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#3355 - LIVROS - MANIAC

Um Livro do Escritor Chileno Benjamín Labatut

por Carlos Pereira \foleirices, em 09.03.24

 

Maniac é uma obra de ficção baseada em factos reais que tem como protagonista John von Neumann, matemático húngaro nacionalizado norte-americano que lançou as bases da computação. Von Neumann esteve ligado ao Projeto Manhattan e foi considerado um dos investigadores mais brilhantes do século XX, capaz de antecipar muitas das perguntas fundamentais do século XXI.

Maniac pode ser lido como um relato dos mitos fundadores da tecnologia moderna, mas escrito com o ritmo de um thriller. Labatut é um escritor para quem "a literatura é um trabalho do espírito e não do cérebro". Por isso, em Maniac convergem a irracionalidade do misticismo e a racionalidade própria da ciência.
 

Maniac

de Benjamín Labatut

PropriedadeDescrição
ISBN:9789897834141
Editor:Relógio D'Água
Data de Lançamento:janeiro de 2024
Idioma:Português
Dimensões:153 x 235 x 23 mm
Encadernação:Capa mole
Páginas:336
Tipo de produto:Livro
Coleção:Ficções
Classificação temática:Livros em Português Literatura Biografias Livros em Português Literatura Outras Formas Literárias
EAN:9789897834141

 

Benjamín Labatut

BENJAMÍN LABATUT

Benjamín Labatut nasceu em Roterdão, em1980. Cresceu em Haia e Buenos Aires, e, com doze anos, mudou-se para Santiago, no Chile. O seu primeiro livro, um conjunto de contos intitulado La Antártica empieza aqui, recebeu o Prémio Caza de Letras, em 2009, pela Universidad Nacional Autónoma de México, e, em 2012, o Prémio Municipal de Literatura de Santiago. Um Terrível Verdor, publicado em 2020 e traduzido em mais de trinta línguas, foi finalista do International Booker Prize e do National Book Award, em 2021, consagrando Labatut como um dos autores mais relevantes da atualidade.
 
FONTE: WOOK 

 

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publicado às 16:00


#3354 - WOMEN'S PRIZE FOR FICTION

por Carlos Pereira \foleirices, em 09.03.24

Women's Prize for Fiction 2024

The Women’s Prize for Fiction is the greatest celebration of female creativity in the world.

Watch the video below to hear the judges of the 2024 Prize talking about the 16 brilliant books on the longlist this year.

The judging panel for the 2024 Prize is chaired by author Monica Ali. She is joined by author Ayọ̀bámi Adébáyọ̀; author and illustrator Laura Dockrill; actor Indira Varma; and presenter and author Anna Whitehouse.

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publicado às 15:27


#3352 - LIVROS E LEITURAS

CREPÚSCULO DA LIBERDADE - ÓSSIP MANDELSTAM

por Carlos Pereira \foleirices, em 05.03.24

Óssip Mandelstam

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publicado às 14:29


#3349 - LIVROS E LEITURAS

por Carlos Pereira \foleirices, em 20.02.24

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publicado às 15:29


#3348 - ESTÁ QUALQUER COISA A BATER À PORTA

Poema de Charles Bukowski

por Carlos Pereira \foleirices, em 16.02.24

ESTÁ QUALQUER COISA A BATER À PORTA

 

uma grande luz branca amanhece sobre o 

continente

enquanto adulamos as nossas tradições falhadas,

muitas vezes matamos para as preservar

ou às vezes matamos só por matar.

parece não ter importância: as respostas balouçam

fora do alcance,

fora de mão, fora da mente.

 

os líderes do passado eram insuficientes,

os líderes do presente não estão preparados.

enroscamo-nos nas nossas camas à noite e esperamos.

é uma espera sem esperança, uma

oração pedindo graças imerecidas.

 

tudo se parece cada vez mais com o mesmo velho

filme.

os actores são diferentes mas o enredo é o mesmo:

absurdo.

 

devíamos ter aprendido ao observar os nossos pais.

devíamos ter aprendido ao observar as nossas mães.

eles não sabiam, eles próprios não estavam preparados

para ensinar.

éramos demasiado ingénuos para ignorar os seus

conselhos

e agora adoptámos a sua

ignorância como

nossa.

somos eles, multiplicados.

somos as suas dívidas não saldadas.

estamos falidos

de dinheiro e

de espírito.

 

há algumas excepções, claro.

mas estas oscilam

sobre o precipício

e a qualquer momento

caírão para se juntar

a nós,

os delirantes, os derrotados, os cegos e os tristemente

corruptos.

 

uma grande luz branca amanhece sobre o

continente,

as flores abrem-se cegamente no vento fétido,

enquanto o nosso século XXI, 

grotesco e em última instância

inabitável,

se esforça por

nascer.

 

Poema de Charles Bukowski retirado do livro «Os cães ladram facas [Antologia Poética]» edição Alfaguara, Novembro de 2018

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publicado às 13:41


#3338 - ESCREVO AGORA COMO QUEM ME DÁ A MÃO

UM POEMA DE LEONARDO MARONA

por Carlos Pereira \foleirices, em 21.01.24

ESCREVO AGORA COMO QUEM ME DÁ A MÃO

 

aqui te embalo para  sempre em meus sonhos, 

a ti, o próprio, fruto de todo prazer indubitável,

a quem ferimps com nomes e histórias de famílias,

mas que está aqui e agora, ainda circulando em peixe

dentro das veias e da pulsação que nos levará à morte

e estar diante desta inafiançável situção é também

uma chance de  contrapor a essa pobre velha cansada,

a morte, e que respeito tenho por ti, ò morte, agora,

quando me faltam as veias e as batidas do coração,

como à velha mãe faltaram na hora  do  enterro cego,

é você que guia os passos que não damos, a dor

que sentimos enquanto dizemos sou eu que sinto,

mas é mais que outra coisa, é mais que tudo isso,

e seria tão só você pudesse esta mesma coisa louca:

estar ao menos bem vestida quando me cuspisse da

seus tenebrosos  decassílabos, além do que odeio

o cheiro do seu caviar russo, e antecipo suas cáries.

 

POEMA DE LEONARDO MARONA, RETIRADO DO LIVRO "NAQUELA LÍNGUA - CEM POEMAS E ALGUNS MAIS" (Antologia da Novíssima Poesia Brasileira)

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publicado às 12:23


#3334 - LOENDRO

Um poema de José-Alberto Marques

por Carlos Pereira \foleirices, em 02.01.24

Rosa-loura

E canta-se que um dia era a tua boca uma concha, um vidro de metal cheio de melodia e esponjas encontrado no loesse, ao lado dos detritos e do vento passado, assim uma forma de raio ou cometa, latejante no caudal do núcleo onde se abrigava o sono interminável, eu disse dessa fonte o canto, o amarelo, a cor própria de deixar as mãos ao poente enquanto partia para o teu silêncio e para a tua ausência, e eis a despedir-me à beira do sol, junto das pedras, por dentro, com uma cicatriz,

com sabor, saborosamente viajando a morte e o seu espanto, abrindo portas e janelas, numa visita ao espelho e à memória, descendo ruas, o peito ao longo das avenidas, das cidades noturnas, das navalhas cintilantes, do

revérbero das lâminas, com o pullover e a língua, Dusseldorf, Marselha, a fonte verde,

correndo,

senta-se na Índia uma e outra e outra alvéola sobre a árvore de folha perene, aos bandos, como em baixo lofíneos desenham circunferências molhadas e é pela tarde que a neblina insinua e o corpo estremece, ah os  frutos maduros de

quem rasga a pele do animal ferido, recoberto de feltro, cravado de ferros junto a

loucura navegando

as águas de mágoas em

as súbitas

as margens de

o loendro

 

Poema de José-Alberto Marques in "Loendro", Editora Átrio, 1991

_____________________________________________________________________________________________

Natural de Torres Novas, frequentou a Licenciatura em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Obrigado a abandonar os estudos por razões económicas, exerceu diversas  profissões ao mesmo tempo que fazia o Curso de História. Radicado em Abrantes desde a década de 1960, foi professor efetivo de Português na Escola D. Miguel de Almeida. Das diversas atividades de intervenção cultural e artística, destaque-se participação no segundo número da revista Poesia Experimental (1966), Operação 1 (1967) e na Conferência-Objecto (Galeria Quadrante, 1967). Recebeu o 1º Prémio Nacional de Literatura Infantojuvenil nas comemorações dos 20 anos do 25 de Abril, com o livro A Magia dos Sinais (1996). Em 1996 recebeu a medalha da cidade de Abrantes. Ligada ao movimento da poesia experimental portuguesa desde as suas primeiras manifestações no final de década de 50, a obra de José-Alberto Marques alia a experimentação fonossemântica e grafossemântica com um lirismo autobiográfico e uma aguda consciência social e política. O quotidiano pessoal surge reenviado ao espaço social coletivo, e a insistente presença de um e de outro são reflexivamente interrogadas pela materialidade da língua e da escrita. Estas são, por vezes, objeto de operações de fragmentação e constelação gráfica, mas também de experimentação narrativa.

 

Fonte: WOOK

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publicado às 14:57


#3331 - LIVROS E LEITURAS

Paul Celan Os Poemas

por Carlos Pereira \foleirices, em 26.12.23

 

 

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publicado às 18:48


#3304 - PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA 2023

por Carlos Pereira \foleirices, em 05.10.23

https://www.nobelprize.org/

O Prémio Nobel da Literatura 2023 foi atribuído ao escritor norueguês Jon Fosse

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publicado às 12:14


#3301 - LIVROS E LEITURAS

por Carlos Pereira \foleirices, em 16.08.23
 

 
 
“Há nesta colectânea contos e crónicas ou mesmo contos-crónicas, arte mista em que Zambujal é mestre: dois dedos de psicologia, uma pitada de atmosfera, um grão de inconveniência e muita graça. Por vezes dialogando com o leitor, brincando com as palavras, Mário Zambujal oferece-nos flashes de existências banais-extraordinárias, que a vida é amiúde mais inverosímil e absurda do que qualquer fértil imaginação possa concebê-la.”
 

Fora de Mão

prosas revisitadas e inéditas

de Mário Zambujal

PropriedadeDescrição
ISBN:9789895550142
Editor:Oficina do Livro
Data de Lançamento:abril de 2003
Idioma:Português
Dimensões:150 x 232 x 16 mm
Encadernação:Capa mole
Páginas:164
Tipo de produto:Livro
Classificação temática:Livros em Português Literatura Poesia
EAN:9789895550142
Idade Mínima Recomendada:Não aplicável
 
Mário Zambujal
 

Jornalista e escritor português, nascido em 1936, trabalhou na televisão e em jornais como A Bola, Diário de Lisboa e Diário de Notícias, em especial na área do desporto. Publicou vários livros de ficção: Crónica dos Bons Malandros, em 1980, que teve grande sucesso e deu origem a uma longa-metragem de Fernando Lopes; Histórias do Fim da Rua, em 1983; À Noite Logo se Vê, em 1986 e Talismã em 2015, entre outros.

(ver mais)
 
FONTE: WOOK.PT

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publicado às 14:16


#3300 - LIVROS E LEITURAS

por Carlos Pereira \foleirices, em 16.08.23

 
Misericórdia é um dos livros mais audaciosos da literatura portuguesa dos últimos tempos. Como a autora consegue que ele seja ao mesmo tempo brutal e esperançoso, irónico e amável, misto de choro e riso, é uma verdadeira proeza.

Não são necessárias muitas palavras para apresentá-lo - o diário do último ano de vida de uma mulher incorpora no seu relato o fulgor das existências cruzadas num ambiente concentracionário, e transforma-se no testemunho admirável da condição humana.

Isso acontece porque o milagre da literatura está presente. Nos tempos que correm, depois do enfrentamento global de provas tão decisivas para a Humanidade, esperávamos por um livro assim. Lídia Jorge escreveu-o.
 

Misericórdia

de Lídia Jorge

PropriedadeDescrição
ISBN:9789722075718
Editor:Dom Quixote
Data de Lançamento:outubro de 2022
Idioma:Português
Dimensões:156 x 234 x 31 mm
Encadernação:Capa mole
Páginas:464
Tipo de produto:Livro
Classificação temática:Livros em Português Literatura Romance
EAN:9789722075718

 

 
Lídia Jorge

 

Romancista e contista portuguesa. Nasceu em 1946, no Algarve. Viveu os anos mais conturbados da Guerra Colonial em África. Foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social. É professora do ensino secundário e publica regularmente artigos na imprensa. O tema da mulher e da sua solidão é uma preocupação central da obra de Lídia Jorge, como, por exemplo, em Notícia da Cidade Silvestre (1984) e A Costa dos Murmúrios (1988). O Dia dos Prodigíos (1979), outro romance de relevo, encerra uma grande capacidade inventiva, retratando o marasmo e a desadaptação de uma pequena aldeia algarvia. O Vento Assobiando nas Gruas (2002) é mais um romance da autora e aborda a relação entre uma mulher branca com um homem africano e o seu comportamento perante uma sociedade de contrastes. Este seu livro venceu o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores em 2003.
Venceu o Prémio FIL de Literatura em Línguas Românicas 2020.

(ver mais)
 
INFORMAÇÃO RECOLHIDA NO SÍTIO DA WOOK

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publicado às 13:56


#3274 - PARA ALGUNS AMIGOS

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI

por Carlos Pereira \foleirices, em 01.02.23

PARA ALGUNS AMIGOS

 

o som da astúcia

o som do céu e do mar.

 

o aperitivo de uma noite amarga.

amigos amargos que

discutem acerca de quem fará o elogio fúnebre no enterro,

meios-homens amargos que tentam roubar-te as mulheres,

meias-mulheres amargas que se deixam roubar.

 

demorei 15 anos a humanizar a poesia

mas vai ser preciso mais do que eu

para se humanizar a humanidade.

 

as boas almas não o farão

a anarquia não o fará

os pretos

os amarelos

os índios

os mexicanos

não o farão.

 

acredito na força da mão sangrenta

acredito nos gelos eternos

exijo que morramos

de lábios azuis e sorrindo contra a impossibilidade

de nós mesmos

estendidos de viés sobre nós mesmos.

 

conhecemo-nos

numa adega escura em Barcelona. mas depois

afastámo-nos. ao fim e ao cabo,

algumas pessoas são capazes de foder um candeeiro de rua

ao luar.

 

o meu elogio fúnebre? quem o lerá? terei sequer uma

sepultura? quem estará feliz no meu

enterro? mais um cabrão genial

que se foi. os idiotas adoram enterrar 

deuses.

 

entretanto, esperam que me falhe a máquina de escrever,

que o meu amor seja menor, que a minha esperança seja menor,

que a minha dor seja maior.

ah, todos os meus amigos me desejam as melhores coisas.

 

idiotas batedores-de-portas a espingardar

venham todos

cuspir o vosso veneno especial sobre mim e sobre

as pequenas coisas que são minhas.

 

pequenas crianças-ratazanas do universo

apreciem o facto de vos ter deixado insultar-me

apreciem o facto de vos ter aberto a porta

apreciem o facto de ter envelhecido

ou desaparecido com o tempo.

 

ah, meus amigos

meus amigos

meus amigos.

 

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI in «OS CÃES LADRAM FACAS» [ANTOLOGIA POÉTICA], EDIÇÃO ALFAGUARA DE NOVEMBRO DE 2018, PÁGS. 191,192, 193.

TRADUÇÃO DE ROSALINA MARSHALL

SELECÇÃO, ORGANIZAÇÃO E PREFÁCIO DE VALÉRIO ROMÃO

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publicado às 18:27


#3273 - LÁGRIMA, GOTA LÁGRIMA (OU: TODAS DESPEDIDAS DO MUNDO)

POEMA DE ONDJAKI

por Carlos Pereira \foleirices, em 30.01.23

LÁGRIMA, GOTA LÁGRIMA (OU: TODAS DESPEDIDAS DO MUNDO)

 

lágrima

é uma sensação que escorrega.

mundo está seco de coisas e trans-sensações

assim a lágrima presta-se

a desressequir o mundo.

porque:

mundo está duro;

mundo está  pedinchar molhadezas

que só amor tem num bolso;

mundo está ainda grande e

tão pequenino já.

lágrima, afinal,

é uma carinhosa correcção do mundo

e tem pontes com a amizade.

porque:

sinónimo sincero de amizade

é celebração.

assim mesmo, ela, húmida. bem húmida.

 

Poema de Ondjaki

 

 

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publicado às 17:09


#3272 - FOZ DO TEJO, UM PAÍS

POEMA DE FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO

por Carlos Pereira \foleirices, em 26.01.23

FOZ DO TEJO, UM PAÍS

 

O rio não dialoga senão pela alma

de quem o olha e embebeu a sua alma

de olhares ribeirinhos no passado

ou à flor do pensamento no futuro.

 

É um país que fala dentro da fronte,

olhando as naus, navios, barcos pesqueiros

e o trilho das famintas aves pintoras

de riscos negros, que perseguem o odor

das redes cheias, as outrossim poéticas

familiares gaivotas. É uma costa inteira

de imagens de gaivotas dentro dos olhos.

São bocas a pensar razões da vida,

gargantas já caladas pela nascença e morte,

quando entre si se vêem ou juntas olham

o mar dos seus próprios dias. São cabeças

velhas de labutar, entre dentes cerrados,

as palavras mudas de um ofício no mar,

antigas de silêncio, como se no esófago

guardassem há muito a sabedoria de ir

enfrentar o mar, transpor o mar, estar.

 

Tal como um rio o mar só quer falar

pela dor e alegria de alma com que o chama,

há séculos na orla, um povo mudo,

com as palavras presas, guturais sem fôlego,

dentro de si, tão firmes no palato, artticuladas

na língua interior. E o mar é quieto ou bravo,

e a alma tensa de uma paixão secreta,

escondida atrás da boca, e sempre aberta,

tal como as pálpebras diante desta água.

Só a alma sabe falar com o mar,

depois de chamar a si o Rio, no imo

de cada um, recordações, de todos

os que cumprem na linha da costa o seu destino.

O de crianças, berços nascidos à beira-mar,

aleitadas por água marinha bebida por rebanhos,

alimentadas por frutos regados pela bruma.

Mesmo quando petroleiros, se olharmos o mar,

passam sem son na glotre, para nós mesmos dizermos

que o tempo já findou das caravelas outrora

e dentro do nosso sangue passa o tempo de agora.

 

Também as varinas, fenícias áfonas no poema

que  as canta, sabem as formas, pelo olhar,

de serem mulheres com peixes à cabeça.

E os pregões que eu calo, revendo-as, eram outra

língua do mar, os nomes com que nos chamam

para o seu modo de levar entre as casas e o mar.

Mas as dores não as ecoa o mar, nem mesmo

as de poetas, só as pancadas das palavras

no encéfalo parecem ser voz do mar.

 

É uma nação única de memórias do mar,

que não responde senão em nós. Glória, misérias,

que guardámos por detrás do olhar lírico

e da língua, a silabar dentro da boca.

Nunca chamámos o mar nem ele nos chama

mas está-nos no palato como estigma.

 

Dezembro de 1997

 

Poema de Fiama Hasse Pais Brandão in "Obra Breve", Edição 0976, Maio 2006, Editora Assírio & Alvim, Págs. 692 e 693.

 

 

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publicado às 17:04


#3267 - POEMA DE EUGÉNIO DE ANDRADE

(Centenário do nascimento do poeta) - [1923 - 2005]

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.01.23

Ainda esta poeira sobre o coração

queria que chovesse sobre os ulmeiros

sair limpo desses olhos

da luz que se demora a polir os seixos

 

A corrosiva música das vogais que te devora

o silêncio do muro

às vezes quase azul

o verão afinal onde o ar é mais duro

 

POEMA DE EUGÉNIO DE ANDRADE in "LIMIAR DOS PÁSSAROS", EDIÇÃO DE NOVEMBRO DE 1978, EDITORA LIMIAR

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publicado às 19:46


#3266 - BORRAS DE IMPÉRIO

POEMA DE JORGE DE SENA

por Carlos Pereira \foleirices, em 18.01.23

BORRAS DE IMPÉRIO

I

Os impérios sempre se fizeram

com os que são forçados a fazê-los

e com os que ficam para ser mandados

e cuspidos pelos que querem fazê-los.

 

Por isso, há nos povos imperiais 

algo de um visgo de alma: que ou é cuspo,

ou um prazer dolente como de escarra e cospe.

 

II

Há impérios que deixam no deserto ruínas de capitais pomposas.

 

E há os outros que se desculpam com tremores de terra

de terem passado sobre si mesmos como gafanhotos.

 

III

Pergunto-me a mim mesmo como foi possível:

ou os impérios o seu povo até que ele seja

uma raça agachada, mesquinha e traiçoeira,

ou é com gente dessa que os imnpérios se fazem,

já que nada glorioso se constrói humanamente

sem 10% de heróis e 90% de assassinos.

 

Que coisa fedorenta a glória, sobretudo

enquanto não passam séculos e só ruínas

fiquem - onde nem o pó dos mortos

ainda cheire mal.

 

IV

Portugal é feito dos que partem

e dos que ficam. Mas estes

numa inveja danada por aqueles terem

sido capazes de partir, imaginam-lhes a vida

a série de triunfos sonhados que eles mesmos

nas horas de descrerem da mesquinhez em que triunfam

todos os dias. E raivosamente

escondem a frustração nos clamores

da injustiça por os outros lá não estarem

(como eles estão), do mesmo passo

que se ocupam afanosamente em suprimi-los

(não vão eles ser tão tolos-

- a ponto de voltarem).

 

8 de Junho de 1971

 

(EXORCISMOS, 1972)

 

 

 

 

 

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publicado às 17:18


#3264 - CÂNTICO NEGRO

POEMA DE JOSÉ RÉGIO (Vila do Conde, 1901 - Vila do Conde, 1969)

por Carlos Pereira \foleirices, em 15.01.23

CÂNTICO NEGRO

 

«Vem por aqui» - dizem-me alguns com olhos doces,

Estendendo-me os braços, e seguros

De que seria bom que eu os ouvisse

Quando me dizem: «vem por aqui»!

Eu olho-os com olhos lassos,

(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)

E cruzo os braços,

E nunca vou por ali...

 

A minha glória é esta:

Criar desumanidade!

Não acompanhar ninguém.

- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade

Com que rasguei o ventre a minha Mãe.

 

Não, não vou por aí! Só vou por onde

Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,

Porque me repetis: «vem por aqui»?

 

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,

Redemoinhar aos ventos,

Como farrapos, arrastar pos pés sangrentos,

A ir por aí...

 

Se vim ao mundo, foi

Só para desflorar florestas virgens,

E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!

O mais que faço não vale nada.

 

Como, pois, sereis vós

Que me  dareis impulsos, ferramentas, e coragem

Para eu derrubar os meus obstáculos?...

Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,

E vós amais o que é fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem,

Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

 

Ide, tendes estradas,

Tendes jardins, tendes canteiros,

Tendes pátrias, tendes tectos,

E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.

Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,

E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

 

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;

Mas eu, que nunca principio nem acabo,

Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

 

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!

Ninguém me peça definições!

Ninguérm me diga: «vem por aqui»!

A minha vida é um vendaval que se soltou.

É uma onda que se alevantou.

É um átomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou,

Não sei para onde vou,

- Sei que não vou por aí!

 

POEMA DE JOSÉ RÉGIO

(POEMAS DE DEUS E DO DIABO, 1925)

 

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publicado às 09:50


#3265 - POEMA DE ADOLFO CASAIS MONTEIRO

por Carlos Pereira \foleirices, em 14.01.23

A música era linda,

vinha do rádio, meiga, mansa,

macia como um corpo quente de mulher...

era doce, cariciosa e lânguida...

 

Mas eu tinha ainda nos ouvidos,

como um clamor de milhões de bocas:

«No campo de concentração hoje ocupado pelas nossas tropas

os alemães queimaram milhares de vivos num forno crematório...

Nas cubatas, os mortos misturavam-se com os moribundos...

O sargento S.S. não pôde recordar quantos homens tinha morto...

Os mortos apodrecem aos montes, e os vivos arrancam-lhes as roupas

para as fogueiras em lado se aquecem...

EM MUITOS CADÁVERES ENCONTROU-SE UM CORTE LONGITUDINAL:

ERAM OS VIVOS QUE TINHAM TIRADO AOS MORTOS O FÍGADO E OS RINS PARA COMER -

A ÚNICA CARNE QUE AINDA RESTAVA NOS CADÁVERES...»

 

E lembro-me de repente dum filme muito antigo

em que o criminoso perguntava:

«De quoi est fait un homme, monsieur le comissaire?»

e nos seus olhos lia-se o pavor

de quem viu um abismo e não lhe sabe o fundo...

De quoi est fait un homme? De que são feitos os homens

que queimaram vivos outros homens? que tinham centos de crianças

a morrer de fome e pavor, escravos como os pais?

que matavam ou deixavam morrer homens aos milhões,

que os faziam descer ao mais fundo da degradação,

torturados, esfomeados, feitos chaga e esqueleto?

Eram esses mesmos homens

que faziam pouco da liberdade,

que vinham salvar o mundo da desordem,

que vinham ensinar a ORDEM ao planeta!

Sim, que traziam a paz com as grades das prisões,

a ordem com as câmaras de tortura...

 

E depois a música vem, cariciosa e lenta,

a julgar que apaga a ignomínia que lançaram sobre a terra!

A julgar que esqueceremos a abjecção dos que sonharam

apagar da terra a insubmissão do homem livre!

Não - nem cárceres, nem deportações, nem represálias, nem torturas

acabarão jamais com a insubmissão do homem livre,

do homem livre nas cadeias, cantando nas torturas,

porque vê diante de si os irmãos que estão lutando,

que hão-de cair, para outros sempre se erguerem,

clamando em vozes sempre novas

QUE O HOMEM NÃO SE HÁ-DE SUBMETER À VIOLÊNCIA!

Homens sem partido e de todos os partidos,

que nasceram com a revolta porque não lhes vale de nada viver para serem escravos,

homens sem partido e de todos os partidos - menos todos quantos

só sabem dizer ORDEM! e reclamar VIOLÊNCIA!

os que pedem sangue porque são sanguinários, sim,

mas também todos os que nunca souberam querer nada,

os que dizem «Não é possível que se torturem os presos políticos»,

os que não podem acreditar

porque não querem ser incomodados pela pestilência dos crimes cometidos para eles

- para eles continuarem a acreditar que a ORDEM não é apenas a mordaça

sobre as bocas livres que hão-de gritar até ao fim do mundo

QUE SÓ O HOMEM LIVRE É DIGNO DE SER HOMEM!

 

1944 - 45

 

POEMA DE ADOLFO CASAIS MONTEIRO (Porto, 1908 - São Paulo, Brasil, 1972)

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publicado às 22:38


#3261 - PRÉMIO VERGÍLIO FERREIRA 2023

por Carlos Pereira \foleirices, em 12.01.23

Ondjaki galardoado com Prémio Vergílio Ferreira 2023

 

A escolha para o Prémio Vergílio Ferreira recaiu este ano sobre Ondjaki, escritor, livreiro e artista de diversas disciplinas. Este galardão, instituído pela Universidade de Évora (UÉ) em 1996, incide sobre o conjunto da obra de um autor que se tenha distinguido nos domínios da ficção ou do ensaio.

O júri, reunido hoje na Universidade de Évora, decidiu, por unanimidade, atribuir o Prémio Vergílio Ferreira a Ndalu de Almeida, popularmente conhecido como Ondjaki. “O contributo que Ondjaki faz para que a língua portuguesa seja língua de reconciliação e mesmo de consciência crítica para todos os falantes de português” é destacado pelo júri.

Ondjaki nasceu em Luanda, Angola, em 1977 e estudou sociologia na Universidade de Lisboa. As suas obras incluem poemas como “Actu sanguíneu”, contos “Momentos de aqui”, livros infantis “A bicicleta que tinha bigodes” ou romances “Quantas madrugadas tem a noite” e “Bom dia, camaradas.”

Escreve também peças de teatro e roteiros de cinema. Recebeu inúmeros prémios, incluindo o Prémio Sagrada Esperança 2004 em Angola, o Prémio António Paulouro 2005 em Portugal, Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco em 2007, e o Grinzane for Africa 2008, na categoria de melhor jovem autor e, em 2013, recebeu o Prémio Literário José Saramago por seu romance Os Transparentes. Em 2012, o jornal britânico The Guardian nomeou-o como um dos cinco escritores africanos mais importantes. Os seus livros foram traduzidos para francês, italiano, alemão, inglês, sérvio, polaco e sueco. Em Umbundu, uma das línguas nacionais angolanas, Ondjaki significa "guerreiro".

Na edição referente a 2023, o júri, presidido pelo professor da Universidade de Évora Antonio Sáez Delgado, integra também os docentes universitários Eunice Ribeiro (Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos da Universidade do Minho); Fátima Freitas Morna (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa); Elisa Nunes Esteves (Escola de Ciências Sociais da Universidade de Évora) e Miguel Filipe Mochila (Crítico Literário).

 

Tal como nas edições anteriores, a cerimónia de entrega do galardão está agendada para o dia 1 de março, data em que se assinala o aniversário da morte do escritor Vergílio Ferreira (1916-1996), patrono do prémio e autor de "Aparição".

O Prémio Vergílio Ferreira foi atribuído, pela primeira vez, a Maria Velho da Costa, seguindo-se Maria Judite de Carvalho, Mia Couto, Almeida Faria, Eduardo Lourenço, Óscar Lopes, Vítor Manuel de Aguiar e Silva e Agustina Bessa-Luís.

Manuel Gusmão, Fernando Guimarães, Vasco Graça Moura, Mário Cláudio, Mário de Carvalho, Luísa Dacosta, Maria Alzira Seixo, José Gil, Hélia Correia, Ofélia Paiva Monteiro, Lídia Jorge, João de Melo, Teolinda Gersão, Gonçalo M. Tavares, Nélida Piñon, Carlos Reis, Ana Luísa Amaral e Helena Carvalhão Buescu foram os outros galardoados.

Publicado em 11.01.2023
 
 

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publicado às 12:10


#3256 - LIVROS E LEITURAS

por Carlos Pereira \foleirices, em 04.01.23

RICHARD ZIMLER

"Corre o ano de 1671 e Isaaque Zarco, um rapaz de nove anos, leva uma existência tranquila na pacata aldeia de Castelo Rodrigo. No entanto, nem mesmo esse recanto perdido no Norte de Portugal escapa à sombra de uma força nefasta poderosíssima, que alastra, insidiosa,  no peito de uma população até então pacífica. E, em pouco tempo, com o desaparecimento misterioso de uma família amiga e o assassinato de um vizinho, os pilares que haviam sustentado o mundo de Isaaque começam a ruir, pondo em rtisco a sua própria vida. A avó Flor, velha parteira e curandeira castelhana, revela-lhe então o  que ninguém se atrevera a dizer: que ele e a sua família são afinal judeus secretos - e, por conseguinte, sujeitos a denúncias e aprisionamentos.

 

Retomando a família Zarco, num romance comovente e arrebatador, dividido em dois volumes, Richard Zimler explora os efeitos devastadores da intolerância religiosa na aldeia de Castelo Rodrigo e povoações adjacentes. Recorrendo a nomes reais, datas de prisão e outros detalhes sobre os aldeãos que foram levados pela Inquisição, apresenta ao leitor um trabalho de pesquisa exaustivo, que faz  desta obra um romance magistral e um testemunho inigualável."

 

Texto contido na contracapa do livro "A Aldeia das Almas Desaparecidas - A Floresta do Avesso, Parte 1, Edição Porto Editora, Outubro de 2022

 

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BIOGRAFIA DE RICHARD ZIMLER

Richard Zimler nasceu em 1956. Fez um bacharelato em religião comparada na Duke University (1977) e um mestrado em jornalismo na Stanford University (1982). Trabalhou como jornalista durante oito anos, principalmente na região de S. Francisco. Em 1990, foi viver para o Porto, onde foi professor de jornalismo durante 16 anos, primeiro na Escola Superior de Jornalismo e depois na Universidade do Porto. Nos últimos 26 anos, publicou 13 romances, uma colectânea de contos e seis livros infantis, que depressa entraram nas listas de bestsellers de vários países (Portugal, Brasil, EUA, Inglaterra, Itália, etc...). A sua obra encontra-se traduzida para 23 línguas. Escreve os romances em inglês e os livros infantis em português.

Os seus livros editados em Portugal – por ordem cronológica – são: O Último Cabalista de Lisboa, Trevas de Luz, Meia-Noite ou o Princípio do Mundo, Goa ou o Guardião da Aurora, À Procura de Sana, A Sétima Porta, Confundir a Cidade com o Mar (colectânea de contos), Dança Quando Chegares ao fim (livro para crianças), Os Anagramas de Varsóvia, Ilha Teresa, Hugo e Eu e as Mangas de Marte (livro para crianças), A Sentinela, Se Eu Fosse (livro para crianças), O Evangelho Segundo Lázaro, O Cão Que Comia a Chuva (livro para crianças), Maria e Danilo e o Mágico Perdido (livro para crianças), Os Dez Espelhos de Benjamin Zarco, Insubmissos, A Aldeia das Almas Desaparecidas (Parte 1) e A Cegonha Sem Vergonha (livro para crianças).

Vários livros seus fazem parte do Plano Nacional de Leitura, incluindo Dança Quando Chegares ao Fim, Se Eu Fosse, O Último Cabalista de Lisboa, Insubmissos, Na Terra dos Animais Falantes e O Cão que Comia a Chuva.

Zimler já ganhou diversos prémios, incluindo o National Endowment of the Arts Fellowship in Fiction (EUA) em 1994 e o Prémio Herodotus (EUA) para o melhor romance histórico em 1998. O prémio literário Alberto Benveniste 2009 foi atribuído a Zimler pela obra Goa ou o Guardião da Aurora. O prémio foi criado para galardoar um romance (publicado em francês) que se enquadra no programa do Centro Alberto Benveniste (Estudos Judeus-Sefarditas). Os Anagramas de Varsóvia foi nomeado o Melhor Livro de 2009 pela revista LER e também pelos alunos das escolas secundárias de Portugal (Prémio Marquês de Ouro). O Evangelho Segundo Lázaro foi nomeado um dos melhores romances do ano pelas livrarias FNAC e Bertrand. Cinco dos seus romances foram nomeados para o Dublin International Literary Prize, um dos mais importantes do mundo anglo-saxónico.

Zimler também organizou uma antologia de contos para beneficiar Save the Children e os seus programas (no caso de Portugal, para beneficiar os programas nos PALOP). A versão portuguesa inclui contos de Richard Zimler, Mia Couto, Lídia Jorge, Margaret Atwood, Nadine Gordimer, Ali Smith, Markus Zusak, Junot Díaz e 20 outros ficcionistas. Já proferiu mais de 500 conferências sobre a sua escrita e a cultura judaica, em escolas, museus, bibliotecas, livrarias, sinagogas e auditórios públicos em mais do que 15 países, incluindo os EUA, Inglaterra, Austrália, Portugal, França e Brasil.

Em 2009, Zimler escreveu o guião para O Espelho Lento, uma curta-metragem baseada num dos seus contos. O filme foi realizado no verão de 2009 pela realizadora sueca-portuguesa Solveig Nordlund e venceu o prémio de melhor filme dramático no Festival de Curtas-Metragens de Nova Iorque em Maio de 2010.

 

Biografia retirada do "site" de Richard Zimler

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publicado às 20:07


#3254 - A ESPERANÇA DO LIVRO

POEMA DE ANTÓNIO RAMOS ROSA

por Carlos Pereira \foleirices, em 29.12.22

A ESPERANÇA DO LIVRO

 

Como um painel, soerguendo-se da névoa marinha, um busto vermelho, carcomido, a boca hiante, de um mistério vazio. A meus pés, um exército de formigas-negras procura, num árido frenesim, o caminho para a pedra. A orla branca de espuma, as vagas que rolam violentas, impedem o acesso do negro exército de insectos.

 

Quem poderá escutar da boca daquela divindade algo para além da sua nudez de morte? O seu frio eco trespassa-me de horror, a distância perdida torna-se fúnebre. As máscaras encobrem em vão o inexorável.

 

«Onde está a esperança?», alguém grita ou seria apenas o amplo espaço que flamejara? Era um esplendor cruel e o grito, se alguém o gritara, logo fora varrido pela força do vento. Alguém no entanto gritara: «Não feches o livro.» Respondi: «Virei todas as páginas sem encontrar a esperança.» A voz pronunciara ainda algumas palavras de um além da bruma: «A esperança é talvez o livro.»

 

Cansara-me de fitar a carcaça de pedra vermelha, olhos e boca abertos por onde entravam o sol e a água. A tenacidade da ruína muda aterrorizava-me. Mas além da bruma eu ouvia a voz de uma possível esperança. Era preciso atravessar a inexorável claridade e procurar na tarde a merenda que me desse o alento para prolongar o livro. As folhas escritas pesavam sobre o dorso direito; as folhas brancas curvavam o ombro esquerdo. Desejava libertar-me das primediras, como de um fardo, mas as outras, na vertigem do possível, tornam a marcha ébria, de um vagabundo prenhe do murmúrio de todas as palavras que um dia seriam o Livro, que já o eram no passo ligeiro em que caminhava através da bruma.

 

Poema de António Ramos Rosa in "Antologia poética", edição D. Quixote, 2001.

Prefácio, Bibliografia e Selecção de Ana Paula Coutinho Mendes

 

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publicado às 18:34


#3253 - ESCREVO-TE COM O FOGO E A ÁGUA

POEMA DE ANTÓNIO RAMOS ROSA

por Carlos Pereira \foleirices, em 29.12.22

ESCREVO-TE COM O FOGO E A ÁGUA

 

Escrevo-te com o fogo e a água. Escrevo-te

no sossego feliz das folhas e das sombras.

Escrevo-te quando o saber é sabor, quando tudo é surpresa.

Vejo o rosto escuro da terra em confins indolentes.

Estou perto e estou longe num planeta imenso e verde.

 

O que procuro é um coração pequeno, um animal

perfeito e suave. Um fruto repousado,

uma forma que não nasceu, um torso ensaguentado,

uma pergunta que não ouvi no inanimado,

um arabesco talvez de mágica leveza.

 

Quem ignora o sulco entre a sombra e a espuma?

Apaga-se um planeta, acende-se uma árvore.

As colinas inclinam-se na embriaguez dos barcos.

O vento abriu-me os olhos, vi a folhagem do céu,

o grande sopro imóvel da primavera efémera.

 

Poema de António Ramos Rosa in "Antologia Poética" com prefácio, bibliografia e selecção de Ana Paula Coutinho Mendes, edição Publicações D. Quixote, 2001

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publicado às 15:15


#3252 - ELEGIA MÚLTIPLA (VII)

POEMA DE HERBERTO HELDER

por Carlos Pereira \foleirices, em 28.12.22

Os ombros estremecem-me com a inesperada onda dos meus

vinte e nove anos. Devo despedir-me de ti,

amanhã morrerei.

Talvez eu comece a morrer na tua mão direita,

alterosa e quente na minha mão 

sufocada. Agora mesmo na europa

começa a vagarosa iluminação das giestas. É a minha vida

percorrida por um álcool penetrante, é a imediata

atenção ao misterioso trabalho da idade.

 

Vinte e nove anos agora, na europa, sobre os canais

sombrios da carne, sobre um vasto segredo.

Será apenas isto, um ponto móvel

da eternidade, isto - a sufocação veloz e profunda

da vida inteira na minha garganta? E depois

o acender das luzes, bruxelas como uma câmara

de archotes e ao alto as ameias

enovoadas dos astros? Devo olhar com uma grande

memória aquilo que acaba na violência triste

do poema.

 

Estamos nos quartos, há flores nas mesas. De babilónia

partem rios. Por detrás das cortinas,

despeço-me. Amanhã vou morrer. Tenho

vinte e nove bocas urdindo

a falsa doçura da confusão. Os países constroem

a torre sombria do amor. Dá-me a tua mão

pensativa e antiga, deixa que se queime ainda um instante

a loucura masculina

da minha vida. Pensa um pouco na beleza

ignota das coisas: peixes, flores, o sono terrível

das pessoas ou o seu respirar

que arde e brilha e se apaga à superfície

das lágrimas ocultas. Pensa um pouco no sorriso

rapidíssimo

que jamais desasparece do silêncio, na candeia

que cobre com agulhas de ouro os escombros

dos lírios. E por cima de tudo estende

a tua pequena mão eterna. Cai

tu própria na treva quente da minha

cega mão masculina de vinte

e nove

anos. Tenho vinte e nove anos ou uma onda

inesperada que me estremece a carne ou a minha garganta

cheia de sangue actual - amanhã morrerei.

 

Vi um dia alguém tomar nas mãos, entre faúlhas

velozes, pedras que pareciam

imortais. Eram casas que se levantavam

sobre o meu coração. Vi que tomavam

animais feridos, flores imaturas, objectos 

breves, imagens instantâneas e perdidas. Faziam

alguma coisa eterna. Era gente

de vinte e nove anos que se despedia dolorosa

pormenorizada

violentamente de uma parte da sua carne, a parte

mais iluminada da sua

carne de vintee nove anos. Amanhã

morrerei.

 

Poema de Herberto Helder in "Poesia Toda", Ediçao 406, em Março de 1996, Assírio & Alvim

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publicado às 15:23


#3250 - APELO

POEMA DE NAZIM HIKMET RAN (1902-1963)

por Carlos Pereira \foleirices, em 26.12.22

APELO

 

Este país, cabeça duma égua

da Ásia ao Mediterrâneo trotando tanta légua

este país é o nosso.

Punhos em sangue banhados, dentes cerrados, planta nua

e chão feito alfombra, toda em seda crua,

este inferno, este céu é o nosso.

Fechem-se as portas de estranhos, não mais voltem a abrir!

O homem não imponha ao homem escravidão!

Este apelo é o nosso.

Viver! Qual árvore, sozinha e livre

e juntos irmanados, qual floresta:

                                                            Este anseio é o nosso.

 

Poema de Nazim Hikmet Ran, Turquia

 


 10.02.2016
Paisagens Humanos do Meu País, do poeto turco Nazim Hikmet, foi traduzido para o português

Brasileiros
Daniel Benevides
10/02/2016 - 10:24

Um dos maiores autores do século 20, Nâzim Hikmet tem sua principal obra, Paisagens Humanas do Meu País, escrita durante um longo período na prisão, finalmente traduzida no Brasil diretamente do original turco

Joan Baez cantou seus versos, inúmeros filmes foram baseados em seus livros, Picasso e Sartre defenderam sua liberdade. Nâzim Hikmet (1902 -1963) não foi apenas o maior poeta turco do século 20, mas também uma figura histórica, icônica. Introduzir o verso livre na poesia de seu país e utilizar a linguagem e os temas do dia a dia, em oposição ao lirismo derramado que se praticava na Turquia, foram alguns de seus feitos literários. No campo da vida pública, o poeta participou da Guerra da Independência, denunciou o genocídio armênio – atitude até hoje temerária  –, viveu o começo da Revolução Russa ao lado de amigos como Maiakóvski e Meyerhold e revelou os desmandos de governos autoritários turcos por meio da imprensa alternativa. Entre 1929 e 1938, com o Partido Comunista banido, teve várias passagens na prisão, muitas vezes sob acusações forjadas. Finalmente, em 1939, com a morte do primeiro presidente da República da Turquia, Atartuk, Nâzim é mandado para a penitenciária em Bursa, onde fica até 1950, quando é libertado depois de uma greve de fome e de manifestações internacionais a seu favor. É nesse período que escreve a maior parte deste Paisagens Humanas do Meu País.  Sem a mulher e o filho, proibidos de ir com ele, passa a viver na União Soviética. Morre em Moscou, de um ataque fulminante no coração.

É uma biografia de tirar o fôlego. Parecem muitas vidas numa só. Não é de espantar, portanto, que ele tenha conseguido colocar tantas vidas, tantas vozes, tantas histórias, de origens as mais diversas, nos seus livros e em particular neste Paisagens. E tudo começou quando escreveu seu primeiro poema aos 13 anos. Um incêndio próximo a sua casa foi o tema. Era, talvez, o prenúncio da sua trajetória, forjada a ferro e fogo. O elemento incendiário surgiu primeiro, na forma de tiros e bombas, quando se alistou na Guerra da Independência, em 1920, para a retomada da autonomia perdida no conflito mundial de 1914-1918. Kemal Atartük era o líder. O grande herói turco dizia-se discípulo do avô materno de Nâzim, o militar, filólogo e historiador Enver Paxá. Mesmo assim, depois de destacado para dar aulas aos soldados, o futuro poeta teve de se exilar uma primeira vez na Rússia, por conta de suas convicções políticas. Foi lá que formou-se em Sociologia e, às leituras juvenis de Omar Khayyam e Baudelaire, adquiriu uma forte influência de Maiakóvski e da vanguarda russa.


“Paisagens Humanas do Meu País”-
Nâzim Hikmet. Tradução de Marco Syrayama de Pinto.
Editora 34, 576 páginas

O elemento “ferro” teve um peso mais dramático e está intimamente ligado a Paisagens Humanas do Meu País, tida como a obra-prima de Nâzim. Pois foi atrás das grades que ele escreveu o livro, um trabalho único, composto por cerca de 20 mil versos, escritos nos mais diferentes registros: diário, história, teatro, roteiro cinematográfico, conto, reportagem, folclore, canção, emissão radiofônica e, claro, poesia. Sua intenção era enciclopédica. Queria retratar o homem comum da Turquia, o trabalhador, o camponês, o artesão, o comerciante. E também os criminosos com os quais conviveu por 13 anos, nos dois presídios por que passou. Mas também foi feliz ao retratar as classes mais abastadas, nas quais ele mesmo tinha sido criado.

Trepidantes como sua vida, os versos seguem um ritmo ferroviário: as paisagens mudam rapidamente, mas o eixo é sempre o mesmo. O efeito é proposital, já que Nâzim escolheu o trem como elemento a ligar todos os seus múltiplos personagens, de assassinos a ricos comerciantes. É dentro de seus vagões, na terceira, segunda ou primeira classes, que se passam os diálogos, que conhecemos as trajetórias mais improváveis e ficamos conhecendo a história sangrenta da Turquia, das batalhas pela independência à sua participação na Segunda Guerra. Mas também há, e como, os conflitos de ordem pessoal, traições, ciúmes doentios, roubos de terra, deserções, tudo contado como se estivéssemos sacolejando no trem, em frente ao narrador, ou sentados na estação, esperando a próxima partida em meio à balbúrdia generalizada. É, sem dúvida, um verdadeiro épico moderno, que, como muitos disseram, só encontra paralelo em obras como a Odisseia, de Homero, e Guerra e Paz, de Tolstói (não por acaso, traduzido por Nâzim para o turco).

Admirado por personalidades como Picasso e Sartre, que se uniram a outros artistas e intelectuais para exigir sua soltura, Nâzim começou a redigir Paisagens em 1939, no início de sua pena em Istambul, e só terminou – se é que terminou – em 1961, dois anos antes de sua morte. Na avaliação do ótimo tradutor Marco Syrayama de Pinto, finalista do prêmio Jabuti, a experiência na cadeia foi essencial para forjar o estilo tardio de Nâzim, que a essa altura buscava uma forma e dicção “apoéticas”. Ele escreve, no texto de apresentação, que “a prisão conferiu a sua poesia uma textura social e histórica que o autor nunca teria alcançado se estivesse envolvido com o cenário dos escritores profissionais e suas polêmicas literárias.”

Fonte: http://brasileiros.com.br/

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publicado às 18:59


#3248 - O DILÚVIO

POEMA ORIGINÁRIO DO HAVAI TRADUZIDO POR MARIA JOÃO VILAR DE FIGUEIREDO

por Carlos Pereira \foleirices, em 26.12.22

O DILÚVIO

 

Ó Deus, eis a tua comida,

Ó Kahuli, primeiro dos homens,

Ó Kahela,

Ó tu, mulher que dormes com a face voltada para o céu...

... Ó vós, raça de Laka,

Ó Manuu, malfazejo,

Ó grande sustento, acordai o mundo.

Ó acordai,

Ó acordai, que a chuva chegou.

Chegou a madrugada,

Já as brumas correm em debandada para a terra,

Já as brumas correm em debandada para o mar,

O mar que enche e se ergue.

O mar encapelado de Iku.

O mar fecha-se sobre nós,

Ó espumoso mar,

Ó vagas que se elevam e voltam a cair,

Ó vagas indomáveis

Em Kahiki.

A salvação vem-nos de ti,

Tu arrancas-nos à morte, ó Lono.

Um altar para ti, ó Lono.

Ó Lono da noite,

Ó Lono do trovão

Ó Lono do raio,

Ó Lono da chuva forte,

Ó Lono de rosto terrível e divino,

Ó Lono, ó Lono de olhos sem descanso,

Ah, voa para o mar do sul,

Para o mar oriental,

Para a costa sombria, para a costa branca,

Para  a sombria lua, para a lua brilhante,

Ó Pipipi, ó Unauna,

Ó Aleala, ó conchas, deslizai para longe,

Ó vós, peixes Naka e Kualajai,

Ó vós, peixes Kama e Opihi que vos colais à rocha.

Ide esconder-vos na areia,

Porque o vento arranca a cabeleira das árvores.

Ó Veleiro real,

Tabernáculo da palavra de Pii,

Ó Kama-a-Poepoe, portadora da taça de água pura!

 

Poema do Havai traduzido por Maria Jorge Vilar de Figueiredo

 

 

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publicado às 14:57


#3245 - UM ROSTO NO NATAL

POEMA DE RUY BELO

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.12.22

UM ROSTO NO NATAL

 

Caiu sobre o país uma cortina de silêncio

a voz distingue o homem mas há homens que

não querem que os demais se elevem sobre os animais

e o que aos outros falta têm eles a mais

No dia de natal eu caminhava

e vi que em certo rosto havia a paz que não havia

era na multidão o rosto da justiça

um rosto que chegava até junto de mim da nicarágua

um rosto que me vinha de qualquer das indochinas

num mundo onde o homem é um lobo para o homem

e o brilho dos olhos o embacia a água

Caminhava no dia de natal

e entre muitos ombros eu pensava

em quanto homem morreu por um deus que nasceu 

A minha oração fora a leitura do jornal

e por ele soubera que o deus que cria

consentia em seu dia o terramoto de manágua

e que sobre os escombros inda havia

as ornamentações da quadra do natal

Olhava aquele rosto e nesse rosto via

a gente do dinheiro que fugia em aviões fretados

e os pés gretados de homens humilhados

de pé sobre os seus pés se ainda tinham pés

ao longo de desertos descampados

Morrera nesse rosto toda uma cidade

talvez pra que às mulheres de ministros e banqueiros

se permita exercitar melhor a caridade

A aparente paz que nesse rosto havia

como que prometia a paz na indochina a paz na alma

Eu caminhava e como que dizia 

àquele homem de guerra oculta pela calma:

se cais pela justiça alguém pela justiça

há-de erguer-se no sítio exacto onde caíste

e há-de levar mais longe o incontido lume

visível nesse teu olhar molhado e triste

Não temas nem sequer o não poder falar

porque fala por ti o teu olhar

Olhei nais uma vez aquele rosto era natal

é certo que o silêncio entristecia

mas não fazia mal pensei pois me bastara olhar

tal rosto para ver que alguém nascia

 

Poema de Ruy Belo, in "País Possível"

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publicado às 15:48


#3244 - DA DOCE GUARDA

POEMA DE LÍDIA JORGE

por Carlos Pereira \foleirices, em 21.12.22

DA DOCE GUARDA

 

Vamos para essa casa iluminada

sem candeia. Às vezes, muitas vezes

cantaremos.

 

Será uma terra coberta de ossos

mas nunca serão nossos.

Nesse lugar alguém semeará

ervas daninhas, mas nunca

serão minhas.

 

Em último caso, sempre surgirá

um anjo que nos concederá uma

doce guarda - de um lado o coração

do outro, a espada. Na hora certa

ele nos entregará um cavalo e o segredo

de montá-lo.

 

Vamos para essa casa iluminada, sem candeia

espadeirando o escuro. Que noite prodigiosa

é o futuro.

 

Poema de Lídia Jorge, in "Livro das Tréguas", edição Publicações D. Quixote, 2019

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publicado às 13:24


#3243 - A SOLIDÃO DOS HOMENS CANSADOS

POEMA DE JOÃO LUÍS BARRETO GUIMARÃES

por Carlos Pereira \foleirices, em 20.12.22

A SOLIDÃO DOS HOMENS CANSADOS

 

A

cada dia que passa me sinto mais fatigado. Um

homem procura ternura

no seu regresso a casa (um

homem não vê o instante em que despe

o ultraje) quando

sai de pés descalços pelo soalho da tarde em

busca de um

copo de olvido. Um homem conhece a casa

pelo gato à janela -

duas pupilas acesas sentam-se

à sua mesa

sentam-se à mesa da alma. E a casa recebe o homem

com uma noite sempre nova

(um homem entrega tudo a quem o 

salve do exílio)

quem lhe aplaque a solidão que existe nos

homens cansados.

 

Poema de João Luís Barreto Guimarães, in "O TEMPO AVANÇA POR SÍLABAS", Edição Quetzal, Fevereiro de 2019.

 

 

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publicado às 16:45


#3242 - MORTE ANÓNIMA

POEMA DE JOÃO LUÍS BARRETO GUIMARÃES [PRÉMIO PESSOA 2022]

por Carlos Pereira \foleirices, em 18.12.22

Ver a imagem de origem

O Tempo Avança por Sílabas

 

MORTE ANÓNIMA 

(EM MEMÓRIA DE ROBERTO LEÃO)

 

De quando em quando a Morte teima em

nos surpreender. Sem grande alarido

é certo (sequer sem se anunciar) antes

súbita e precisa

lacónica

indiferente. Mas sempre ela

a Morte

(crua e definitiva) como que

querendo mostrar inexorabilidade -

nem sempre a morte imortal que coube a Pátroclo

(entregando-se em glória à

espada do divino Heitor) ou

a que colheu Heitor arrastado por Aquiles

(sequer a que teve Aquiles na

ponta da seta de Páris). Falo de

uma morte simples mais

humana

(sem história) estranho que

nos morra mais quem morre de

morte anónima.

 

Poema de João Luís Barreto Guimarães, in "O Tempo Avança por Sílabas" edição Quetzal,  Fevereiro de 2019

 

_______________________________________________________________________

Além de poeta e tradutor, João Luís Barreto Guimarães, que nasceu no Porto em junho de 1967, é médico, professor de poesia no ICBAS/Universidade do Porto, e publicou o primeiro livro de poemas, Há Violinos na Tribo, em 1989. Depois desse, seguiram-se Rua Trinta e Um de Fevereiro (1991), Este Lado para Cima (1994), Lugares Comuns (2000), 3 (poesia 1987-1994), em 2001, Rés-do-Chão (2003), Luz Última (2006) e A Parte pelo Todo (2009). Em 2022 recebe o Prémio Pessoa.

Seguiram-se na Quetzal Editores, Poesia Reunida de 2011; Você está Aqui (2013), traduzido em Itália; Mediterrâneo (2016) distinguido com o Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa e publicado em Espanha, Itália, França, Polónia e Egipto; Nómada (2018) distinguido com o Prémio Livro de Poesia do Ano Bertrand e com o Prémio Literário Armando da Silva Carvalho, publicado também em Itália; a antologia O Tempo Avança por Sílabas (2019), editada também na Croácia, Macedónia e Brasil; e Movimento (2020). Finalista do Premio Internazionale Camaiori, em Itália, com Mediterraneo, em 2019, e Nomade, em 2020, recebeu o Willow Run Poetry Book Award 2020, nos EUA, com Mediterranean.

Está representado em antologias e revistas literárias de Portugal, Espanha (castelhano e catalão), França, Bélgica, Holanda, Reino Unido, Alemanha, Áustria, Itália, Hungria, Bulgária, Roménia, Eslovénia, Sérvia, Croácia, Montenegro, Macedónia, México, Uruguai, Chile, República Dominicana, Estados Unidos, Canadá e Brasil. Leu a sua poesia no México, Estados Unidos, Espanha, Alemanha e Croácia. Recebeu o Prémio Criatividade Nações Unidas em 1992. Além da Medicina, divide o seu tempo entre o Porto (frente ao rio) e Venade (no coração da serra, perto de Caminha, Alto Minho).
 
Fonte: QUETZAL EDITORES

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publicado às 18:11


#3241 - MÚSICA

POEMA DE ANTÓNIO GANCHO

por Carlos Pereira \foleirices, em 25.11.22

MÚSICA

 

A música vinha duma mansidão de consciência

era como que uma cadeira sentada sem

um não falar de coisa alguma com a palavra por baixo

nada fazia prever que o vento fosse de azul para cima

e que a pose uma nostalgia de movimento deambulante

era-se como se tudo por cima duma vontade de fazer uma asa

nós não movimentamos o espaço mas a vida erege a cifra

constrói por dentro um vocábulo sem se saber

como o que será

era um sinal que vinha duma atmosfera simplificante

silêncio como um pássaro caído a falar do comprimento.

 

Poema de António Gancho in "Ar  da  Manhã", edição Assírio & Alvim, 2022.

 

_________________________________________________________________________________________________________________

Poeta e ficionista. Nascido no início da década de 40, a poesia de António Gancho permaneceu inédita até 1985, data em que Herberto Helder reuniu, na sua antologia Edoi Lelia Doura, onze poemas do autor até então completamente desconhecido. As poucas informações biográficas disponíveis sobre António Gancho encontram-se aí expostas, dando a perceber a razão da escassez de publicação da obra deste poeta: «Com pouco mais de 20 anos foi internado numa clínica psiquiátrica, tendo vivido desde então em estabelecimentos deste género.» Sabe-se hoje que António Gancho viveu no estabelecimento psiquiátrico de Telhal (arredores de Lisboa) desde 1967 até à sua morte a 2 de Janeiro de 2006. Retirado da convivência editorial devido ao seu internamento, foi através do contacto com alguns amigos (de entre os quais se destacam Álvaro Lapa, António Palolo e Mário Cesariny, com os quais António Gancho tinha primeiramente contactado aquando da sua frequência do Café Gelo, ligado ao grupo dos surrealistas) que a sua produção chegou às mãos do editor. Assim, só em 1995 foi possível reunir, no volume intitulado O Ar da Manhã, toda a sua produção poética, datada de entre 1960 e 1985. Dividido em três conjuntos autónomos de poemas («Gaio do Espírito», 1985/86, «Poesia Prometida», 1985, e «Poemas Digitais», 1989), o livro em que se reúne a poesia de António Grango evidencia alguma heterogeneidade de temas e de formas poéticas, não sendo fácil a sua síntese. Assim, a par de poemas em que se explora ludicamente a materialidade sonora da linguagem como, por exemplo, nos versos «Route / Rota / Caminho puro e são / Chanção / Coração / Sahara / Uazara / Oasara / Oasimara»), com evidentes ressonâncias surrealistas, existem também alguns poemas, escritos na língua original dos autores homenageados, que se constituem como tributos a, entre outros, François Villon e Oscar Wilde, por via dos quais se estabelece uma interessante intertextualidade com os autores citados. Alguns dos mais interessantes poemas de António Gancho são aqueles em que está presente uma certa auto-reflexividade sobre os princípios de criação poética e que dão a ler os alicerçes da sua prática poética: «Nasce o sol e nasce o poema / e com esta simultaneidade / o que o poeta significa é que a sua arte é luz». Concebida como um processo de simultânea integração e totalização do homem na natureza, a poesia de António Gancho poderia ser sintetizada nestes versos seus, onde se afirma que «A poesia nasce e faz-se aqui neste fazer-se poesia. / […] A poesia assim maravilhosamente constituída / […] faz do homem o ser absoluto por natureza», sobretudo porque esta se funda num princípio de transmutação de todas as coisas: «A poesia assim é uma maravilhosa alquimia da vida».

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publicado às 20:58


#3240 - 98

POEMA DE ANTÓNIO CABRITA

por Carlos Pereira \foleirices, em 25.11.22

98

 

Como querer viver sem estar ferido,

meu amor? O falcão e a rola

desprendem-se da mesma nuvem,

de um mesmo sono sem cuidados.

 

Como estar vivo e não me engastar

No medo relativo? Heitor

é o estado que acrescentei ao nome,

a telha que faltava ao céu azul,

 

as tuas três sílabas de argila

com que a água escora o vento

e o hálito aclara a alusão:

presença de si mesmo desvendada

 

Poema de António Cabrita in "Tristia," Porto Eitora, 2021.

 

_________________________________________________________________________________________________________

BIOGRAFIA

António Cabrita (1959) tem vinte e tal livros publicados, em Portugal, Brasil (três livros de ficção) e Moçambique (livros de fábulas, poesia e ensaio). Foi jornalista durante 23 anos e editor (Fim de Século e Íman Edições). Em 2005 emigrou para Moçambique onde, neste momento, é professor de Dramaturgia e cronista no semanário Savana. Tem também uma coluna no jornal Hoje Macau. Escreveu inúmeros filmes. De entre os seus livros destacam-se: Inferno, 2001, três guiões sobre Camilo Castelo Branco, escritos em parceria com Maria Velho da Costa, Bagagem não ReclamadaAnatomia Comparada dos Animais Selvagens (Prémio PEN Clube 2018), e a Kodak faliu. também Dick, o cão da minha infância, 2020, poesia; e A Maldição de Ondina, 2013 (finalista do Prémio Literário Casino da Póvoa - C. M. Póvoa de Varzim 2013), Éter, 2015 (finalista do Prémio PEN Clube 2016), A Paixão segundo João de Deus, 2019, e Fotografar contra a luz, 2020, romances. Como tradutor, realça-se a sua antologia de poesia hispânica, As Causas Perdidas, 2020.
 
FONTE: 

PORTO EDITORA

 

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publicado às 20:35


#3239 - ROMANCE DE POMPEIA

POEMA DE DAVID MOURÃO-FERREIRA

por Carlos Pereira \foleirices, em 23.11.22

ROMANCE DE POMPEIA

 

Ninguém nos vem em socorro

Ninguém nos liberta os braços

Há dois milénios que somos

os amantes soterrados

Nem o mais ínfimo agouro

na manhã daquela tarde

Mas era o último encontro

sem que ninguém o sonhasse

E soubemos ir tão longe

tão enlaçados ficámos

que em tudo vibrava o sboço

de uma já eternidade

Mergulhados neste sono

há dois milénios ou quase

é ainda o dia de hoje

esse ontem tão recuado

Ou foi sonho o dia de ontem

e desde então acordados

nem cremos que à nossa roda

existisse uma cidade

que lá fora houvesse um Foro

lojas   casas   balneários

Apenas o teu pescoço

Apenas as tuas pálpebras

Apenas o antegosto

de sabê-las deflagradas

Sentimos súbito um sopro

mais escaldante      Julgámos

que o ar se tornara louco

do calor dos nossos lábios

que ia arder o mundo todo

com o fogo que lhe dávamos

Só depois vimos que o fogo

de encontro a nós avançava

líquido    espesso    de rojo

como um imenso lagarto

putrefacto e cujo dorso

cada vez mais coruscava

E tanto crescia em torno

da casa onde stávamos

e tanto subia ao topo

de paredes e telhado

e tanto o ardente bojo

se ia tornando compacto

que de súbito esse forno

de todo nos apertava

Leio terror no teu rosto

pânico em tuas spáduas

pavor em todo o teu corpo

que era hápouco o de uma galga

o de uma galga no ponto

mais elevado do orgasmo

E nesse ponto de há pouco

eternizados ficámos

Somos assim um do outro

há dois milénios ou quase

saboreando o tesouro

da eternidade do auge

Ao profundíssimo poço

até hoje inviolado

que no chão se abriu e onde

vivos ainda tombámos

chegam-nos vagos rumores

do que por cima se passa

todo o sonho     todo o logro

que por cima tem passado

Cascos agudos de donos

e pés desnudos de escravos

cupidez de demagogos

estupidez  de soldados

os que bramam contra o lodo

para mais lodo criarem

os que rastejam no tojo

até se julgarem águias

os que ao céu o fogo roubam

mas em fumo se desfazem

utopias de alguns tontos

visões de alguns visionários

que se quebraram de encontro

ao gelo dos homens práticos

de cujos hábeis engodos

nos poderiam ter salvo

E também a luz     a força

de corpos jovens e ágeis

corças     panteras     e potras

mais belas quanto selvagens

há lei do que há-de ser podre

todavia condenadas

Antes o fim que nos coube

Se é  que fim pode chamar-se

a este abraço em que somos

um só astro     uma só státua

uma só chama     um só tronco

por toda a eternidade

mais livres porque um do outro

um ao outro acorrentados

Ninguém nos venha em socorro

Ninguém nos deslace os braços

 

POEMA DE DAVID MOURÃO-FERREIRA, in "OBRA POÉTICA" [1948-1995], EDIÇÃO ASSÍRIO & ALVIM, NOVEMBRO 2019

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publicado às 17:58


#3238 - PRÉMIO LEYA DE LITERATURA

por Carlos Pereira \foleirices, em 27.10.22

Celso José da Costa, brasileiro, 73 anos, natural do Estado do Paraná, venceu, com o livro "A Arte de Driblar Destinos" o Prémio Leya de Literatura 2022, para romances inéditos em língua portuguesa.

 

Estiveram a concurso 218 originais provenientes de Portugal, Brasil, Espanha, Alemanha, Holanda, Inglaterra, Moçambique e Polónia.

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publicado às 22:07


#3236 - THE BOOKER PRIZE 2022

por Carlos Pereira \foleirices, em 19.10.22

O escritor cingalês Shehan Karunatilaka venceu, com o livro "The Seven Moons Of Maali Almeida", The Booker Prize 2022.

 

"The Seven Moons of Maali Almeida" é o segundo livro do autor nascido em 1975 no Sri Lanka que ganhou notoriedade internacional quando o seu primeiro livro "Chinaman" venceu o Commonwealth Book Prize.

 

The Booker Prize, criado em 1969, distingue anualmente obras de ficção escritas em inglês e publicadas no Reino Unido e Irlanda é considerado um dos Prémios Literários mais importante do mundo.

 

Desde 2015, a Booker Prize Foundation atribui também anualmente o International Booker Prize, um galardão que distingue obras escritas noutras línguas desde que tenham sido traduzidas para inglês. O prémio deste ano foi entregue à escritora Geetanjali Shree, pela obra “Tomb of Sand”. Foi a primeira vez que um livro escrito numa língua indiana venceu este galardão.

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publicado às 18:26


#3235 - LIVROS E LEITURAS

por Carlos Pereira \foleirices, em 11.10.22

SINOPSE
 

Uma Conversa Silenciosa, de Eugénio Lisboa, reúne 78 textos, breves ensaios sobre literatura, sobre escritores, sobre política cultural, sobre edição e editores. ao longo de todos os ensaios perpassa a erudição do autor, o seu vasto conhecimento, não apenas das literaturas lusófonas mas também das literaturas de outras latitudes, nomeadamente de língua inglesa e francesa.

Numa escrita elegante, onde o rigor da palavra se associa a uma enorme amplitude cultural, pontuada, por vezes, pelo episódio curioso ou pela citação oportuna, Uma Conversa Silenciosa é também um diálogo. Diálogo onde o leitor tem como interlocutor um dos maiores críticos literários portugueses.

 

EUGÉNIO LISBOA

Escritor e engenheiro português nascido em 1930, em Lourenço Marques (atual Maputo). Colaborou em diversos jornais e revistas e foi autor de programas radiofónicos de divulgação de teatro. Dedicou-se ao estudo da literatura portuguesa e particularmente do Neorrealismo, tendo publicado, entre outros títulos, José Régio - A Obra e o Homem (1976), O Segundo Modernismo em Portugal (1977) e Poesia Portuguesa: do "Orpheu" ao Neorrealismo (1980). Atualmente ocupa o cargo de adido cultural da Embaixada de Portugal em Londres

 

 

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publicado às 17:06


#3234 - LIVROS E LEITURAS

por Carlos Pereira \foleirices, em 11.10.22

 

 

SINOPSE
 

«Uma questão difícil de tratar. É assim que o historiador e crítico de arte Norte-americano James Elkins vê a relação entre criação artística e religião na contemporaneidade. O seu ensaio mais conhecido sobre este tema tem um título que diz tudo: The Strange Place of Religion in Contemporary Art (2004). E estranho lugar porquê? Certamente as razões culturais são antigas e profundas e ligam-se ao debate que funda a modernidade: a emergência da autonomia do espaço secular face ao religioso, a reivindicação da liberdade individual reinterpretando a estrita normatividade do ethos comunitário, o desmantelamento de uma visão social que tinha no referente religioso o seu elemento decisivo de definição, etc.» É com estas palavras que começa o texto introdutório do Cardeal Tolentino Mendonça.

Este volume nasceu no contexto da pandemia. No primeiro inverno da era pandémica, Álvaro Siza, pelas razões que ele explica no texto, fez uma série de desenhos sobre a Paixão de Cristo, mais precisamente 45. Foram eles o ponto de partida para um diálogo, em forma de entrevista, com o Cardeal Tolentino sobre o lugar estranho do religioso na arte contemporânea e outras questões que sempre surgem quando se fala de arte e de religião e quando os interlocutores são pessoas com a autoridade destes dois referentes da cultura do nosso tempo. Aqui se reproduzem os desenhos e o texto desse diálogo.

 

FONTE: WOOK

 

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publicado às 16:40


#3233 - PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA 2022

por Carlos Pereira \foleirices, em 09.10.22

ANNIE ERNAUX

Annie Ernaux, escritora francesa, 82 anos, vence o Prémio Nobel da Literatura 2022.

A escolha, de acordo com o júri da Academia Sueca, refere a "coragem e acuidade clínica" explica a sua decisão.

Os seus livros são publicados em Portugal pela editora Livros do Brasil.

Annie Ernaux nasceu em Lillebonne, na Normandia, em 1940, e estudou nas universidades de Rouen e de Bordéus, sendo formada em Letras Modernas. É atualmente uma das vozes mais importantes da literatura francesa, destacando-se por uma escrita onde se fundem a autobiografia e a sociologia, a memória e a história dos eventos recentes. Uma espécie de «diário em bruto», nas palavras da Academia Sueca.

 

Galardoada com o Prémio de Língua Francesa (2008), o Prémio Marguerite Yourcenar (2017) e o Prémio Formentor de las Letras (2019) pelo conjunto da sua obra, destacam-se os seus livros Um Lugar ao Sol (1984), vencedor do Prémio Renaudot, e Os Anos (2008), vencedor do Prémio Marguerite Duras e finalista do Prémio Man Booker Internacional, e já publicado pela Livros do Brasil em fevereiro de 2020, na coleção Dois Mundos. Em outubro do mesmo ano, foi editado, dessa feita na coleção Miniatura, o romance Uma Paixão Simples. Seguiu-se O Acontecimento, disponível nas livrarias desde o mês passado, um relato despojado de uma situação de aborto ilegal, escrito em 1999 e recentemente adaptado ao grande ecrã num filme premiado em Veneza.

 

Fonte: LIVROS DO BRASIL

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publicado às 22:42


#3232 - EPOPEIAS DE LUZ [POEMA DE ANA LUÍSA AMARAL]

por Carlos Pereira \foleirices, em 26.09.22

 

Ana Luísa Amaral (1956-2022)

EPOPEIAS DE LUZ

 

Queria um poema de epopeia

e luz,

escrito às duas da tarde

e num café,

o espelho à minha esquerda,

o café amarelo (que é cor de que não gosto,

mas que brilha

na tarde adolescente)

 

Se eu não tivesse olhar,

mas só ouivido atento a pequenos ruídos,

como uma voz e coisas indistintas:

o café a sair para lá do balcão,

uma cadeira de ferro

pintado

a arrastar-se de súbito...

 

Incongruências de quem tem olhar:

que no poema de epopeia

e luz

eu fale do que é táctil, mas se vê

(Ah! linha que seduz,

mas que contenho!)

 

Atirar a palavra pelo chão

com o abandono todo

da adolescência em tarde,

tantas horas de sol à minha frente

Deixá-la navegar como se fosse gente

quinhentista:

ao longo do desejo

e para lá

 

À minha esquerda, o espelho

que a reflicta,

a multiplique em sons e em sentidos,,

lhe evite idade adulta

e a guarde finalmente:

adolescente e nua

como a tarde

 

Até que dela nasça,

navegando,

poema de epopeia sem o ser,

mas corpo todo em luz e boa esperança:

como um Adamastor,

uma criança,

uma sereia abandonada

e livre

 

Poema de Ana Luísa Amaral

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publicado às 19:15


#3231 - LIVROS E LEITURAS ||| Histórias de loucura normal

por Carlos Pereira \foleirices, em 26.09.22

 

Estas histórias, inspiradas na própria vida do autor, são tão selvagens e inusitadas quanto as histórias dos seus romances. Bukowski foi uma lenda no seu tempo e um visionário para aqueles que se lhe seguiram. Louco, recluso, amante. Afável e mesquinho. Lúcido e insano. Sempre inesperado. As excepcionais Histórias de loucura normal vêm directas do âmago de uma vida, a que ele mesmo viveu, marcada pela violência e pela depravação. Histórias de liberdade, tão profanas quanto sagradas.
Da prostituição à música clássica, Bukowski traça neste livro um retrato irado, apesar de terno, bem-humorado e inquietante, da vida marginal de Los Angeles, uma realidade obscura e perigosa que emoldurou a vida de um dos maiores escritores de culto do século XX.

Histórias, afinal, da loucura que espreita dentro de cada um de nós, que faz do corpo uma marioneta e que não desaparece senão com a morte.

________________________________________________________________

Charles Bukowski nasceu na Alemanha, em 1920, mas cresceu em Los Angeles, onde viveu durante cinquenta anos. Publicou o seu primeiro conto em 1944, quando tinha vinte e quatro anos, e começou a escrever poesia com trinta e cinco anos. Morreu em 1994, aos setenta e três anos, pouco tempo depois de completar o seu último romance, Pulp. Viu publicados mais de quarenta e cinco livros de prosa e poesia, incluindo os romances Post Office (1971), Factotum (1975), Women (1978), Ham on Rye (1982), Hollywood (1989) e Pulp (1994). É um dos autores americanos contemporâneos mais conhecidos a nível mundial e, possivelmente, o poeta americano mais influente e imitado de sempre.

FONTE: WOOK

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publicado às 18:38


#3230 - O ESPELHO ||| Poema de Vasco Graça Moura

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.08.22

VASCO GRAÇA MOURA [1942-2014]

 

O ESPELHO

 

escrevo, escreverei para espalhar a realidade,

suas sombras rasteiras, suas nuvens altas,

a luz mais líquida de algum olhar, as difíceis ausências

e as plantas lascivas trepando entre os silêncios,

 

entre lisas colunas, níveas tetas, roxos lírios

e citações assim, da minha juventude,

e os ritmos do vento e a erosão dos seixos,

e os fios de algumas ariadnes, solícitas e lúbricas

 

na sua timidez, nos estranhos percursos

em que há devorações e o poema se torna

uma triste película a envolver a alma

para lhe conservar as impurezas do desejo.

 

talvez por isso a escrita não passe de um concheiro

de camadas calcárias que o tempo estratifica,

mas então o real que ela espelhou não mente

embora mais terrível se torne desvendá-lo,

 

digo eu do meu amor, do que trarei comigo

até me calcinar ou da violência dos corpos

por noites esquecidas feitas de fogo e orgasmo

e entrecortadas palavras e roucos monossílabos,

 

digo eu da superfície de um lago de sossego

em que a lua mergulha e uma brisa mais tensa

ressoa nos pinheiros, percorre a habitação

e traz em seus harpejos o eco de um soluço.

 

tornou-se este lugar a pedra da violência

onde se calam a voz, a luz, so sons da terra,

e tudo se entrechoca e tudo se fragmenta

e as quadrigas do tempo não poderão deter-se

 

e então é que eu escrevo desde esta realidade

esperando da escrita que pelo menos sirva

para espelhá-la em suas nuvens altas

e nas sombras que crescem até ao teu olhar.

 

POEMA DE VASCO GRAÇA MOURA RETIRADO DO LIVRO "O CADERNO DA CASA DAS NUVENS", EDIÇÃO N.º 1266  EDIÇÕES AFRONTAMENTO MARÇO DE 2010                                                                

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publicado às 18:43


#3228 - LIVROS E LEITURAS

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.07.22

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publicado às 15:58


#3226 - PRÉMIO BOOKER INTERNACIONAL

por Carlos Pereira \foleirices, em 12.03.22

The 2022 International Booker Prize


Paulo Scott, escritor brasileiro, é um dos 13 nomeados da edição deste ano do Prémio Booker Internacional com o livro "Marrom e Amarelo" com a tradução para a língua inglesa de Daniel Hahn.

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The 13 long listed novels have been announced. They are works of fiction translated into English from 11 languages and originate from 12 countries across four continents – including Hindi for the first time.

This year’s longlist includes previous winners Olga TokarczukJennifer CroftDavid Grossman and Jessica Cohen, alongside authors translated into English for the first time. 

Independent presses with a mission for bringing the world’s fiction to English-speaking readers have dominated, with Tilted Axis - the publisher founded by Man Booker International Prize winner Deborah Smith - appearing on the list for the first time with three titles.

The shortlist of six will be announced on 7 April and the winners of the prize will be named on 26 May 2022. 

The Longlist

Paradais

Paradais

byFernanda Melchor

Translated by Sophie Hughes

Heaven

Heaven

byMieko Kawakami

Translated by Samuel Bett David Boyd

Love In The Big City

Love in the Big City

bySang Young Park

Translated by Anton Hur

Happy Stories Mostly

Happy Stories, Mostly

byNorman Erikson Pasaribu

Translated by Tiffany Tsao

Elena Knows

Elena Knows

byClaudia Piñeiro

Translated by Frances Riddle

The Book of Mother

The Book of Mother

byViolaine Huisman

Translated by Leslie Camhi

More Than I Love My Life

More Than I Love My Life

byDavid Grossman

Translated by Jessica Cohen

Phenotypes

Phenotypes

byPaulo Scott

Translated by Daniel Hahn

A New Name, Septology VI-VII

A New Name: Septology VI-VII

byJon Fosse

Translated by Damion Searls

After The Sun

After the Sun

byJonas Eika

Translated by Sherilyn Hellberg

Tomb of Sand

Tomb of Sand

byGeetanjali Shree

Translated by Daisy Rockwell

The Books of Jacob

The Books of Jacob

byOlga Tokarczuk

Translated by Jennifer Croft

Cursed Bunny

Cursed Bunny

byBora Chung

Translated by Anton Hur

 

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publicado às 09:15


#3225 - GRANDE PRÉMIO DE ENSAIO EDUARDO PRADO COELHO

por Carlos Pereira \foleirices, em 12.03.22

 

Cristina Robalo-Cordeiro, professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, venceu o Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho, da Associação Portuguesa de Escritores (APE), em conjunto com a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, com a obra "O Véu de Maia - Relendo Almeida Faria".

Esta obra foi publicada por Edições Minerva em 2020.

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publicado às 08:49


#3223 - O MEU FILHO É INTERROGADO

PROSA DE TIMOTHY HAGELSTEIN

por Carlos Pereira \foleirices, em 01.03.22

Ouço um disco da Dulce Pontes, aqueles fados imortais, Canção do Mar, Povo que lavas no rio, Se voasses para perto de mim... todas canções maravilhosas.

 

Isso ajuda-me a suportar a distância, o tempo faz o sentimento, transforma-o e idealiza-o, imagino o brilho suave nas terras escarlates do Alentejo, naquela estrada que leva ao Sul e atravessa aldeias adormecidas. E hoje dou comigo a pensar no que a actual namorada do meu filho, o seu primeiro amor, lhe perguntará daqui a alguns anos quando se voltarem a encontrar, com uma outra vida desenhada e outras respirações partilhadas, para ambos, imagino as suas questões, se eu ainda estiver vivo, ela poderá perguntar-lhe:

 

E o teu pai? Ainda encerrado na sua gruta, o seu escritório e ateliê de  criação? A  procurar palavras e a juntá-las, transmitindo uma ideia, um momento que conseguiu captar, uma pata com os seus patinhos? uma imagem para desenhar ou colorir? uma música que não lhe sai da cabeça e não o deixa em paz até a ter gravado? Ainda tão solitário e afastado de tudo e de todos, sozinho com as suas memórias indefiníveis excepto através dos seus poemas? Continua um misantropo? revoltado contra a ignomínia dos políticos e apoiantes de movimentos políticos ou sindicais hipócritas? Ainda fala das suas noites bravas e das cores do céu cujos perfumes dizia respirar, quando dizia que alguém era um poema que vivia dentro de si e através do qual chegava ao seu coração e aos seus tormentos? Invejoso, mas com admiração, não cobiça, sentimemnto que diz nunca ter tido e que deixou aos medíocres que desperdiçam a sua energia preocupando-se com os outros.

 

Continua tão solitário, tão afastado de tudo, após ter conhecido certas glórias e certas luzes? Revoltado contra as sentinelas da moralidade nas suas cidadelas, intransigentes, contra aqueles que cultivam com talento a denúncia, ele que se alimenta da imprevisibilidade do som das palavras e que vê em cada velho músico uma beleza digna de uma pintura de Miguel Ângelo. Esses Mick Jaggers, esses Keith Richards, septuagenários enrugados e marcados mas tão belos pelas suas vivências.

 

Ainda tem aqueles ímpetos para misturar violentamente cores numa tela infernal que ninguém entende, mas na qual ele vê o deserto florescer ou um pequeno fosso amargo de riquezas íntimas? Ainda diz que as palavras são sons, a música,  cores, e a çpintura, frases coloridas e que, portanto, as expressões das três artes são idênticas e se fundem?

 

Não sei o que o meu filho poderá responder, sei, pelo menos espero, que ele lhe dirá que passou comigo os melhores anos da sua vida familiar e que o amor que lhe dei foi o principal, a arte é apenas uma mensagem que deixarei àqueles que apreciei e amei na vida e que me terá ajudado a viver, sobreviver e morrer e,  na verdade, isso é o principal.

 

TEXTO DE TIMOTHY HAGELSTEIN, DO LIVRO "APNEIAS EMOCIONAIS - POESIAS, PROSAS E NOTAS BIOGRÁFICAS", EDIÇÃO GUERRA E PAZ, EDITORES, NOVEMBRO DE 2021, TRADUÇÃO DE ANA PAULA FILIPE.

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publicado às 19:59


#3216 - LIVROS E LEITURAS

APNEIAS EMOCIONAIS - TIMOTHY HAGELSTEIN

por Carlos Pereira \foleirices, em 05.02.22

AFAGAR A MEMÓRIA

 

Desenho a tua ausência,

perdoo-te por existires;

alquimia que mistura

a chuva do passageiro.

Gestos de amor esquecidos

e esperanças nocturnas

da minha infância destruída

levaram afinal à minha fortuna.

Podes a minha memória afagar

para eu sempre em ti acreditar?

 

POEMA DE TIMOTHY HAGELSTEIN "in Apneias Emocionais" edição Guerra & Paz, Novembro de 2021, tradução de Ana Paula Filipe

 

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publicado às 20:17


#3213 - A STANISLAW WYSPIANSKY

POEMA DE KATHERINE MANSFIELD [1888-1923]

por Carlos Pereira \foleirices, em 13.01.22

Credit: Getty Images/Keystone

 

A STANISLAW  WYSPIANSKY

 

Do outro lado do mundo,

De uma pequena ilha embalada no grande regaço do mar,

De uma pequena ilha sem história,

(Fazendo a sua própria história, lenta e desajeitadamente,

Juntando isto e aquilo, encontrando o padrão, resolvendo o problema,

Como uma criança com uma caixa de tabuinhas),

Eu, uma mulher, com a marca do pioneiro no meu sangue,

Cheio de uma força juvenil que consigo guerreia e ignora leis,

Canto em teu louvor, guerreiro magnífico; Eu proclamo a tua batalha triunfante.

O meu povo não teve nada contra o que lutar;

Trabalharam à luz clara do dia e manipularam o barro com dedos rudes;

A Vida - uma coisa de sangue e músculo; a Morte - um enterro de desperdícios.

 

Que poderiam saber de fantasmas e presenças invisíveis,

De sombras que obscurecem a realidade, da escuridão que nega a manhã?

Límpida e suave é a água que escorre das suas montanhas;

Como poderiam conhecer ervas venenosas, gavinhas podres que estorvam?

A tapeçaria tecida com os sonhos da tua infância trágica

Eles rasgariam com as suas mãos inábeis,

A luz triste e pálida da tuua alma apagariam com o seu riso infantil.

Mas os mortos - os velhos - Oh Mestre, aí te pertencemos;

Oh Mestre, somos crianças e aterrados pela força de um gigante;

Como saltaste vivo para o túmulo e lutaste com a Morte

E encontrste nas veias da Morte o sangue vermelho florindo

E ergueste a Morte nos teus braços e a mostraste a todo  o povo.

A tua foi uma tarefa mais pessoal que os milagres do Nazareno,

O teu um encontro mais estrénuo que as ordens mais amáveis do Nazareno.

Stanislaw Wyspiansky - oh homem com o nome de um combatente,

Através destes milhares de quilómetros estilhaçados de mar, em alta voz te proclamam;

Dizemos «Ele jaz na Polónia, e a Polónia pensa que ele morreu;

Mas ele disse não à Morte - ele jaz ali, acordado;

O sangue do seu grande coração pulsa vermelho nas suas veias».

 

Poema de Katherine Mansfield, escritora neozelandesa, (1888-1923) traduzido por José Alberto Oliveira

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publicado às 06:46


#3210 - LIVROS E LEITURAS

AS CRÓNICAS - ANTÓNIO LOBO ANTUNES

por Carlos Pereira \foleirices, em 26.12.21

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publicado às 22:58


#3207 - "TOMÁS NEVINSO" - O NOVO LIVRO DE JAVIER MARÍAS

por Carlos Pereira \foleirices, em 21.12.21

SINOPSE

Dois homens - um deles na ficção, o outro na vida real - tiveram oportunidade de assassinar Hitler antes que ele desencadeasse a Segunda Guerra Mundial. Um mal menor teria impedido um mal maior. Se é legítimo pensar que aqueles dois homens deveriam ter disparado sobre o Führer para evitar a morte de milhões, até que ponto podemos decidir quem merece viver ou morrer?

Tomás Nevinson, marido de Berta Isla, cai na tentação de regressar aos Serviços Secretos após uma temporada de ausência. Estamos no ano de 1997. Tomás é incumbido de se deslocar a uma cidade do Noroeste de Espanha para identificar uma pessoa que, dez anos antes, participara em atentados do IRA e da ETA.

A missão é-lhe atribuída pelo seu ex-chefe, Bertram Tupra, figura ambígua que já anteriormente lhe atrapalhara a vida. Ambos são anjos desagradáveis que devem velar pela tranquilidade dos demais. Feito espião que sonda a verdade, Javier Marías constrói uma intriga inquietante, uma reflexão profunda acerca do alcance e das consequências das nossas acções.

Quão longe podemos ir para evitar o triunfo do mal? E, num mundo de claro-escuro, como podemos estar certos do que é o mal?

Tomás Nevinson é o retrato do que acontece a alguém a quem já tudo aconteceu, o retrato de um homem que tenta intervir na História e acaba desterrado do mundo.

 

CRÍTICAS DE IMPRENSA
««Tomás Nevinson será talvez o melhor romance que Javier Marías já publicou.»
José-Carlos Mainer, El País

«Sempre que leio Javier Marías, tenho a impressão de estar a ouvir uma sinfonia.» Julia Navarro, Hoy por Hoy

«Marías escreve como sempre, escreve como ninguém, [...] porque está num outro nível: eleva-nos e está a fazer - porque não dizê-lo? - o que Shakespeare fez com a sua época e com os seres humanos da sua época.»
Alberto Olmos, El Confidencial

«É impossível dizer se este é o melhor romance de Marías. Mas é, sem dúvida, um dos mais empolgantes.»
J. A. Masoliver Ródenas, La Vanguardia

«Uma história poderosa, com uma pulsação fortíssima. [...] Um assombroso retrato da realidade. [...] Um romance impressionante.»
Antonio Lucas, El Mundo
 
 
Tomás Nevinson
ISBN 9789897843518Edição/Reimpressão 12-2021Editor: Alfaguara PortugalIdioma: PortuguêsDimensões: 149 x 233 x 42 mmEncadernação: Capa molePáginas: 656Tipo de Produto: LivroClassificação Temática: Livros em Português Literatura Romance
 
 
___________________________________________________________________________________________
 
Javier Marías nasceu em Madrid em 1951. É um dos mais destacados autores espanhóis da atualidade. É autor de Los dominios del lobo, Travesía del horizonte, El monarca del tiempo, El siglo, El hombre sentimental (Prémio Ennio Flaiano), Todas las almas (Prémio Ciudad de Barcelona), deste Amanhã na batalha pensa em mim (Prémio Fastenrath, Prémio Rómulo Gallegos, Prix Fémina Étranger), Negra espalda del tiempo, Tu rostro mañana (3 volumes), Os enamoramentos e Coração tão branco (vencedor do Prémio da Crítica em Espanha, do Prix l’Oeil et la Lettre e do IMPAC Dublin Literary Award), estes dois últimos já publicados na Alfaguara).
Tem ainda editados vários livros de contos, antologias e coletâneas de ensaios e crónicas.
Em 1997, recebeu o Prémio Nelly Sachs, em Dortmund; em 1998, o Prémio Comunidad de Madrid; em 2000, os prémios Grinzane Cavour, em Turim, e Alberto Moravia, em Roma; em 2008, os prémios Alessio, em Turim, e José Donoso, no Chile; e, em 2011, o Prémio Nonino, em Udine, e o Prémio Literário Europeu, todos eles pelo conjunto da sua obra. Entre as traduções de sua autoria, destaca-se a de Tristram Shandy.
Foi professor na Universidade de Oxford e na Universidade Complutense de Madrid. A sua obra encontra-se publicada em quarenta e dois idiomas e cinquenta e quatro países, com seis milhões de exemplares vendidos em todo o mundo.
É membro da Real Academia Espanhola.
 
FONTE:WOOK
 

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publicado às 09:00


#3206 - PRÉMIO LITERÁRIO VERGÍLIO FERREIRA

por Carlos Pereira \foleirices, em 21.12.21

HELENA BUESCU, professora universitária da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa onde leciona Literatura Comparada, foi galardoada com o Prémio Literário Vergílio Ferreira atribuído pela Universidade de Évora.

Considerada uma autoridade incontestável dos estudos comparatistas, publicou 12 livros de ensaio, tendo a sua última obra "O Poeta na Cidade: A Literatura Portuguesa na História" vencido o Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho, da Associação Portuguesa de Escritores.

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Prémio Vergílio Ferreira

A Universidade de Évora atribui desde 1997 o Prémio Vergílio Ferreira ao conjunto da obra literária de um autor de língua portuguesa destacado no âmbito da narrativo e/ou do ensaio. 

Foi em 1959 que Vergílio Ferreira (1916-1996) publicou o livro que lhe rendeu o Prémio Camilo Castelo Branco da Sociedade Portuguesa e também aquele que o ligará para sempre a Évora. A obra “Aparição” retrata a cidade, na qual o autor ainda viveu, durante a época do salazarismo, fazendo referência a algumas marcas ainda presentes nos dias de hoje e levando o leitor a conhecer alguns dos locais mais emblemáticos de Évora, como é o caso do próprio Colégio do Espírito Santo. A cerimónia de entrega do Prémio Vergílio Ferreira realiza-se anualmente a 1 de março, o dia em que se assinala também o aniversário da morte do seu patrono. 

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publicado às 06:35


#3205 - O MAIS FORTE ENTRE OS ESTRANHOS

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI

por Carlos Pereira \foleirices, em 10.12.21

não os encontrarás com regularidade

pois não se encontram

onde se encontra 

a multidão

 

estes seres ímpares,

não há muitos

mas deles

vêm

os poucos

bons quadros

as poucas

boas sinfonias

os poucos

bons livros

e outras

obras.

 

e dos

melhores

entre os estranhos

talvez

nada.

 

eles são

os seus próprios

quadros

os seus próprios

livros

as suas próprias

obras.

 

às vezes penso

que

os vejo - por exemplo

um determinado

velho

sentado num

determinado banco de jardim

de uma determinada 

forma

 

ou 

uma cara fugaz

num carro

que passa

em direcção

contrária

 

ou

há um certo

gesto de mãos

do rapaz ou

da rapariga

a embalar compras

em sacos

de supermercado.

 

às vezes

até é alguém

com quem se vive

há algum

tempo -

dás conta de

um fugidio

olhar luminoso

que nunca lhes viras

antes.

 

às vezes

apenas notas

a sua existência

subitamente

e de forma vívida

alguns meses

alguns anos

depois de

partirem.

 

lembro-me

de um caso

assim -

ele tinha

cerca de 20 anos

bêbedo

às 10 da manhã

a fitar

um espelho partido

em Nova Orleães

 

cara sonhadora

contra

as paredes

do mundo

 

para

onde

fui eu?

 

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI, DO LIVRO "OS CÃES LADRAM FACAS (ANTOLOGIA POÉTICA", EDIÇÃO ALFAGUARA, NOVEMBRO DE 2018

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publicado às 06:49


#3203 - JOSÉ CARLOS BARROS VENCEU O PRÉMIO LEYA 2021

"As Pessoas Invisíveis"

por Carlos Pereira \foleirices, em 07.12.21

"As Pessoas Invisíveis", romance escrito por José Carlos Barros, foi a escolha, por unanimidade, do Júri do Prémio Leya 2021.

O Prémio Leya foi criado em 2008 com o objectivo de distinguir um romance inédito escrito em português.

 

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José Carlos Barros nasceu em Boticas em 1963. Licenciado em Arquitetura Paisagista pela Universidade de Évora, foi diretor do Parque Natural da Ria Formosa. É autor de dois romances e de nove livros de poesia, tendo sido distinguido com vários prémios literários. Vive no Algarve, em Vila Nova de Cacela, desde finais dos anos oitenta.

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publicado às 17:45


#3202 - OS TAGARELAS

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI

por Carlos Pereira \foleirices, em 03.12.21

OS TAGARELAS

o rapaz de pés enlameados atravessa-me a 

alma

a falar de recitais, de virtuosos, de maestros,

dos romances menos conhecidos de Dostoiévski;

a falar de como corrigiu uma empregada de mesa,

uma bimba que desconhecia que o molho francês

era feito disto e daquilo;

tagarela sobre as Artes até

eu odiar as Artes,

e não há nada mais limpo

do que voltar para um bar ou

do que ir para o hipódromo

e vê-los correr

ver coisas a passar sem este

clamor e falatório,

falar, falar, falar,

a boquinha a mexer, os olhos a piscar,

um rapaz, uma criança, doente com as Artes,

a agarrar-se a elas como à saia da mãe,

e pergunto-me quantos dezenas de milhares

existem como ele por esta terra

em noites chuvosas

em manhãs soalheiras

em serões que prometiam paz

em salas de concerto

em cafés

em recitais de poesia

a falar, a sujar, a discutir.

é como o porco

que vai para a cama

com uma mulher linda

e por causa disso

deixas de querer aquela mulher.

 

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI in "Os cães ladram facas"[Antologia Poética], edição Alfaguara, Novembro de 2018

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publicado às 06:42

Jeferson Tenório, escritor brasileiro, venceu com o livro "Avesso da Pele" o Prémio Jabuti na categoria de "Romance Literário".

 

Pode ver aqui a lista completa dos vencedores das outras categorias

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Jeferson Tenório nasceu no Rio de Janeiro, em 1977. Radicado em Porto Alegre, é doutorando em Teoria Literária pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Estreou-se na literatura com o romance O beijo na parede (2013), eleito livro do ano pela Associação Gaúcha de Escritores. É autor também de Estela sem Deus (2018). O avesso da pele é o seu terceiro romance e está a ser adaptado ao cinema.

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publicado às 19:07


#3192 - PRÉMIO GONCOURT 2021

por Carlos Pereira \foleirices, em 05.11.21

Mohamed Mbougar Sarr, escritor senegalês, foi o vencedor do Prémio Goncourt de 2021 com o romance "La Plus Secrèt Mémoire des Hommes".

É o primeiro autor da África subsaariana a receber o mais importante galardão literário francês.

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publicado às 06:56


#3191 - DAMON GALGUT VENCE O PRÉMIO BOOKER PRIZE 2021

por Carlos Pereira \foleirices, em 04.11.21

 

Damon Galgut, escritor sul-africano, venceu com o livro "The Promise" o Prémio Booker Prize

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publicado às 23:24


#3190 - PRÉMIO LITERÁRIO FERNANDO NAMORA 2021

por Carlos Pereira \foleirices, em 02.11.21

 

 

João Tordo venceu o Prémio Literário Fernando Namora 2021 com o livro "Felicidade".

Este prémio é atribuído pela Estoril Sol há 24 anos.

 

 

SINOPSE

Lisboa, 1973
Nas vésperas da revolução, um rapaz de dezassete anos, filho de um pai conservador e de uma mãe liberal, cai de amores por Felicidade, colega de escola e uma de três gémeas idênticas.
As irmãs Kopejka são a grande atracção do liceu: bonitas, seguras, determinadas, são fonte de desejos e fantasias inalcançáveis.

Respira-se mudança - a Europa a libertar-se das suas ditaduras e Portugal a despedir-se da velha ordem - e vive-se a promessa da liberdade, com todos os seus riscos e encantos. É neste tempo e neste mundo, indeciso entre tradição e modernidade, que o nosso narrador cai num abismo pessoal.

A primeira noite de amor com Felicidade acaba de forma trágica, e o jovem vê-se enredado na malha inescapável das trigémeas Kopejka, três Fúrias que não tem poderes para controlar. À semelhança de uma tragédia grega, o herói encontra-se subjugado por forças indomáveis, preso entre dois mundos.

Felicidade é uma história de amor e assombração nas décadas que transformaram Portugal. Um romance enfeitiçante, repleto de ironia e humor, de remorso e melancolia, em que João Tordo aborda os temas do amor e da morte, e das pulsões humanas que os unem.

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publicado às 06:57


#3177 - UMA VEZ QUE JÁ TUDO SE PERDEU ||| POEMA DE RUY BELO

por Carlos Pereira \foleirices, em 05.09.21

UMA VEZ QUE JÁ TUDO SE PERDEU

 

Que o medo não te tolha a tua mão

Nenhuma ocasião vale o temor

Ergue a cabeça dignamente irmão

falo-te em nome seja de quem for

 

No princípio de tudo o coração

como o fogo alastrava em redor

Uma nuvem qualquer toldou então

céus de canção promessa e amor

 

Mas tudo é apenas o que é

levanta-te do chão põe-te de pé

lembro-te apenas o que te esqueceu

 

Não temas porque tudo recomeça

Nada se perde por mais que aconteça

uma vez que já tudo se perdeu

 

Poema de Ruy Belo in "Homem de Palavra[s]", pág. 312 da colectânea "Todos os Poemas", edição Assírio & Alvim de Abril de 2014 (4.ª Edição)

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publicado às 10:17


#3174 - LIVROS E LEITURAS

por Carlos Pereira \foleirices, em 17.08.21

SINOPSE

Entrada essencial no vasto universo de Theroux e na sua constante procura pelo autêntico dos lugares, das pessoas e dos livros.
Nesta sequência de grandes lugares, pessoas e prosas, os ensaios de viagem levam-nos ao Equador, ao Zimbabwe, ao Havai e muito além; as pérolas de crítica literária revelam fascinantes profundezas (e facetas pouco conhecidas) nas obras de Henry David Thoreau, Graham Greene, Joseph Conrad e Georges Simenon, entre outros; e a série de impressionantes perfis pessoais levam-nos numa viagem aérea com Elizabeth Taylor, a envolver-nos com a neurologia de rua de Oliver Sacks e a explorar Nova Iorque com Robin Williams.

A este variadíssimo leque de temas, experiências, gostos, encontros, autores, celebridades, artistas e geografias não podiam faltar as reflexões mais íntimas e as histórias e recordações mais pessoais e familiares - em textos como «O verdadeiro eu: uma recordação», «A vida e a revista Life» ou «Paizinho querido: recordações do meu pai».

Figuras numa Paisagem é uma entrada essencial no vasto universo de Theroux, cuja argamassa é uma ampla meditação e a procura constante do autêntico nas pessoas, nos lugares e nos livros.
 
 
______________________________________________________________________________________________________________
 

BIOGRAFIA

Paul Theroux nasceu em Medford, no Massachusetts, em 1941. O pai era franco-canadiano e a mãe italiana, e Paul era um dos sete irmãos. Frequentou as Universidades do Maine e, posteriormente, do Massachusetts. O curso de Escrita Criativa que realizou com o poeta Joseph Langland fê-lo descobrir que escrever era o que queria fazer na vida. Viveu em Itália, onde foi leitor; no Malawi, onde também ensinou e esteve envolvido no golpe de Estado que tentou depor o então presidente-ditador; em Singapura e no Uganda, onde deu aulas de Inglês e não só conheceu a sua futura mulher como também encontrou, pela primeira vez, V.S. Naipaul (que viria a ser seu grande amigo e mentor). Paul Theroux vive atualmente entre Cape Cod e o Havai.
A par das colaborações regulares que manteve ao longo dos anos com as revistas PlayboyEsquire e Atlantic Monthly, escreveu dezenas de romances (alguns adaptados ao cinema), ensaios e alguns dos melhores livros de viagens de sempre, como O Velho Expresso da PatagóniaComboio Fantasma para o Oriente e O Grande Bazar Ferroviário, todos publicados pela Quetzal.
 
FONTE: QUETZAL

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publicado às 18:24


#3173 - LIVROS E LEITURAS

por Carlos Pereira \foleirices, em 29.06.21

 

CNC-Irene-Vallejo-_-O-Infinito-num-Junco-.jpg

A Invenção do livro na antiguidade e o nascer da sede dos livros.
Este é um livro sobre a história dos livros. Uma narrativa desse artefacto fascinante que inventámos para que as palavras pudessem viajar no tempo e no espaço. É o relato do seu nascimento, da sua evolução e das suas muitas formas ao longo de mais de 30 séculos: livros de fumo, de pedra, de argila, de papiro, de seda, de pele, de árvore, de plástico e, agora, de plástico e luz.

É também um livro de viagens, com escalas nos campos de batalha de Alexandre, o Grande, na Villa dos Papiros horas antes da erupção do Vesúvio, nos palácios de Cleópatra, na cena do homicídio de Hipátia, nas primeiras livrarias conhecidas, nas celas dos escribas, nas fogueiras onde arderam os livros proibidos, nos gulag, na biblioteca de Sarajevo e num labirinto subterrâneo em Oxford no ano 2000.

Este livro é também uma história íntima entrelaçada com evocações literárias, experiências pessoais e histórias antigas que nunca perdem a relevância: Heródoto e os factos alternativos, Aristófanes e os processos judiciais contra humoristas, Tito Lívio e o fenómeno dos fãs, Sulpícia e a voz literária de mulheres.

Mas acima de tudo, é uma entusiasmante aventura coletiva, protagonizada por milhares de personagens que, ao longo do tempo, tornaram o livro possível e o ajudaram a transformar-se e evoluir - contadores de histórias, escribas, ilustradores e iluminadores, tradutores, alfarrabistas, professores, sábios, espiões, freiras e monjes, rebeldes, escravos e aventureiros.

É com fluência, curiosidade e um permanente sentido de assombro que Irene Vallejo relata as peripécias deste objeto inverosímil que mantém vivas as nossas ideias, descobertas e sonhos. E, ao fazê-lo, conta também a nossa história de leitores ávidos, de todo o mundo, que mantemos o livro vivo.

Um dos melhores livros do ano segundo os jornais El Mundo, La Vanguardia e The New York Times (Espanha).

CRÍTICAS
 
«Uma obra-prima.»
Mario Vargas Llosa

«Uma homenagem ao livro, de uma leitora apaixonada.»
Alberto Manguel

«É uma felicidade ler a prosa de Irene Vallejo, ela é uma criadora brilhante e sensível.»
Luis Landero

«Uma exploração admirável sobre as origens da maior ferramenta da liberdade alguma vez dado ao ser humano: o livro.»
Rafael Argullol

«Um livro muito original: sobre a história dos livros, o alfabeto, as bibliotecas… narrado com erudição e envolvência, sentido de humor e elegância, faz paralelos com o presente.»
Laura Freixas

«Amigos leitores: corram a ler O Infinito num Junco.»
Maruja Torres

 

CRÍTICAS DE IMPRENSA
 
«Os livros que nos desbravam, que nos domesticam, que nos impõem o seu ritmo de leitura, que nos dão cabo dos nervos, não se encontram facilmente entre as novidades nas livrarias e contudo são tão necessários. A mais recente destas descobertas que fiz intitula-se O infinito num Junco e é de Irene Vallejo.»
Juan José Millás, El País

«Vallejo decidiu, sabiamente, libertar-se do estilo académico e optou pela voz do contista, a História entendida não como lista de documentos citados mas como fábula. Para o leitor comum e ávido (de que Virginia Woolf falava) este ensaio encantador torna-se mais comovente e mais cativante por se assumir como uma homenagem ao livro, por parte de uma leitora apaixonada.»
Alberto Manguel, Babelia, El País

«Irene Vallejo criou um livro genial, universal e único.»
Jordi Carrión, The New York Times (ES)

«É possível ser-se um filólogo de exceção e escrever como os anjos. Irene Vallejo enlaça-nos nas suas palavras e transforma o diálogo com o leitor num verdadeiro festival literário.»
Luis Alberto de Cuenca, ABC
 
 

BIOGRAFIA

Irene Vallejo (Saragoça, 1979) é apaixonada pela mitologia Grega e Romana desde tenra idade. Estudou Filologia Clássica, doutorando-se nas universidades de Saragoça e Florença. É escritora, colunista do El País e do Heraldo de Aragón, palestrante e promotora de educação e do conhecimento sobre o mundo clássico. Partilha com os outros, diariamente, a sua paixão pela Antiguidade, pelos livros e pela leitura.

 

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publicado às 18:51

David Diop

David Diop, escritor francês e professor de literatura do século XVIII, vencedor do Prémio Literário «THE INTERNATIONAL BOOKER PRIZE 2021» com o livro "At Night all Blood is Black", vai ter uma edição em português pela editora Relógio D'Água até final deste mês de Junho.

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publicado às 08:56


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