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A caravana pára quando o cão ladra, a raposa passeia por vinha vindimada e o gato mia anunciando o mês de Fevereiro.
Chuva - águas que rebentam de nuvens grávidas.
Estavas na linha do vento, por isso soube que eras tu.
"O Pianista de Hotel" é publicado no próximo dia 16 de maio
O novo romance de Rodrigo Guedes de Carvalho, "O Pianista de Hotel", é publicado no próximo dia 16 de maio, anunciou hoje a editora.
O novo romance surge dez anos depois de "Canário", o anterior romance do jornalista, também publicado pelas Publicações Dom Quixote, em 2007.
"Este seu novo trabalho, como o próprio título o indica, transporta-nos numa melodia e abre-nos a porta para um mundo redigido pela linguagem da música, pela sua força e beleza, presentes que estão no ritmo de cada frase e de cada parágrafo, rigorosamente medido", afirma a editora do Grupo LeYa, em comunicado enviado à agência Lusa.
"Com um vasto subtexto, a densidade das personagens está carregada de mistérios que nos prendem a sucessivas interrogações. E há, em cada uma delas, um pouco de nós. Tal como há um pouco de nós, também, neste mergulho ao mais fundo da alma humana.", acrescenta a editora
"É um romance que se lê e que se ouve e que mantém, por isso, todos os sentidos alerta. Uma pauta musical, com andamentos diversos, que acabam por se cruzar numa vertigem imprevisível de autêntico 'thriller' psicológico. E depois, bom, e depois há o pianista...", remata a mesma fonte.
Rodrigo Guedes de Carvalho nasceu há 53 anos no Porto, tendo-se estreado na ficção em 1992 com "Daqui a Nada", com o qual venceu o Prémio Jovens Talentos da ONU, e ao qual se seguiram "A Casa Quieta" (2005), "Mulher em Branco" (2006) e "Canário" (2007).
O jornalista é também autor dos argumentos cinematográficos de "Coisa Ruim" (2006), realizado por Tiago Guedes e Frederico Serra, de "Entre os Dedos" (2009), dos mesmos realizadores, e assinou a peça de teatro "Os Pés no Arame", estreada em 2002, que voltou à cena, com nova encenação, no ano passado.
FONTE: DIÁRIO DE NOTÍCIAS ONLINE
A Edição zero do Festival Latitudes - Literatura e Viajantes tem início marcado para hoje na Vila de Óbidos e prolonga-se até dia 1 de Maio.
ANTÓNIO RAMOS ROSA
BLOCO INTACTO
Abrindo a álea
vertical sobre o vértice do instante
sem frenesim mas denso de
todo o sangue que me enche no silêncio desta álea
caminho para ti
lenta lentamente a densa bola sobre o jacto de água dança
e eu sou o jorro de água eu sou a bola em equilíbrio
a permanente coroa branca efervescente branca
na tranquila anónima macia dourada suburbana álea
a seda deste instante não se rasga
é um grande bloco intacto que se desloca
para a minha eternidade
a iminência de ti é a boca já feliz a árvore que estala em cada poro a seiva
a parede de água que contenho a porta doce e clandestina
a porta que desliza
e é então que
no espaço da vertigem
em ti me uno à sede e das raízes subo
e pelas raízes sou
Poema de António Ramos Rosa do livro "Antologia Poética", com selecção, prefácio e bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes, edição Publicações Dom Quixote, Fevereiro de 2001
O povoado, com meia dúzia de viventes, tem uma ponte com três metros de comprimento e um passo e meio de largura.
Às vezes divide e outras vezes aproxima quem vive em qualquer dos lados, dependendo dos humores do rio que, apesar de ser miúdo, fica raivoso como homem pequeno em valentia; ou da vontade dos habitantes dos dois lados em comprar conversa fiada que fatalmente acaba em amuos.
A ponte é o símbolo tipografado do calendário que a Junta publica como publicidade aos encantos do povoado e obriga, por Edital afixado no adro da Igreja, (para dar mais respeito ao assunto) - senão o Edital seria afixado no lugar do costume, ou seja, na taberna contígua à Igreja - que os comerciantes com porta aberta exibam o calendário em lugar de destaque e que sejam retirados «os outros» calendários. Sem ter o direito à contestação assim foi feito como rezava o Edital.
O Soares Padeiro, contrariado, troca a mulher nua e de seios volumosos pela ponte do calendário;
A Josefina, a desvairada dona da mercearia, esconde, enervada, o homem nu e erecto da fotografia e pendura, no seu lugar, a ponte do calendário;
O José da Largatixa, sapateiro, calmamente muda o calendário e vai aproveitar o picotado das folhas mensais do novo calendário para asseio das suas necessidades.
E foi assim o dia «animado» de um pequeno povoado graças a um calendário.
Sabemos que os dias estão intranquilos porque as andorinhas deixaram de voar.
O tempo
inclinando-se cada vez mais
até ficar paralelo com o corpo;
Quatro linhas:
Duas verticais
Duas horizontais
As linhas suficientes para
encaixar o tempo futuro que nos resta.
Os guerreiros
descansam o corpo
deitados sobre pedras
O rigor da pedra permite uma
vigília atenta ao mesmo tempo
que dão tréguas ao corpo.
As espadas ensaguentadas cicatrizam
dos golpes dados
esperando que as mãos dos guerreiros
as empunhe com firmeza e dignidade
A cidade está sitiada
Incêndios iluminam a vigília aos mortos
As mulheres arregaçam a alma e
os filhos de colo
cuidam das feridas, tarefas violentas
animam os vivos
acenam com amor ao último suspiro
abrem o peito
acariciam com um beijo a boca do guerreiro
para repôr
um pouco de humanidade na
brutalidade do momento.
As madrugadas inquietas de um
sono que teima em adormecer.
Suores mancham o leito
A respiração é aflitiva
Do peito rompem as asperezas
de um corpo,
inclinado sobre as sombras de um sonho,
remando num rio agitado.
Lágrimas,
do esforço,
engrossam o caudal do rio.
Nas margens
gemidos ecoam:
São de um homem louco
procurando abrigo
debaixo do céu
grávido de
melancolia e
bondade.
MEMÓRIAS DA CASA DA CHINA
Wei Mu e Wang Wei
apropriaram-se de nuvens
brancas e de coração pleno
foram juntar-se aos sete Sábios
do bosque sagrado de bambus
ao cruzarem-se com Ruan Ji
receberam como prova
da sua bondade
o negrume austero
dos olhos do poeta,
e assim, de coração lavado,
foram como eremitas purificar
os campos de levante
e abençoar os frutos
temporãos da primavera;
com um coração assim
até se pode viver
no meio dos homens.
POEMA DE MANUEL AFONSO COSTA INCLUÍDO NO LIVRO "MEMÓRIAS DA CASA DA CHINA E DE OUTRAS VISITAS" - EDIÇÃO ASSÍRIO & ALVIM DE FEVEREIRO DE 2017
TAU
O tempo passa tão devagarinho
quando Tu passas, meu Deus,
e quando a velocidade é repentina
eu fico alucinado, perdido de todo,
ruído de barracas de feira, de comícios de partido,
de qualqer coisa, enfim, o hino nacional,
um cântico religioso, um blue,
Harry Belafonte, Ella Fitzgerald, outros e outras,
bêbedos, drogados, sim ou não, inoculados, imunizados quando te honram nos seus spirituals,
tanto se me importa...
Eu quero é ouvir invocar o Teu nome, ó Senhor meu, em nome colectivo e também só meu
e adormeço sossegado, humilde e consciente
de que Te amo muito mais do que a mim
aos Outros que desconheço e de quem gosto muito, ó indivíduo Emmanuel.
O Poder e a Glória, esses Teus atributos,
e eu, Ruy Cinatti, agradecido cão,
que olha líquido prò olhar do Dono, ò Coisa inefável!...
um trilo pastoril de flauta na Serra da Estrela, Marão ou no Soajo - transumância, eu quero mudar de vida!-
ou em Timor-Ocússi... Atóni, Atóni... chamam por ti, homem, tantos homens te procuram
ó desgraçado Mau Bére... ó Timor meu Amigo.
Ó Pastor, procura-a, não deixes que se perca a Tua ranhosa ovelhinha...
A palavra cala-se, a boca fede, o silêncio é de oiro
O silêncio é de oiro, a palavra cala-se, a boca sorri
e depois, ó maravilha de delicadeza, Tu salvas a nossa Vida!
Poema de Ruy Cinatti in "Obra Poética" - Volume I, edição Assírio & Alvim de Outubro de 2016
OS MUROS DA DESONRA
Perdemos a memória.
Não queremos ler a História para
lembrar os Muros da Vergonha.
Muros que nos envergonham e
encarceram entre subtilezas de linguagem.
Muros que separam bocados da humanidade,
pais de filhos, animais.
Geografias, afectos e emoções
searas, florestas, árvores de todos os tamanhos e idades
e sobretudo as paixões.
Muros que matam a liberdade
corrompem o nosso pensamento
domam a nossa vontade
vertem ódio nos nossos corações.
Os muros são as antigas paredes de fuzilamento
de onde sangram os gritos de homens e mulheres
que tiveram a coragem de lutar pela liberdade de
sonharem serem pássaros e poderem voar.
Os muros que hoje construímos
acabarão por ser a nossa prisão.
«55
E a cidade ganhou dependências: abastece-se
de homens e mulheres vindos de países trágicos
e passa por caridosa momentos antes de
os expulsar. A Europa começa a ficar inclinada,
é necessário vigiar. De noite, é um facto, os pobres correm
muito para debaixo dos tapetes. Na Idade Média
havia epidemias de ratos, mas o caso foi resolvido
a tempo. Nascemos no século em que, de longe, a lista
de medicamentos é mais longa. Festejemos, pois,
com a bebida certa.
56
O dinheiro tornou-se moralmente inatacável. Para os pobres
as leis parecem ser pormenorizadas, para os ricos
abordam generalidades: abaixo de um massacre
não devemos incomodar os tribunais
- estaríamos a insultar o bom nome dos sujeitos.
E somos tão felizes! As mulheres mais aperfeiçoadas
dançam à moeda como as velhas máquinas de canções.
Ao amor, para ser deste século, só falta a ranhura
adequada ao câmbio actual.
57
Somos muito felizes. Nas análises, a urina
nada acusa, e o sangue não é tirado à força com uma espada
como acontecia nas batalhas de séculos anteriores;
o sangue agora sai através de uma finíssima agulha
trazida por uma enfermeira obesa.
O estado preocupa-se com a tua saúde
e, progresso enorme, manda as boas-festas pela televisão.
58
E há depois as palavras. A relação entre os homens
está gramaticalmente outra. Tolerância,
respeito, leis serenas: a cidade vista de cima
parece um lago, tão calma que está.
É tão perfeita que não se percebe como é que os animais
da floresta não se mudam todos para cá.»
Excerto do livro de Gonçalo M. Tavares «Uma Viagem à Índia» páginas 227 e 228 - Canto V
A violência do discurso político, a chantagem psicológica e a exploração obscena das fragilidades que cada ser humano tem.
Fernando Paulouro, jornalista e escritor, antigo director do Jornal do Fundão, é o vencedor da 13.ª edição do Prémio Eduardo Lourenço, no valor de 7.500 euros, foi hoje anunciado na Guarda.
Este prémio, instituído em 2004 pelo Centro de Estudos Ibéricos, com sede na cidade da Guarda, destina-se a premiar personalidades ou instituições com "intervenção relevante no âmbito da cultura, cidadania e cooperação ibéricas".
ALMADA NEGREIROS (1893-1970)
(Nesta carta o artista explica a sua atitude no comício do Chiado Terrasse e onde se refere ao incidente com Leal da Câmara)
Sr. Redactor:
Tendo aparecido no Diário de Lisboa de segunda-feira, o meu nome ao lado do do Sr. Leal da Câmara, vizinhança distinguida que me assoberba, me enobrece e me inebria, venho gostosamente desvendar a florescência daquele começo de incêndio no palco do Chiado Terrasse, ao iniciar da sinceridade do grande caudilho das Artes decorativas.
Nesse eco o Diário de Lisboa (1) dá essa breve troca de palavras entre o orador e eu, como tendo sido vantajosa para o Sr. Leal da Câmara, o que, na verdade, é vexante para mim.
Faltaria, pois, a um dos meus mais sagrados deveres se, hoje, não viesse eu próprio testemunhar a exactidão desse eco, em vez de vir dizer que não é nada disso que se trata, pedindo apenas um acrescentozinho.
Ao Sr. Dr. Raul Leal sucedeu no uso da palavra o Sr. Leal da Câmara, que, não trazendo os seus méritos bem atestados logo de entrada recorreu gratuitamente e para tomar melhor balanço, ao estado de espírito com que o orador precedente prostara o público. Assim foi que o Sr. Leal da Câmara começou a mimosear a parte mais fácil do público com inteligências apropriadas a qualquer orador desobrigado. Surpreendeu-nos o facto de o Sr. Leal da Câmara ter perdido o olfacto à entrada do palco e sem ter ninguém que o avisasse disso. Foi pontualmente nesta altura que perguntei ao Sr. Leal da Câmara se aquilo era para rir. O Sr. Leal da Câmara, sem ter ainda dado pela falta de olfacto, disse-me simplesmente que não era para rir. Francamente, gostei daquela resposta. O engano era meu. Cheguei mesmo a pensar em apertar-lhe a mão à saída.
Mas qual não foi o meu espanto quando oiço, daí a pedaço, o Sr. Leal da Câmara outra vez a alistar àquela porção mais fácil do público, com mijaretes de artifício e outras puxadelas à substância sentimental, sem dúvida na crença de aquecer o mais depressa possível méritos oratórios, ou então, era da minha vista!
Foi pontualmente nesta altura que me intrometi cavalheirescamente entre o orador e a porção mais fácil do público, para dar tempo ao orador de afinar melhor as cordas vocais. Mas o Sr. Leal da Câmara, quando deve ser discreto, e dissimulador, deu ordem terminantemente a si próprio de não recuar nem mais um passo, houvesse o que houvesse, custasse o que custasse e zumba de meter-se no peito da porção mais fácil do público, forçosamente intelectual. - Foi pontualmente nesta altura que me veio a compreensão de que era totalmente desnecessária a minha lealdade de intelectual para com o orador. O engano era meu. O que a lealdade intelectual tinha exigido de mim para com o orador era fazer-lhe ver que trazia a sua atitude de artista comprometida, ali, no comício intelectual. Fi-lo ver, discretamente. Pode-se pensar e ser discreto ao mesmo tempo. É porque, às vezes, traz-se a atitude de artista comprometida, como se traz, sem querer, a fita das cerolas caídas pelas pernas das calças abaixo e por cima das botas de alástico.
Quis eu, pois, com a minha lealdade, avisá-lo de que trazia a sua atitude de artista caída pelas pernas das calças abaixo. Mas, aqui o confesso, o engano foi meu. O artista não tinha tal deixado cair o olfacto, nem tão-pouco trazia a atitude comprometida; mas há, na verdade, momentos inacreditáveis na vida de um homem em que a emoção não pode prender-se com ninharias, muito menos com o que vai pelas pernas das calças abaixo.
Foi pontualmente na altura em que o Sr. Gualdino Gomes, que presidia ao comício intelectual, se ergueu no seu próprio lugar e, dirigindo-se â plateia, propositadamente, para o lado oposto àquele de onde eu estranhamente tentava favorecer o orador, aconselhou, em geral, a não interromper os que tinham a palavra.
Veio a matar!
Não sei o que seria de mim a estas horas, se eu tivesse insistido em querer favorecer tão estranhamente o orador desobrigado, - outrora tão genial nas suas magistrais desarrincadelas de sacristas parecidíssimos!
Pois quis a minha boa sorte de que a observação do Sr. Presidente tivesse sido pontual. Sem ela, eu teria fàcilmente prosseguido no que tão generosamente me estava empenhando com afinco, o que talvez me tivesse custado caríssimo, pois só a seguir à observação do Sr. Presidente é que reparei que as minhas palavras estavam sendo malcriadíssimas na opinião geral do público intelectual e não apenas na sua parte mais fácil.
Eu, que espalho aos quatro ventos a conveniência de imitar a elegância até mesmo quando em favor dela deva ser sacrificada a boa educação!
Como episódio mais próximo desta minha leviandade citar-lhes-ei a meretíssima avançada de um sincero e robusto mancebo dos seus dezanove anos, (aproximadamente), um novo, portanto! o qual não pôde deixar de vir até dois metros de distância para me chamar «vaidoso e invejoso» com todas as ganas!
Ora, é absolutamente indispensável que eu desfaça um mal-entendido que há-de forçosamente servir-lhe de emenda.
Custa-me que tenham duvidado da minha boa fé, mas garanto-lhes que outras intenções não tive senão a de querer, a todo o transe, prevenir o meu colega Sr. Leal da Câmara de que ele, desgraçadamente para a Arte com A grande, tinha deixado aberto... aquilo que costuma estar fechado...
Ora aí está o busílis!
Não tendo infelizmente testemunhas desta desgraça entre o ilustrado público do comício intelectual por se ter dado a circustância imprevista de toda a gente ter preferido as ideias dos oradores às imprevidências da toilette.
Dos mal-entendidos é que nascem os grandes conflitos.
A mim já me chamaram pau de dois bicos, quando, na verdade, eu tenho tantos bicos quantos os necessários para deixar de ser pau e ser eu1
Mal-entendidos!
*
Antes de fechar a carta devo dizer que tanto o Sr. Leal da Câmara como quase todos os oradores fizeram calorosa e facciosamente a apologia do século XIX, exactamente o século mais estéril, na opinião de Frederico Nietzche, o mais evidente precursor da hora presente!!!...
Outra vez:
Dos mal-entendidos é que surgem os grandes conflitos.
Boas-noites!
*
Quando entrei em casa, a seguir ao comício intelectual, abri o Zarathrusta, Frederico Nietzche tinha, entretanto, escrito com o próprio punho:
«Tu deves ser o martelo, eu pus o martelo na tua mão!»
Para quê, Zarathrusta? Para quê, o martelo?!
«Pour cesser d'être des hommes qui nient devenir des hommes qui benissent.»
In Diário de Lisboa, de 21 de Dezembro de 1921
Do livro de José de Almada Negreiros "Textos de Intervenção, Obras Completas" edição Editorial Estampa, de 24 de Julho de 1972
LUÍS MIGUEL NAVA (1957-1995)
OLHANDO O MURO
E assim ficava olhando o muro. Não atentava então
na claridade em que a casa e a terra a essa hora faleciam,
nos fragmentos vários do horizonte de que a luz fazia
um jogo insuportável. Tão pouco em como a sublevação
das paisagens é matéria da linguagem, tão pouco nisso
ele atentava ao colocar o olhar no muro, outro suporte
procurando, a ele idêntico, no leite à superfície do qual
pequeninos nós de fezes eclodiam, nós que com uma
vara ele agitava e perturbava com fascínio. Metade do
seu rosto entrava pelas paisagens, era prisioneira da
fabulação de que apenas os animais o libertavam contra a
face lhe quebrando imagens fortes - as fezes imiscuindo-se
no muro, a luz uma indecção que alastra pelo leite, a vara
de agitá-lo desviada desse ofício. Estranhos actos cometia
ele então, deles o mais minucioso sendo a introdução de
mínimos calhaus nos intestinos.
Dois pais e dois filhos saem da cidade. Isto reduz em três unidades a população da cidade.
Falso? Não, verdade - desde que o trio consista de pai, filho e neto.
Helder Moura Pereira, escritor, tradutor e licenciado em filologia germânica venceu O Grande Prémio de Poesia APE com o livro editado pela Assírio & Alvim "GOLPE DE TEATRO".
O Grande Prémio de Poesia António Feijó, no valor de 10 mil euros, é uma iniciativa da Associação Portuguesa de Escritores em parceria com a autarquia de Ponte de Lima.
Herlder Moura Pereira já venceu outros prémios literários entre os quais se destacam o Prémio de Poesia Luís Miguel Nava e o Prémio de Literatura Casa da América Latina | Banif.
algorithmic animation sequence
5-channel video projection, 6-channel audio
Vancouver Art Gallery
2017
Retainers of Anarchy is a solo exhibition featuring new work from Howie Tsui that considers wuxia as a narrative tool for dissidence and resistance. Wuxia, a traditional form of martial arts literature that expanded into 20th century popular film and television, was created out of narratives and characters often from lower social classes that uphold chivalric ideals against oppressive forces during unstable times. The people’s republic of china placed wuxia under heavy censorship for fear of arousing anti-government sentiment. However practitioners advanced the form in Hong Kong making it one of the most popular genres of Chinese fiction. The title work, Retainers of Anarchy, is a 28-metre scroll-like video installation that references life during the song dynasty (960–1279 CE), but undermines its idealized portraiture of social cohesion by setting the narrative in Kowloon’s notorious walled city—an ungoverned tenement of disenfranchised refugees in Hong Kong which was demolished in 1994.
Explore southern New Zealand in a journey from the dry highlands of canterbury to the lush rainforests of the westcoast and the rugged coastlines of the south to the highest peaks of the southern Alps. Captured in incredibly detailed 8K resolution and mastered at 60fps this video is aimed to bring you as close to the scenery as being just on location.
Within the production-time of 16weeks, 185000 photos have been taken, 8TB of raw-material shot, over 220 hours of time captured, 8000km driven and over 1000 hours have been spent for post-production.
Visit my website for information about the project: timestormfilms.net/new-zealand-ascending/
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Behind The Scenes: vimeo.com/204098758
8K Version: youtube.com/watch?v=U-6wqFE79Gc
Soundtrack: “Waves” - Mattia Cupelli: mattiacupelli.weebly.com/
STOCK FOOTAGE: timestormfilms.net/new-zealand-ascending-8k-4k-library/
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Cameras: Sony A7RII, Sony A7s, Canon 6D
Lenses: Zeiss Otus 28mm, Canon 11-24mm, Tamron 15-30mm, Zeiss Milvus 35mm, Canon 70-200mm
Motion-Control: eMotimo Spectrum ST4, customized Dynamic Perception Stage One
TIVE A CORAGEM DE OLHAR
Tive a coragem de olhar para trás
Os cadáveres dos meus dias
Assinalam o meu caminho e eu choro-os
Uns apodrecendo nas igrejas italianas
Ou entre os limoeiros
Que dão ao mesmo tempo e em qualquer estação
A flor e o fruto
Outros dias choraram antes de morrerem nas tabernas
Fustigados por ardentes ramos
Sob o olhar duma mulata que inventava poesia
E as rosas da electricidade abrem-se ainda
Nos jardins da minha memória
Uma gaivota é um peixe que escolheu o céu para nadar.
Rui Pires Cabral
NÃO HÁ OUTRO CAMINHO
para o Vítor
Os poemas podem ser desolados
como uma carta devolvida,
por abrir. E podem ser o contrário
disso. A sua verdadeira consequência
raramente nos é revelada. Quando,
a meio de uma tarde indistinta, ou então
à noite, depois dos trabalhos do dia,
a poesia acomete o pensamento, nós
ficamos de repente mais separados
das coisas, mais sozinhos com as nossas
obsessões. E não sabemos quem poderá
acolher-nos nessa estranha, intranquila
condição. Haverá quem nos diga, no fim
de tudo: eu conheço-te e senti a tua falta?
Não sabemos. Mas escrevemos, ainda
assim. Regressamos a essa solidão
com que esperamos merecer, imagine-se,
a companhia de outra solidão. Escrevemos,
regressamos. Não há outro caminho.
Rui Pires Cabral, in Morada, ed. Assírio & Alvim
Alexandre O'Neill
OS CEGOS
Ah, Madame! que la morale des aveugles
est différente de la nôtre!
DIDEROT - Lettre sur les aveugles
Durante os meses de inverno, podemos ver os cegos, sobre os telhados, acariciando os dedos - à procura duma mãe que não seja virgem.
O prazer torna-os redondos como ovos e o vapor de água vem flutuar sobre os seus bigodes sempre em sangue.
Às vezes soluçam e deixam escapar da boca pequenas coisas - o que não basta para interromper o jogo.
Quando chega a primavera, os cegos caem dos telhados e começam a andar pelas ruas à procura da moeda de perfil de luz.
Prosa escrita por Alexandre O'Neill in POESIAS COMPLETAS & DISPERSOS - ASSÍRIO & ALVIM 2017
POESIAS COMPLETAS & DISPERSOS de Alexandre O'Neill - Edição e posfácio de Maria Antónia Oliveira.
Livro publicado em Março de 2017 por Assírio & Alvim