Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
MAS QUE SUCEDE COM O PRAZER
Nunca imaginei ficar tão sem nada
e a ter de pensar em começar de novo.
Resta-me apenas o teu rosto nas crianças
e um ou outro episódio antes de te conhecer:
Não tenho nenhum porto de saída nem de chegada,
queimei todas as minhas naus para largar contigo
e tudo o que fomos comigo terá morrido;
mas entretanto
que sucede com o prazer,
com a ternura que sem ti é puro regatear
e é sentir-se livre para a mudança
e a procura é luta no meio dos saldos?
TAL A SALIVA DE TER SIDO
Faltam-nos braços e palavras,
noites horizontais de que ainda sabemos pouco,
e saber que entre a morte
e a pressa da névoa ao desvanecer-se
há-de ficar alguma lembrança consistente de ter sido.
Escrevo-te agora porque sei que amanhã
nunca acabaria tudo isto
que se estende sobre ti porque é saliva.
Observa a luz, da varanda,
e vê a névoa caída nesta casa
onde entre lençóis prolongo a última palavra sábia:
eco inútil deste ponto onde mora
uma fugaz febril memória de amor e de cinza.