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Ricardo Marques escreve sobre o legado pessoano na revista STORM
DEAMBULAÇÕES PELO LEGADO PESSOANO, NUM ANO DE COMEMORAÇÕES Enganemos o leitor, e esquivemo-nos tal como o faria Pessoa, deixando esta longa citação para o fim. A ela voltaremos depois de terminado o arrazoado. Escritas há vinte e cinco anos, as seguintes palavras de Fernando J. B. Martinho parecem proféticas nos dias de hoje: |
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O Goncourt 2008 foi hoje atribuído a Atiq Rahimi por Syngué sabour. Pierre de patience. Desenvolvimentos aqui e aqui e entrevista aqui.
Cantora morreu no final de um concerto de apoio ao autor de 'Gomorrah'
Roberto Saviano escreveu Gomorrah, livro publicado em 2006 que expôs detalhes e segredos da Camorra, a máfia napolitana. As mesmas páginas foram transformadas em filme já este ano e Saviano acabou ameaçado pelas organizações criminosas da cidade italiana. Miriam Makeba, nome maior da música sul-africana e activista pelos direitos humanos, esteve em Itália para um concerto de apoio ao jornalista-escritor. Após a actuação, Makeba foi vítima de um ataque cardíaco. Acabaria por morrer, com 76 anos.
Nelson Mandela figurava entre os nomes que apelidavam Miriam Makeba de "Mama Afrika", título garantido pela voz incansável tanto no canto como na denúncia. Na verdade, o seu desaparecimento seria sempre motivo de notícia, e não apenas porque associada a uma controversa aparição pública que levou os meios de comunicação de todo o mundo a procurar eventuais teorias conspirativas. Mas a sustentação de tais hipóteses faz-se de fragilidades. Para a história fica o percurso de uma cantora convicta da transformação latente nas canções que interpretava. Mesmo a sua última prestação em Caserta, quis lembrar que, naquela localidade, foram assassinados seis imigrantes originários do Gana - a autoria do massacre está associado às associações criminosas descritas no livro de Roberto Saviano.
Miriam Makeba mostrou os primeiros sinais de uma vincada personalidade artística na década de 50, quando o bairro de Sophiatown, nos subúrbios de Joanesburgo, atraía os cosmopolitas mais curiosos pelas manifestações artísticas. A segregação imposta pelo regime de apartheid acabou por afastar os negros dos circuitos culturais, mas aquela que seria mais tarde rebaptizada como a "imperatriz da canção africana" encontrou a melhor forma de dar continuidade à sua vontade artística. Encontrou a parceria perfeita com Hugh Masekela, o trompetista que a influenciou em definitivo a desenvolver a linguagem musical que melhor a serviu: um cruzamento entre a tradição africana e o jazz.
Come Back, Africa, documentário revelado em 1959, transformou Miriam Makeba num símbolo da luta antiapartheid. Ao mesmo tempo, foi--lhe negada a entrada na África do Sul durante os 30 anos seguintes. Colaborações assinou-as com nomes tão distintos como Dizzy Gillespie ou Paul Simon. As distinções surgiram tanto de John Kennedy como das Nações Unidas. A autora de títulos como Pata Pata, The Click Song ou Malaika estava em digressão pelo mundo desde 2005, naquela que tinha já sido anunciada como a sua tour de despedida.
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Os professores portugueses parecem ter ganho o gosto às avaliações, e 120 mil (há oito meses foram "apenas" 100 mil) avaliaram de novo a ministra e a "sua" avaliação. Depois do milagre estatístico da Matemática, Lurdes Rodrigues conseguiu proeza ainda mais improvável, a da unanimidade dos professores. Se isso não chega para a sua beatificação - que Sócrates tem em marcha - vou ali e venho já. 120 mil professores na rua (uns "míseros votos", como lhes chamou Sócrates) contra o naufrágio do sistema educativo e o pesadelo burocrático em que foi transformada a sua profissão, e gritando "deixem-nos ser professores" não é sinal de descontentamento, é algo mais profundo.
Ou deveria ser, para quem tivesse um mínimo de humildade democrática e não confundisse firmeza com auto-suficiência e poder com mando. Se a passagem de Lurdes Rodrigues pelo ME constitui um "study case" de incapacidade técnica e autismo político, a reacção praticamente unânime dos professores em defesa da dignidade da profissão docente é um exemplo de cidadania activa cada vez mais raro no "país em diminutivo" em que nos tornámos.
foto de alberto viana d'almeida
Sentada na raiz do pessegueiro
esperas que a lua amadureça.
olhas o livro
olhas as horas
olhas o sol
olhas as sombras
olhas o fim-de-tarde
olhas o início da noite
olhas o início do fim
e continuas sentada à
espera da lua cheia
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O fato de bom corte assenta-lhe como se fosse parte de si. Um centímetro da manga da camisa engomada a rigor sai do casaco e deixa ver um discreto traço dourado de um botão de punho antigo. O nó da gravata de riscas conservadoras comprime-se na precisão de um homem que sabe tomar conta de si contra um colarinho imaculado que parece de porcelana. 'Quer ficar junto da janela?'. 'Sim por favor.'.'O seu empregado vai trazer-lhe já o café e o sumo de laranja'. E com uma cortesia simples, sem servilismos nem intimidades, puxa-me a cadeira e abre-me um guardanapo. Quando se afasta noto que o fato cinzento-escuro com uma risca fina lhe cai com o rigor da postura rígida quase sem rugas sobre uns sapatos castanhos bem engraxados. Seis e meia da manhã, a sala de jantar está ainda vazia. O maître volta a aproximar-se da minha mesa. Olha para a credencial de imprensa que tenho ao peito e diz-me que já foi jornalista de rádio mas que se reformou e 'na América, nestes tempos, os reformados têm que trabalhar'. Pergunta-me se venho para as eleições. 'Vão ser cruciais', adverte-me. Concordo e ele apresenta-se. 'O meu nome é Mr. Derryl'. 'Prazer, o meu é Mário Crespo'. 'Pensando bem, se Obama ganhar estas eleições é como se a marcha de Luther King pelos direitos cívicos de 1964 tivesse chegado ao fim…Este voto é decisivo Mr.Crespo'. 'Creio que sim'. Despeço-me. 'Boa sorte para amanhã Mr. Derryl'. 'Para si também, Mr. Crespo'. Sigo rumo aos meus destinos, da busca de palavras curtas, medidas ao segundo para contar as evoluções de milénios, revoluções de séculos e estados de espírito que não se conseguem medir nem descrever bem. Votou-se nessa noite. Obama ganhou. Washington explodiu numa madrugada de euforia incontida de centenas de milhar de jovens de todas as raças. Desfilaram buzinando carros e convergiram sobre a Casa Branca, que estava já com as luzes apagadas. Desligam-nas normalmente à meia-noite e os actuais ocupantes não acharam que o momento merecesse qualquer excepção às rotinas. A noite estava muito escura. Entre cânticos de espirituais negros, tambores e latas batidas aos ritmos sempre imprevisíveis dos comboios da história, milhares comprimiram-se contra o gradeamento da residência presidencial e fizeram o ruidoso exorcismo das trevas durante horas. Filmei e falei. Senti um nó na garganta em depoimentos mais expressivos e ri com gosto num ajuntamento maior quando me abraçaram e quiseram entrevistar-me, a mim. E senti aquelas euforias e nostalgias súbitas de estar a viver a história numa ocasião irrepetível. Na manhã seguinte, novamente muito cedo (a diferença de cinco horas é impiedosa) fui tomar o pequeno-almoço. O maître continuava impecável, ostentando talvez um subtil sinal de alegria. A mesma gravata imaculada, o mesmo nó preciso. Em vez das riscas de clube inglês era do azul eléctrico, que é a cor dos Democratas. 'Congratulations Mr. Derryl'. 'Foi uma noite notável Mr. Crespo' e sem intimidades nem servilismo afastou-me a cadeira e abriu-me o guardanapo.
fotografia de alfredo de almeida coelho da cunha
O rio é espesso.
cego.
sujo.
sofrido.
magoado.
cansado de correr com a morte dentro.
Uma película densa,
uma pele grossa
com cicatrizes profundas de acne
asfixiam-no e
desiste de respirar
e também esmagado pelas
margens oblíquas e obtusas de
salgueiros mirrados.
Porque as raízes já cegas
não se olham
no espelho cego
do rio.
Quando te chamei
estavas suspensa entre
dois novelos de nuvens.
O teu corpo baloiçava
por entre os soluços do vento
e do tempo,
todo o teu corpo, o pêndulo,
os teus seios, ponteiros de
arrependimentos tardios e
o teu sexo, o lugar
de todos os esquecimentos.
Kurt Elling - Nature Boy - Jazz and Orchestra
Sonny Rollins - My One and Only Love
As mulheres têm uma assombrada roseira
fria espalhada no ventre.
Uma quente roseira às vezes, uma planta
de treva.
Ela sobe dos pés e atravessa
a carne quebrada.
Nasce dos pés, ou da vulva, ou do ânus -
e mistura-se nas águas,
no sonho da cabeça.
As mulheres pensam como uma impensada roseira
que pensa rosas.
Pensam de espinho para espinho,
param de nó em nó.
As mulheres dão folhas, recebem
um orvalho inocente.
Depois sua boca abre-se.
Verão, outono, a onda dolorosa e ardente
das semanas,
passam por cima. As mulheres cantam
na sua alegria terrena.
Que coisa verdadeira cantam?
Elas cantam.
São fehadas e doces, mudam
de cor, anunciam a felicidade no meio da noite,
os dias rutilantes, a graça.
Com lágrimas, sangue, antigas subtilezas
e uma suavidade amarga -
as mulheres tornam impura e magnífica
nossa límpida, estéril
vida masculina.
Porque as mulheres não pensam: abrem
rosas tenebrosas,
alagam a inteligência do poema com o sangue menstrual.
São altas essas roseiras de mulheres,
inclinadas como sinos, como violinos, dentro
do som.
Dentro da sua seiva de cinza brilhante.
O pão de aveia, as maçãs no cesto,
o vinho frio,
ou a candeia sobre o silêncio.
Ou a minha tarefa sobre o tempo.
Ou o meu espírito sobre Deus.
Digo: minha vida é para as mulheres vazias,
as mulheres dos campos, os seres
fundamentais
que cantam de encontro aos sinistros
muros de DEus.
As mulheres de ofício cantante que a Deus mostram
a boca e o ânus
e a mão vermelha lavrada sobre o sexo.
Espero que o amor enleve a minha melancolia.
E flores sazonadas estalem e apodreçam
docemente no ar.
E a suavidade e a loucura parem em mim,
e depois o mundo tenha cidades antiga
que ardam na treva sua inocência lenta
e sangrenta.
Espero tirar de mim o mais veloz
apaixonamento e a inteligência mais pura.
- Porque as mulheres pensarão folhas e folhas
no campo.
Pensarão na noite molhada,
no dia luzente cheio de raios.
Vejo que a morte se inspira na carne
que a luz martela de leve.
Nessas mulheres debruçadas sobre a frescura
veemente da ilusão,
nelas - envoltas pela sua roseira em brasa -
vejo os meses que respiram.
Os meses fortes e pacientes.
Vejo os meses absorvidos pelos meses mais jovens.
Vejo meu pensamento morrendo na escarpada
treva das mulheres.
E digo: elas cantam a minha vida.
Essas mulheres estranguladas por uma beleza
incomparável.
Cantam a alegria de tudo, minha
alegria
por dentro da grande dor masculina.
Essas mulheres tornam feliz e extensa
a morte da terra.
Elas cantam a eternidade.
Cantam o sangue de uma terra exaltada.
Poema de Humberto Helder, extraído do Livro "A faca não corta o fogo", edição 1268, Setembro de 2008, da Assírio & Alvim,
Por baixo do silêncio há
uma inquietação que se
esconde sob a luz do abat-jour.
Pequenas sombras, átomos de pó,
explicam a história
de pensamentos pendurados na cabeça
e esquecidos no coração.
Se te encontrasse, agora, na paisagem
nocturna dos fantasmas da cidade,
contava-te dos nossos pobres versos
no teu rasto de sombra e claridade
Contava-te do frio que há em medir
a distância entre as mãos e as estrelas,
com lágrimas de pedra nos sapatos
e um cansaço impossível de escondê-las
Contava-te - sei lá! - desta rotina
de embalarmos a morte nas paredes,
de tecermos o destino nas valetas
De uma história de luas e esquinas,
com retratos e flores da madrugada
a boiarem na água das sarjetas.
Diniz Machado,
13 de Fevereiro de 1994
Soneto oferecido a José do Carmo Francisco por ocasião do seu 47º aniversário
Ah!... aquela música...
já a tinhas esquecido,
e o cheiro a canela e violetas em cada nota.
e sentes a respiração da pele
vestida de organza preta
das margens do rio Yangtze e
abraças cada gesto da batuta
e danças suavemente
desenhando sonetos
no chão.
alexandra de pinho
Princesinha,
olhos cor do céu
pintados no verde do mar.
O sol que amadurece o dia
nasce no princípio do teu corpo
em forma de searas loiras
dançando uma valsa com o vento.
Vestida de branco,
o teu coração protege a
vida dos outros
em tempo de morte
e silêncios sofridos e
adormeces as suas mágoas,
as feridas do corpo,
as rugas da alma,
com um sorriso
terno
redentor
apaziguador
Às vezes, por breves instantes,
a beleza habita sobre a terra,
tão urgente e impronunciável
como o rosto em trompe l’oeil
na abóbada da igreja de São Roque.
Com isto, estarei talvez a fazer
a mesma triste figura da rapariga espanhola
que ao meu lado rabiscava poemas
dialécticos – «Argumentos» e Contra-
Argumentos» velozmente incinerados
pela fundamentação física do génio.
Nós, poetas, só escrevemos disparates.
A beleza, dizia eu. Mas os meus pés,
o seu indiscutível peso sobre a terra,
coincidiam com o mármore da sepultura
número 44 (dois terços de paixão, outro de pó).
E aquele homem ajudava-nos a morrer
melhor.
LEONARD COHEN, 1979
Era bem claro, nessa noite,
o quanto a sua música
se afastava de «other forms
of boredom advertised as poetry»,
denúncia que se mantém válida.
Não serão bússolas duradouras
– tudo, enfim, falece –,
mas são palavras que nos protegem
da avalanche dos dias e dos meses,
destas poucas horas a que chamamos nossas.
Uma maneira de voltar a morrer?
Talvez,
quando até nas cinzas encontramos lume.
PINA BAUSCH, 2008
Müller,
Café Müller.
A morte sabe onde fica.
[in Jukebox 2, de Manuel de Freitas, Colecção Poesia Portuguesa Contemporânea, Teatro de Vila Real, 2008]
A penumbra alberga-se no coração
mas não é triste
às vezes melancólica
apenas saudades do sol -
pequenos filamentos que deslizam por
um declive mínimo até
encontrar a nossa pele.
São agricultores, costureiras e domésticas no dia-a--dia, mas, de tempos a tempos, sobem ao palco e durante umas horas passam a ser actores e tudo o que não podem ser na vida normal.
Estamos no propalado Portugal profundo e é aí que reside a companhia ‘ComoDEantes’, em Quiantandona,Penafiel, uma das aldeias preservadas de Portugal. Até o presidente, Cavaco Silva, numa das presidências abertas, já por ali passou e não lhes poupou elogios.
O CM assistiu, anteontem, a uma actuação deste grupo de vinte actores. A peça em cena é ‘Eu voo para a América’. É ao ar livre. Faz frio, muito frio. Mas quem gosta aguenta e o espectáculo, de tão genuíno, deixa a sua indelével marca. Assistimos a uma história em que a ganância é a força motriz para que os acontecimentos se sucedam e tem origem nas mais entranhadas histórias populares portuguesas.
"É uma história que a minha avó com 85 anos diz que a sua avó lhe contava e remonta ao séc. XVIII, quando começaram a surgir os primeiros engenhocas a tentar construir aviões. É originária da zona de Vila Nova, Marco de Canaveses", contou ao CM o único profissional da companhia, Pedro Soares, no papel de encenador.
"Começo por juntar o grupo à volta de um gravador e conto uma história. Todos vão participando e acrescentando outras histórias paralelas, que têm raízes na cultura tradicional, até termos a história", afirmou o encenador.
O fim da história não se deve já contar, mas nesta peça, que até tem um coro como nas tragédias gregas, não há propriamente um final feliz.
Maria Filomena Mónica esteve ontem na Fnac do Chiado, em Lisboa, para apresentar o seu mais recente trabalho, ‘Nós, os Portugueses’, editado pela Quasi.
A compilação de crónicas espalhadas pela imprensa, agora em formato de livro, passa em revista a identidade do País, daqueles que o habitam e até da própria autora.
"A minha experiência pessoal é a base deste trabalho. É a partir dela que tento construir um quadro alargado de traços, positivos ou negativos – enfim, quase todos negativos mas isso é porque eu sou uma pessimista", disse ao CM, antes de se juntar ao cronista João Pereira Coutinho, na apresentação oficial.
"É um retrato subjectivo do que são os meus compatriotas", resume a autora de ‘Nós, os Portugueses’ antes de fazer uma revelação. "Nem vou muito em fados mas partilho com a canção nacional uma nostalgia característica, ou seja, tenho uma visão pessimista da vida", afirma.
Doutorada em Sociologia, com larga experiência em investigação, Maria Filomena Mónica explica a lucidez do método na origem dos artigos que dão corpo aos seus livros, e sobretudo a este: "A disciplina académica ensinou-me a olhar as sociedades, nomeadamente a minha, com a precisão de uma lente sobre um pormenor singular a fim de dar a conhecer uma característica nacional"
Notícia - Correio da Manhã
A viagem do elefante, o novo livro de José Saramago
Símbolo dos republicanos, o elefante está hoje na mó de baixo. Amanhã, porém, volta a animar-se, quando a capa amarela e roxa do novo romance de José Saramago (A Viagem do Elefante) começar a invadir as livrarias portuguesas. O escritor dá hoje uma entrevista ao Diário de Notícias em que explica como é que os gravíssimos problemas de saúde sofridos no último ano não o impediram de escrever «um livro feliz e irónico» (ver aqui, aqui e aqui).
Tal como eu já intuira ao ler o livro, Saramago confessa ter sublimado a experiência de estar à beira da morte numa sequência em que uma personagem se perde da caravana, fica perdida no nevoeiro e só regressa ao ouvir os bramidos do elefante, que mais ninguém ouve
O escritor italiano Sandro Veronesi foi hoje distinguido com o Femina de romance estrangeiro pelo livro Caos Calmo, lançado este ano em Portugal (ASA). Na categoria de autores franceses, o prémio será entregue a Jean-Louis Fournier pelo romance Où on va papa?.
José Riço Direitinho escreveu sobre Caos Calmo na edição de Setembro da LER.
Pietro Paladini, o personagem principal deste excepcional romance de Sandro Veronesi (n. 1959, Florença), tem 43 anos e é director de um canal privado de televisão em Milão. Num dos últimos dias das férias estivais salva uma desconhecida de morrer afogada. Atónito por não ter ouvido nenhuma palavra de agradecimento, Pietro encaminha-se para casa. Ao chegar, Lara, a mulher com quem, após anos de coabitação, iria finalmente casar daí a dias, acabara de morrer. Depois deste começo agitado, e perturbante pela simultaneidade dos acontecimentos e pelas descrições vívidas, Sandro Veronesi entra verdadeiramente na «ideia» que o romance encerra; e o feliz oxímoro que o titula, «caos calmo», pode resumir todo um catálogo de preocupações e de fantasmas do ser contemporâneo. E fá-lo, de facto.
Pietro e a filha, Claudia, dias depois do funeral de Lara, que se realiza no mesmo dia para o qual o casamento estivera marcado, tentam retomar as suas vidas quotidianas. Estranhamente (esta estranheza mantém-se até ao final do livro), a morte parece não os ter afectado. Mas Pietro sabe que isto «não é normal», que a «cacetada» que os deitará abaixo poderá vir quando menos a esperarem. E, por precaução, decide deixar-se ficar durante esse dia diante da escola, dentro do carro, ouvindo Radiohead («we are accidents waiting to happen») ou dando uns passos por ali, para que quando a «cacetada» chegar não o encontre entre faxes e reuniões. No dia seguinte faz o mesmo, e no outro e no outro. O que começou como uma precaução torna-se num hábito que durará até ao dia em que a filha o «obriga» a descobrir o valor da sinceridade.
Sandro Veronesi – que com este romance, premiado com o Strega 2006 e com o Mediterranée 2008, se tornou provavelmente no mais importante autor italiano da sua geração – consegue manter a delicada estrutura que lhe permite reflectir intensamente sobre temas como a morte, sofrimento, amor, fidelidade e loucura. O caos calmo que subjaz toda uma sociedade vai desfilando diante do leitor à medida que vários personagens (o patrão de Pietro, o irmão, a cunhada, etc.) o vão visitando diante da escola, não para lhe expressarem as suas condolências mas para lhe confessarem as suas inseguranças e frustrações; o carro transforma-se assim numa espécie de divã e de confessionário da nossa contemporaneidade.
Com registos como o e-mail, a prosa erótica «dura», o monólogo e o diálogo, Caos Calmo é um magnífico retrato geracional e um dos melhores romances por cá publicados este ano.
Sandro Veronesi, Caos Calmo. Traduzido do italiano por Regina Valente. ASA, 396 páginas.
Post extraído da Revista Ler
Poemas de Caravaggio, de Amadeu Baptista, venceu por unanimidade a primeira edição do Prémio de Poesia João Lúcio, criado pela Câmara Municipal de Olhão (júri constituído por Nuno Júdice, Fernando Cabrita e Pedro Ferré). O livro, publicado pela Cosmorama, já tinha sido distinguido com o Prémio Nacional de Poesia Natércia Freire.
Há poucas semanas, Amadeu Baptista venceu igualmente o Prémio Literário Oliva Guerra 2008, atribuído pela Câmara Municipal de Sintra, com o livro Doze Cantos do Mundo.
Obama, o novo presidente.
Títulos de jornais portugueses:
Videoclip: "Yes we can" - o hino » Vídeo: A eleição e a revolução tecnológica nas televisões » Obama: "A mudança chegou à América" » Áudio: Discurso de vitória » Obama: o mundo a seus pés » Áudio: McCain felicita Obama » Vídeo: Democratas no Ohio em festa » Vídeos: o JN acompanhou as eleições com americanos no Porto e em Lisboa » Áudio: comentário de Elmano Madail, nos EUA » Fotogaleria: Da expectativa à vitória » Dossiê Especial EUA » Blogue do enviado especial JN » 'Demorámos muito tempo a chegar até aqui, mas esta noite, a mudança chegou à América', afirmou Obama, que subiu ao palco na companhia da esposa, Michelle, e das filhas. Num discurso tranquilo mas recheado de significado, o primeiro presidente negro da História dos EUA recordou a sua avó, que faleceu no dia anterior às eleições, agradeceu o apoio da esposa, que disse ser 'a pessoa mais importante da sua vida', e felicitou McCain, lembrando o seu 'sacrifício pela América'. Obama não esqueceu no seu discurso os soldados no Iraque e no Afeganistão, nem a crise que ameaça a economia dos EUA, tendo pedido a todos os americanos, democratas e republicanos, para se unirem neste momento difícil: 'A vitória não é dos estados azuis nem dos estados vermelhos, mas sim dos Estados Unidos da América', frisou. 'O caminho será longo e íngreme. Podemos não chegar lá num ano ou sequer num mandato, mas nunca tive tanto a certeza, como tenho hoje, de que lá chegaremos', afirmou ainda, antes de terminar o discurso com o lema da sua campanha: 'Sim, podemos'. Presidente Obama
Jornal Correio da Manhã
Obama discursa perante 125 mil apoiantes
"A mudança chegou à América"
"Se alguém duvidava de que neste país todos os sonhos podem ser realizados, se alguém duvidava do poder da democracia, esta noite tiveram a sua resposta". Foi com estas palavras que o novo presidente norte-americano, o democrata Barack Obama, iniciou ontem o seu discurso de vitória perante mais de 125 mil apoiantes reunidos no Grant Park de Chicago.
Quem comete um erro é excluído; é fechado dentro de uma caixa. Quem está fora vê apenas a caixa. Mas quem está fechado, excluído, consegue ver cá para fora. Vê tudu, vê-nos a todos.
Em cada compartimento há dezenas de caixas. Milhares de caixas por todo o lado. A maior parte delas vazia. Outras têm lá dentro pessoas excluídas. Ninguém sabe quais as caixas que têm pessoas.
As caixas são tantas que ninguém lhes dá importância. Pode estar lá uma pessoa, atá a que amas, mas não olhas. Já não produzem efeito. Passas por elas centenas de vezes.
Do livro JERUSALÉM, de Gonçalo M. Tavares, edição Caminho
Aretha Franklin
Otis Redding - arms of mine
YES -Soon
King Crimson - Epitaph