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"A barca desliza pela água com extrema suavidade. Mais do que golpear a água, os remos pensam-na, saboreiam-na. E a água, mais do que tolerar, recebe o suave peso. De tanto pensar a água, de puro norte, a barca está desorientada.
Madeira e água desejam-se."
Do livro "A Tábua das marés" de Menchu Gutiérrez
"Voltei então a casa e escrevi:
É meia-noite. A chuva fustiga as vidraças.
Não era meia-noite. Não chovia."
BECKETT, Molloy
O recado era muito simples, fácil de recordar. Era uma frase curta fácil de memorizar, não podia esquecer. Tinha sujeito, predicado, complemento, advérbios, nomes que me ensinaram há muito tempo para analisar frases de um texto. Hoje têm nomes diferentes, penso eu; mais complexos, mais amargos, mais rudes de aprender. E o recado que me tinham dado era curto, muito curto, fácil de memorizar: "O gato, quando chove, gosta de comer erva".
"Não sou nada
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"
Álvaro de Campos - Tabacaria
A estátua é apenas uma lembrança:
Um hino ao efémero desenhado em pedras de calcário.
"O que é o tempo? Se não me perguntarem o que é o tempo, eu sei. Se me perguntarem o que é, então não sei"
Santo Agostinho
"Then I felt like some watcher of the skies
When a new planet swims into his ken:
Or like stout Cortez when with eagle eyes
He stared at the Pacific - and all his men
Look'd at each oher with a wild surmise -
Silent, upon a peak in Darien."
John Keats - Ao primeiro olhar sobre Homero de Chapman
Gosto que gostes de mim e os
teus dedos espreitem o meu coração.
A pedra esconde a erva
A erva esconde a toca
A toca esconde o grilo.
A lua engana o dia
O dia engana a noite
A noite engana o medo.
A roupa esconde a pele
A pele esconde a alma
A alma esconde a dor.
A lágrima esconde a raiva
A raiva esconde o medo
O medo esconde o medo de ter medo.
Os combustíveis sobem ( o preço desceu para depois mais alto subir); o pão sobe, não no tamanho, mas no preço; o peixe ficou feliz por poder ainda navegar; a Manuela Ferreira Leite é a nova lider do seu partido e o Pacheco Pereira, no seu blog, ilustra o seu contentamento, com uma dedicatória "Para a Manuela" por baixo de uma natureza morta (bastante comovente e ilustrativo).
O governo está sob fogo cerrado, mas felizmente o futebol vai começar. Uf!! Que alívio.
As televisões massacram-nos com as peripécias da preparação da selecção portuguesa de futebol para o Campeonato da Europa que começa este mês na Suíça e na Aústria.
Mostram-nos, como se todos nós quisessemos assumir o papel de voyeurs, as grandiosas, magnânimas e interessantes vidas públicas e privadas dos intervenientes no espectáculo.
Ao pegar, por acaso, no livro de João Aguiar, "O navegador Solitário", abri, também por acaso, o livro na página 128 que tem o seguinte parágrafo:
(...) "O futebol, explica a Teresa, transformou-se na via pela qual a democracia e a própria sociedade de desagregam. A democracia embruteceu-se em demagogia, com os políticos a fazer públicas masturbações ao desporto-rei (palavras textuais de Teresa), com a agravante de nesse contexto se escrever desporto sem aspas, o que é um logro porque o futebol há muito que se transformou em espectáculo de massas, ritual para extravasar frustrações e concelebração de violência - o futebol é tudo isso mas não é desporto. E os políticos vergam-se e quem nos governa são afinal os dirigentes dos grandes "clubes" que também precisam de aspas porque deixaram de o ser para se tornarem seitas, dotadas até dos seus bandos de fanáticos e cujo objectivo é o poder e o dinheiro.''