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A Europa em Lisboa
O amor "libertou-se" da prisão de Amor
Olha: fica esse belo vazio
do amor esvaziado o lenço de mármore
que a amante agitava ao oceano agitado
ou à cativa amante um trovador cativo
E agora descreve o castelo de água pétrea
O castelo de gávea capitaina
Que fez renascentistas pensarem feudalismos
Voto cumprido de um príncipe cumprindo o verso de Gôngora
"de uma torre de vento delgadamente erguida"
E agora
O sereno tapete do Tejo estirado retira-se a seus pés
E também o saber se retirou
Como um refluxo sob a secura ignara
Em que as novas despejam uma espuma de datas
Da torre de Belém à torre de Stephen
Não quero pôr em causa o sentido da visita
Que o passe cultural poliglota autoriza
Nessa gaiola fui atrás da mulher da limpeza
A quem incumbe zelar pelo vazio bem vazio
Amarrar favores da pedra ao terceiro patamar
E arrumar turbantes, de pedra, escudos, de pedra,
de sultão, de cruzado
abrir caminho à volta
do Amor que não regressará
Lisboa, 1993
Poema de Michel Deguy traduzido por Vasco Graça Moura