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BLASFÉMIA
No relicário que te acolhe
é-me angustioiso supor
o labor das areias
na madeira.
E meu pesadelo dos pesadelos
a iconoclasta muchém
no afã da sua lavra
orgiando-se voraz.
Blasfémia suprema
o festim.
O COVAL
Excêntrica
é a minha indignada
mesquinha forma de sofrer.
Lúcido
eu a desencher o mundo
tapando-me no mesmo coval.
MONOGRAMA
A sotavento da face
colar aquoso
se desfia
E
em sua fímbria macia
meu lenço azul-escuro
discreto humedece
o monograma
Jota
Cê.
Colar
que se desfia
no próprio lapso.
GUMES DE NÉVOA
Lágrimas?
Ou apenas dois intoleráveis
ardentes gumes de névoa
acutilando-me cara abaixo?
O SACRÁRIO
A ausência do corpo.
Amor absoluto.
Hossanas de sol.
De chuva.
De brisa.
E de andorinhas
resvalando as asas
no ombro de uma nuvem.
Com uma hérbia mantilha
por cima velando
o teu sacrário.
SILEPSES
Ajustadas ao comprido as ripas
esfarelando-se devagarinho
por entre minuciosos
dedilhos de terra.
E
em melancólicas silepses
conspícuas gralhas versejam
extemporâneas férias
da Maria.
Poemas publicados na "Colóquio Letras" n.º 110-111, Julho-Outubro de 1989