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#2691 - Escravatura

por Carlos Pereira \foleirices, em 26.11.17

 

 

O historiador e romancista João Pedro Marques assina o primeiro volume da nova coleção da editora Guerra & Paz Livros Vermelhos. O tema é polémico e o título tem uma só palavra: Escravatura.

Não acredita que os portugueses se interessem muito pelo tema, pois "no passado isso não aconteceu". Também não está preocupado em desmistificar a participação portuguesa na construção desta forma de explorar o outro: "Foi a que foi e está estudada pelos historiadores, entre os quais eu. A minha intenção ao voltar a escrever sobre o assunto, dirigindo-me desta vez aos leitores em geral, foi a de tentar esclarecer mal-entendidos que aparecem nas ideias e discursos de muitas pessoas."

 

 

AUTOR DA NOTÍCIA:  João Céu e Silva - DIÁRIO DE NOTÍCIAS

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publicado às 10:24


#2679 - Os Loucos da Rua Mazur

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.11.17

 

 

O mais recente Prémio Leya chega hoje às livrarias. Leia aqui o primeiro capítulo do novo romance de João Pinto Coelho.

Chega hoje às livrarias o mais recente Prémio Leya de Literatura, o romance Os Loucos da Rua Mazur, de João Pinto Coelho. O autor, que já tinha sido finalista deste prémio em 2014 com o livro Perguntem a Sarah Gross, regressa ao mesmo tema, o do holocausto e de uma das épocas do século XX mais dramáticas da história da humanidade. O cenário do romance é duplo, passando-se uma parte na atualidade e outra na Polónia, durante a II Guerra Mundial. Recorde-se que o júri presidido por Manuel Alegre escolheu este original entre 400 por ser "bem estruturado, bem escrito, que capta a atenção do leitor, quer pelo tema quer pela construção em tempos paralelos".

Para João Pinto Coelho, a edição que hoje chega aos leitores, menos de um mês depois de ter sido anunciado vencedor, só tem a ganhar por ser fruto do "reconhecimento que resulta da atribuição de um prémio literário com este prestígio, que acaba sempre por contribuir para a visibilidade do romance distinguido". Quanto ao futuro profissional passar pela atividade literária, Pinto Coelho não é por enquanto assim tão entusiasta: "No futuro imediato, não creio. É uma hipótese que poderei colocar, mas apenas quando tiver três ou quatro livros publicados."

Segundo o autor, este livro começou a ser pensado enquanto escrevia o anterior. Daí que admita que o cenário semelhante de ambos se deva à sua perceção sobre a necessidade de voltar a esta época: "Tive sempre a convicção de que havia coisas cruciais sobre a perseguição aos judeus naquele período que não constavam no meu primeiro romance. Além dos alemães, houve outros perpetradores; tem que ver com a universalidade do mal, e tinha de escrever sobre isso ou sobraria a sensação de uma história incompleta."

No que respeita à investigação, João Pinto Coelho voltou aos muitos livros que leu sobre o tema nos últimos trinta anos, não esquecendo os muitos contactos que estabeleceu com historiadores polacos ao longo de diversas visitas à Polónia. Questionado sobre se leu os livros dos seus antecessores premiados, aponta o de João Ricardo Pedro e o de Afonso Reis Cabral: "Dois romances magníficos."

 

Pré-publicação do primeiro capítulo de Os Loucos da Rua Mazur

Por João Pinto Coelho

 

PARIS, 2001

A montra negra da Livraria Thibault era a moldura mais respeitada da Rue de Nevers, um beco desconsolado que se escondia entre as costas de dois quarteirões do Quartier de la Monnaie e que, séculos antes, servira de escoadouro às imundices das irmãs da Penitência de Jesus Cristo. A loja situava-se sob o arco que abria para o Quai de Conti e, para entrar, era necessário bater na vitrina. Isto se ele desse pelo sinal, o que não era garantido. Naquele domingo, o livreiro cego dirigiu-se ao recesso mais escuro da livraria e sentou-se à escrivaninha. O tampo estava vago, apenas papéis dispersos, uma telefonia a pilhas e um rosto num passe-partout, o rosto de Fidelia.

 

 

 

Artigo escrito por João Céu e Silva para o  DN - Diário de Notícias

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publicado às 22:31

Entrevista da responsabilidade de João Céu e Silva - Jornal Diário de Notícias

 

O historiador britânico Timothy Garton Ash critica os algoritmos pouco éticos das super poderosas Google, Facebook, Amazon e Apple na manipulação da verdade dos acontecimentos mundiais.

O historiador britânico e analista Timothy Garton Ash acaba de publicar em Portugal a sua mais recente investigação: A liberdade de expressão - Dez princípios para um mundo interligado. Um livro em que continua o debate sobre a dificuldade de o cidadão se emancipar de algoritmos pouco éticos da Google, Facebook, Amazon ou Apple quando quer formar uma opinião isenta sobre os acontecimentos mundiais. Um debate que já mantém num site em que a língua portuguesa é uma das treze usadas

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Resume a atualidade marcada pela Internet logo à primeira frase do livro: "Agora somos todos vizinhos." É uma bênção ou uma maldição?

As duas. A Internet foi um tremendo ganho para a liberdade de expressão e de comunicação em todo o mundo e um momento nunca antes verificado na História do Homem. Mas é preciso ponderar que poder comunicar-se através dos smarthphones que estão no bolso de cada um é também um perigo pois convive-se com ameaças de morte, assédio e discursos alucinados. Como escrevo no livro, a Internet é o maior esgoto da história mundial, daí que a questão fundamental que quis analisar seja a de como maximizar a oportunidade e de minimizar os riscos.

 

 

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publicado às 17:48

"Não me ocorreu dizer mais nada." É a última frase dos três espessos volumes que reúnem em 2795 páginas várias centenas de textos dispersos de Agustina Bessa-Luís que a Fundação Calouste Gulbenkian apresenta hoje no Porto, numa sessão na Fundação Serralves.

Com recolha e organização da neta da autora, Lourença Baldaque, Ensaios e Artigos (1951-2007) permite a radiografia completa do seu pensamento sobre quase tudo, sendo muito curiosa a recordação das opiniões políticas no pós-25 de Abril, bem como os comentários sobre alguns ícones da música popular, Madonna e Bob Dylan (parcialmente reproduzido abaixo). Mas é a sua rudeza ou sedução nos comentários sobre os seus pares escritores que geram mais polémica, já que Agustina não se proíbe de dizer o que realmente pensa sobre a Literatura. Leia algumas partes no A a Z literário que se segue.

Agustina: "Decorre a apresentação do livro de Cavaco Silva no salão nobre [do Centro Cultural de Belém], e os carros pretos dos ministérios sobem a rampa com uma lentidão consular. (...) Freitas do Amaral acaba também de escrever um livro e é saudado triunfalmente. Eu escrevi cinquenta e não me prestam tanta atenção. Pelo que fico, por um momento, desencorajada." (1994)

Bob Dylan: "A multidão serve-se dos mitos no grande banquete frio de ideias feitas. A ideia romântica e a ideia triunfal, a ideia extradoméstica. Mas os anos 60 passaram. No seu rochedo sobre o mar, Bob Dylan está só. (...) Um tipo domesticado, como todos os velhos dizem. O seu lado espiritual deixa-o na sombra. O seu motivo cavalheiresco torna-o solitário." (1987)

Camilo Castelo Branco: "Um homem dotado para a vida é um homem angustiado; ele sabe que quanto mais o seu génio progride e se expande, mais cria para si próprio condições de invulgar desastre. (1964) " Tanto temia Camilo o punho da sociedade para quem escrevia e que, afinal, não era persistente na crueldade nem obstinada na estupidez. (...) Na verdade, não sei que lhe deu a Camilo para escrever este romance (A Enjeitada) a não ser o desprezo pela sua atividade face a um público que lhe exigia emoções calculadas, e para quem o melodramático se confunde com o sério." (1980)

Dostoievski: "Não há melhor maneira de perceber a intimidade de Dostoievski senão fazendo da sua obra uma Bíblia, pegando nela à boa maneira russa e deixando que se abram as folhas do destino, ao acaso, no encontro desse romântico calor e realidade profunda que foram seus dons. Como eu faço agora, detendo-me num parágrafo de Niétochka, um dos seus primeiros ensaios da longa novela, escrita na prisão e que tem por inteiro o estremecimento da aspiração frustrada do amor humano." (1981)

Éxito: "O êxito dos romances de Lawrence Durrell pode corresponder a uma fraqueza da personalidade, é natural que corresponda a uma fraqueza da personalidade de todos nós." (1965)

Fellini: "O que Fellini chama inocência é a libertação do aborrecimento. É o riso, o prazer, a espontaneidade inglória mas eficaz, e coisas assim. (...) Mas não é inocência. A inocência é o insulto que o amor aprova. E, como o amor, é rara. O que Fellini chama inocência é a libertação do aborrecimento. É o riso, o prazer, a espontaneidade." (1973)

Goethe: "O "eterno feminino", com que Goethe termina o segundo Fausto, é um aditamento à insuficiência humana com que todos os trabalhos e ideias se defrontam. Se a mulher assumisse o Poder, com todas as suas objetas funções o homem fica muito inexpressivo e o seu sentido da divindade perde-se."

Henry Miller: "Vejamos o caso de Henry Miller, que conta já mais de oitenta primaveras e diz fluentemente as mesmas coisas que um moço de vinte primaveras comenta por conta própria, ainda que de maneira mais ingrata e verde. Ambos se encontram no mesmo ponto: viver não é conhecer a vida." (1973)

Inspiração: "Escrever uma página inspirada não acontece todos os dias. Às vezes movemos o pensamento pelos atribulados caminhos do doméstico, que corrompem a subtileza e a graça; outras vezes pomos na cabeça o nosso gorro sábio, e resulta uma enfadonha tabuada de sentimentos." (1966)

José Régio: "É cedo ainda para que eu fale do Régio. Vejo-o ainda de desvelada maneira, "quieto no seu canto", porque a poesia é incomunicável. O que víamos era talvez uma dinâmica infeliz e um deserto de orgulho crucificado." (1970)

Kafka: "As criaturas isoladas, diamantinas, como Kafka, simulam toda a vida uma coragem normal de relações, contactos, até amores perdoáveis. Mas ficam sempre naquela terra hostil onde se murmura; nas selvas negras de Brecht onde se murmura: "Nós não pudemos ser amáveis... recordai-nos com indulgência." (1968)

Lobo Antunes. "Se me dissessem, há um tempo atrás, que eu haveria de fazer a apresentação dum livro de Lobo Antunes, e um livro chamado Tratado das paixões da alma, eu não teria levado a sério. (...) Das leituras que fiz algo de fundamental: que não se tratava de um carreirista das letras nem jovem zangado, como foi moda apelidar os snobs inteligentes. Tratava-se muito simplesmente dum homem em más relações com a justiça dos homens. A até com a injustiça deles." (1990)

Mecenas: "A cultura não é custear espetáculos. A cultura não se elabora, vive de uma filtragem moral e sentimental da sociedade que a produz. Não é obra de empresários nem de mecenas. Não é programa de Estado." (1977)

Namora: "Com o livro de Fernando Namora, URSS Mal amada bem amada, dá-se um caso de protocolo sem boa construção. Se percorremos um país estranho, há que em ter em conta o que é realmente degradação e costume. (...) O livro de Namora é um roteiro em que a imparcialidade não nos comove, simplesmente porque ela não interessa a ninguém. Namora escreve com certa usura de emoções. Sempre foi assim, ou descobre um registo mais profundo ao ficar fora da sua própria identidade?" (1986)

Odisseia: "Há uma teoria quanto ao autor da Odisseia que atribui a uma siciliana a obra imortal de Homero. Essa atrevida opinião funda-se em traços psicológicos, que não são para desprezar. Por exemplo, o grande conhecimento da vida doméstica demonstrado pela primeira Nausica, em contraste com a sua ignorância a respeito de navegação e os trabalhos pastoris." (1992)

Público: "O que acorre a esta conferência (...) é gente nova quase toda, dita das Artes, e que se preocupa extraordinariamente com a moldagem da sua personalidade." (1960)

Quadro: "O retrato presidencial de Jorge Sampaio é um retrato à margem do retratado. Paula Rego tem dificuldades em pintar pessoas. Desenha-as mas não as inventa, não as estuda, não reage com elas a isto que se chama o mundo. O retrato do Presidente Mário Soares, que confiou num amigo para o fazer, obedece a um absurdo lógico. Parte do conhecimento da sua personalidade, arrebatada e impaciente, para exprimir o lado facecioso dum temperamento. Não trai, apenas se destina a círculo dos amigos e nem sequer à roda da família." (2006)

Romance: "O romance é ainda um "jogo de palavras" e não corresponde, mesmo quando obtém grande sucesso, à exigência do homem. Porque, para lá dos seus intuitos de diversão ou aventura, talvez pressinta o pequeno campo de imagens do romance como coisa que não deve ser tomada a sério." (1963)

Salman Rushdie: "Não se podem ler os livros sagrados dando-lhes um significado panfletário. (...) Gibreel , o homem armado, personagem de Versículos Satânicos, de Salman Rushdie, achava que a fé era como uma doença, e que havia de voltar sempre. Por isso preferiu puxar o gatilho e libertar-se da infância da sua credulidade e dos génios de outrora." (1991)

Timidez: "A mulher tímida encontra o sucesso ao pé da porta, e foi nessa nota que os empresários de Marilyn se garantiram. Mas é muito raro que as mulheres sejam tímidas. Para isso têm que possuir um elevado sentido metafísico, sem o qual a timidez é apenas insuficiência mental. Quando Greta Garbo diz: "Tive hoje uma grande discussão com Deus", está explicado o teor da sua beleza e fascinação."(1992)

Uso: "Os usos estéticos da língua portuguesa começam notoriamente nos cronistas do século XIV, com Fernão Lopes. Até então, a prosa escrita destinava-se a atos de doação e testamentos e ao registo de propriedades. A redação desses papeis era confiada ao tabelião ou secretário régio, que não punham empenho na elegância da língua, mal socorrida por um latim bárbaro e menos que vulgar." (2005)

Vinha do Douro: "De maneira muito inesperada, indo ao Douro onde ainda há uma casa de família meio entregue a fantasmas competentes e que não pomos em dúvida, encontrei-me com Madame Bovary ali ao lado. Filmava-se um mortório, e as jovens do lugar, vestidas de preto, rodeavam o caixão da Dona Augusta, que era a Laura Soveral muito engripada. É estranho essa encarnação em figuras que os não inspiram. (...) E se eu tivesse melhor caneta, mais diria. Mas acaba-se aqui a tinta; não o canto que faltou a Camões, porque nesse tempo vinho de cheiro não havia."

Wilhelm Reich: "Há muito tempo que não lia Wilhelm Reich. No meio de muitas ideias mal sucedidas, de muitos absurdos concubinatos com a verdade, Reich mantém algo de surpreendente no seu discurso. A linguagem é, às vezes, delirante, outras vezes profética. Decerto comoveu muitos psiquiatras com veia revolucionária. Recorrem a Reich como a um precursor no âmbito das informações genitais, mas ignoram a teoria do novo líder." (1992)

Xenófanes: "A ignorância do magistério que determina a obra de Xenófanes não basta para o tomarmos como autodidata. Quer aprendesse nos livros ou nas palavras dos mestres, ele foi poeta e admite-se que foi professor de Parménides. Xenófanes dizia que a verdade não é para ser divulgada, porque as imagens da opinião ou do senso comum são historicamente mais fortes do que a justiça da verdade ou a verdade da justiça." (1995)

Yourcenar: "Antes de tudo, posto que para Filipe La Féria o cenário antecipa o teatro e é o seu porta-voz, a cova de Electra, aos nossos pés. (...) Mas o drama não está lá. O estudo dos atores não foi fecundo. Os atores estão vestidos como se fossem hunos e não gregos. Eu penso que a peça de [Marguerite] Yourcenar é débil, muito perto de um drama burguês, com um tempero de psicanálise que nos fatiga e nos dececiona." (1987)

Zarco: "Há um monumento a Gonçalves Zarco, mas não exige que os corredores de fundo da História parem diante dele, esperando indicações preciosas para poderem prosseguir. (...) Chegada à Madeira, depois de duas ou três conversas com jornalistas, apercebi-me de que eles sabiam mais de mim do que eui própria. Sabiam quem me estima e que me detesta, facto que parece bizarro se o tornarmos público aqui. Isto quer dizer que a ilha exerce um poder desinibidor e que lá o sintoma de identidade não é visto da mesma maneira." (1995)

 

NOTÍCIA RETIRADA DO JORNAL ON-LINE "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" , ESCRITA POR João Céu e Silva

 

 

 

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publicado às 16:51


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