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EM BERLIM
Outro modo de andar, outras vozes de chuva aqui.
Não ressoa o bronze do trovão das minhas montanhas,
nem regressa o seu eco ensurdecedor
a golpear-me outra vez e mais outra vez...
Tem um não sei de quê o caminho aqui, o voo da chuva...
O calor que sobe do corpo desta mulher molhada,
as pombas em Kurfurstendamm,
igrejas e templos feridos pelas guerras.
Aqui se derrama uma alma imensa, e macia, de chuva,
e cai sobre mim, como sobre uma oliveira verde
que caminha, sentindo como as suas raízes
- como no sul - se enterram para se irem nutrir
entre antigas necrópoles.
PARA PENÉLOPE
Não terminaste ainda de tecer a teia, Penélope.
Ulisses ainda não voltou de Tróia,
sempre errante pelas ilhas do tempo...
Poi se chegar a tocar Ítaca a pedregosa
com o sangue dos Pretendentes semeará a
terra.
Continua então a tecer, Penélope.
O bater do teu tear
é eterno grito entre as ondas do Jónio.
Tu, não te canses, não cedas, ó mulher.
Precisamos de um sonho de sonhar,
e mesmo ele, o amor,
se alimenta só da nossa inocência.
Não me desmintas, Penélope.