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As pálpebras
inclinadas sobre lenços de partidas -
bandeiras de vidas doridas -
lágrimas que rolam até à doca
e perdem-se no silêncio rancoroso do metal.
frio, indiferente
como a saudade que restará embrulhada,
para sempre, em ventres
sem desejo ou vontade.
E, o vapor já ronca
em suspiros de grosso fumo
carregando no seu ventre
demónios e fantasmas que,
antes de o serem,
eram oliveiras e carvalhos,
montes,
um casario em ruas de gargalhadas
e afectos
e miudagem,
e murmúrios,
e seios que ardiam as mãos,
a banda no coreto.
os domingos.
E, hoje é domingo.
poderia ser outro qualquer.
ou não ser nenhum.
já não importa se os dias somam meses,
se as estações têm nome,
frio,
chuva
ou calor.
A rua está despida,
nua
frágil
severa.
as casas envelheceram
as flores murcharam em hortas magoadas;
apenas raízes,
grandes
grossas
tentaculares,
esganam a cor do sol
e uma névoa densa, espessa,
aprisiona e definha
as bocas dos que não partiram.