for vivo. Este é o início de uma estranha relação.
Noticia a AFP que, para poder obter do Estado americano um crédito salvador, a Ford vai reduzir o salário do seu presidente executivo para 1 dólar… por ano. Henry Ford tinha dito em 1934, em plena Grande Depressão: "Deixem-nos falir a todos. Se eu ficar sem nada com o colapso do sistema financeiro, recomeçarei do princípio e construirei tudo de novo".
75 anos depois, num país distante (não, não é de África), não só os gestores de bancos falidos continuam a ganhar milhões, como um governo socialista entrega o dinheiro dos contribuintes como garantia para salvar as fortunas de meia dúzia de milionários que fizeram um banco para especular na Bolsa e investir em aplicações de alto risco que deram para o torto. "Servir a nossa economia e as famílias", foi o motivo com que Sócrates justificou os apoios do Estado à banca. O BPP não tem balcões nem dá crédito a particulares ou empresas, apenas gere fortunas de uma elite financeira com nomes como Rendeiro, Ferreira dos Santos, Saviotti, Balsemão, Vaz Guedes, Júdice, etc.. São as fortunas de tais "famílias" que os nossos impostos vão agora garantir.