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JULIAN BARNES
So begins Julian Barnes's first novel since his Booker-winning The Sense of an Ending. A story about the collision of Art and Power, about human compromise, human cowardice and human courage, it is the work of a true master.
Scheduled for publication in January 2016 in the UK and later in the US and Canada.
José Seabra Pereira venceu o Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho com o livro "O Delta Literário de Macau".
Este prémio totalmente suportado pela Edilidade de Vila Nova de Famalicão é promovido pela Associação Portuguesa de Escritores.
José Carlos Seabra Pereira é Doutor pelas Universidades de Poitiers e de Coimbra, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e da Universidade Católica Portuguesa. Investiga e lecciona nas áreas de Teoria Literária e Literatura Portuguesa Moderna, de Estudos Camonianos e de Estudos Pessoanos (cadeira que criou na Universidade de Coimbra). É actualmente o Coordenador Científico do Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos e vice-director da Revista Camoniana (luso-brasileira), membro eleito do novo Conselho Científico da FLUC e da Comissão Científica do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas, membro do Conselho Editorial da Babel, vice-presidente do Círculo Literário Agustina Bessa-Luís.
"Acredito que os livros, uma vez escritos, já não precisam dos seus autores. Se tiverem alguma coisa para dizer, mais cedo ou mais tarde encontram leitores; se não, não... Gosto muito desses livros misteriosos, tanto antigos como modernos, que não têm autor definido mas têm tido e continuam a ter uma intensa vida própria. Parecem-me uma espécie de milagre de uma noite, como as prendas da Befana, pelas quais eu esperava em criança... Os verdadeiros milagres são aqueles cujos autores nunca serão conhecidos... Além disso, não é verdade que a promoção é dispendiosa? Eu serei o autor menos dispendioso da editora. Até a minha presença vos pouparei."
ELENA FERRANTE
Entre a espada e a parede escolhe uma sonora gargalhada ou o cinismo numa metáfora.
XAVIER VILLAURRUTIA
NOCTURNO DOS ANJOS
Dir-se-ia que as ruas fluem serenas na noite.
As luzes não são nítidas que ajudem a revelar o segredo,
o segredo dos homens que passeiam, conhecem,
porque estão todos imersos no segredo
não ganhariam nada em fragmentá-lo
sim, é bom guardá-lo
e dividi-lo só com a pessoa eleita.
Se cada um falasse uma vez só,
e com uma só palavra, aquilo que pensa,
as letras do desejo moldariam uma grande cicatriz cintilante,
uma constelação antiga, mais viva ainda que as outras.
Seria uma constelação ardente como o sexo
no corpo profundo da noite,
ou como os gémeos que pela primeira vez na vida
se olham de frente, e se abraçam para sempre.
A rua enche-se como um rio de seres ávidos,
caminham, aguardam, prosseguem.
Trocam olhares, ensaiam sorrisos,
formam pares imprevisíveis...
Há esquinas e bancos sombrios,
auras indistintas, formas profundas,
e súbitos vãos com uma luz que cega
e portas que cedem à mais leve pressão.
A rua fica deserta num instante.
Parece afugentar de si mesmo
o desejo de começar de novo.
Está paralisado, mudo, ofegante
como o coração entre dois espasmos.
Mas uma nova pulsação
lança ao rio da rua outros seres sedentos.
Cruzam-se, e sobem,
voam ao rés do chão,
nadam de forma milagrosa
e ninguém se atreveria a dizer que não caminham.
São anjos,
desceram à terra
através de degraus invisíveis.
Vieram do mar, o espelho do céu,
em barcos de fumo e sombra,
a fundir-se e confundir-se com os mortais,
a inclinar os seus rostos entre as coxas das mulheres,
a deixar que outras mãos apalpem febrilmente os seus corpos,
e que outros corpos procurem os seus até encontrá-los
como os lábios que se fecham,
a fatigar a boca tanto tempo estagnada,
a libertar as suas línguas de fogo,
a dizer juramentos, canções, e palavras porcas
com que os homens concentram o antigo mistério
da carne, do sangue, e do desejo.
Têm nomes fictícios, sinceramente divinos.
Chamam-se Dick ou John, Marvin ou Louis.
Em nada, senão na beleza, se distinguem dos mortais.
Passeiam, aguardam, e seguem.
Trocam olhares, ensaiam sorrisos,
formam pares imprevisíveis.
Sorriem astuciosos ao entrar nos elevadores dos hotéis
donde ainda prarticam um voo lento e vertical.
Em seus corpos nús há vestígios celestiais,
signos, estrelas, e letras azuis.
Deixam-se cair nas camas, e afundam-se nas almofadas
que os fazem pensar um momento nas nuvens.
Mas logo fecham os olhos para se entregar aos gozos da sua misteriosa encarnação,
e quando dormem não sonham com os anjos, mas com os mortais.
Poema de Xavier Villaurrutia (1903-1950)
PALESTINA
À tua lembrança como se aperta o teu coração!
Como ao som dessa lembrança a tua poesia flui!
Madrassas, hoje submetidas ao silêncio,
Têm a secreta eloquência que cobre de sangue as tribunas.
Elas voltam-se para o seu tempo passado
Em que o poder do seu ensino se espalhava pelo Mundo.
Tão pesada é a nostalgia que corrói o coração das pedras,
Tão triste que consome o espírito no coração do homem.
Madrassas, antigos paraísos,
De ribeiras fecundas e sonoras:
A vida fluía doce por entre as suas sombras,
Mil cores enfeitiçavam o nosso olhar na luz das palavras.
Árabes! Já caminhámos tempo de mais na obscuridade.
Vieram os invasores e devastaram a nossa terra!
Pacíficos, sim, nós éramos pacíficos.
Mas, agora, meus irmãos, despertemos
E esforcemo-nos por manter, com firmeza,
As nossas promessas na fé islâmica!
Contra o agressor,
Vomita, vulcão, vomita a tua cólera,
Porque, ó Palestina, pérola das nossas glórias,
Múltipla coroa em símbolo de dignidade,
O teu Evangelho anuncia a paz
E o teu Alcorão a justiça eterna.
POEMA DE SALIM AL-ZURKALI, TRADUZIDO POR ANTÓNIO BARAHONA
RADE DRAINAC
FOLHA
Mudei de estação: o Outono ficou para trás e as minhas malas.
Agora o céu é duvidoso, como uma mentira inábil.
Na primeira taberna terei de esquecer
A carta melancólica que me tirou o sono.
Ocioso, arrasto-me pela rua, entre escritórios.
As andorinhas partiram e as máquinas de escrever ficaram.
No horizonte há uma grande trombeta de fumo.
Foi há pouco inventado um avião tão pequeno como uma borboleta.
Bravo! É um bom sinal.
A primeira folha de Outono caiu no meu chapéu.
POEMA DE RADE DRAINAC
AOS QUE VIRÃO A NASCER
I
É verdade, vivo em tempo de trevas!
É insensata toda a palavra ingénua. Uma testa lisa
Revela insensibilidade. Os que riem
Riem porque ainda não receberam
A terrível notícia.
Que tempos são estes, em que
Uma conversa sobre árvores é quase um crime
Porque traz em si um silêncio sobre tanta monstruosidade?
Aquele ali, tranquilo a atravessar a rua,
Não estará já disponível para os amigos
Em apuros?
É verdade ainda ganho o meu sustento.
Mas acreditem: é puro acaso. Nada
Do que eu faço me dá o direito de comer bem.
Por acaso fui poupado (Quando a sorte me faltar, estou perdido.)
Dizem-me: Come e bebe! Agradece por teres o que tens!
Mas como posso eu comer e beber quando
Roubo ao faminto o que como e
O meu copo de água falta a quem morre de sede?
E apesar disso eu como e bebo.
Também eu gostava de ter sabedoria.
Nos velhos livros está escrito o que é ser sábio:
Retirar-se das querelas do mundo e passar
Este breve tempo sem medo.
E também viver sem violência
Pagar o mal com o bem
Não realizar os desejos, mas esquecê-los.
Ser sábio é isto.
E eu nada disso sei fazer!
É verdade, vivo em tempo de trevas!
II
Cheguei às cidades nos tempos da desordem
Quando aí grassava a fome
Vim viver com os homens nos tempos da revolta
E com eles me revoltei.
E assim passou o tempo
Que na terra me foi dado.
Comi o meu pão entre as batalhas
Deitei-me a dormir entre os assassinos
Dei-me ao amor sem cuidados
E olhei a natureza sem paciência.
E assim passou o tempo
Que na terra me foi dado.
No meu tempo as ruas iam dar ao pântano.
A língua traiu-me ao carniceiro.
Pouco podia fazer. Mas os senhores do mundo
Sem mim estavam mais seguros, esperava eu.
E assim passou o tempo
Que na terra me foi dado.
As forças eram poucas. A meta
Estava muito longe
Claramente visível, mas nem por isso
Ao meu alcance.
E assim passou o tempo
Que na terra me foi dado.
III
Vós, que surgireis do dilúvio
Em que nós nos afundámos
Quando falardes das nossas fraquezas
Lembrai-vos
Também do tempo de trevas
A que escapastes.
Pois nós, mudando mais vezes de país que de sapatos, atravessámos
As guerras de classes, desesperados
Ao ver só injustiça e não revolta.
E afinal sabemos:
Também o ódio contra a baixeza
Desfigura as feições.
Também a cólera contra a injustiça
Torna a voz rouca. Ah, nós
Que queríamos desbravar o terreno para a amabilidade
Não soubemos afinal ser amáveis.
Mas vós, quando chegar a hora
De o homem ajudar o homem
Lembrai-vos de nós
Com indulgência.
Poema de Bertolt Brecht
Vivemos um tempo onde as palavras honestas já não têm valor.
Vivemos o tempo das palavras sujas, obscuras, manhosas, e cujo significado muitas vezes não entendemos.
ANÓNIMOS, UMA IMENSA MAIORIA
Gritámos...
Ninguém nos ouve;
Somos invisíveis, ou já estamos mortos?
"(...O verbo plantar é um verbo humilde e silencioso; um artesanato primitivo, duro, plástico e incessante; quase tão antigo como o homem; ligado a uma das actividades decisivas na luta interminável pela subsistência o cultivo da terra...)"
In «Que coisas são as nuvens», crónica de José Tolentino Mendonça publicada na Revista E, edição 2279, de 2 de Julho 2016
in "Diário de Notícias"
PLANTU (JEAN PLANTUREUX)
EDUARDO LOURENÇO
HENRIK NORDBRANDT
PRAGMÁTICO
As coisas que existiam antes de tu morreres
e as coisas que surgiram depois:
Às primeiras pertencem, antes do mais,
as tuas roupas, as jóias e as fotografias
e o nome da mulher que te deu o nome
e também morreu jovem...
Mas também um par de receitas, o arranjo
de um certo canto na sala,
uma camisa que me passaste a ferro
e que guardo cuidadosamente
debaixo da minha resma de camisas,
algumas peças de música, e o cão
sarnento que por aí anda
com um sorriso estúpido, como se ainda aqui estivesses.
Às últimas pertencem a minha caneta,
um perfume conhecido
na pele de uma mulher que mal conheço
e as novas lâmpadas que pus no candeeiro do quarto
que iluminam o que leio acerca de ti
em todos os livros que leio.
As primeiras recordam-me que exististe,
as últimas que já não existes.
Que sejam quase indistinguíveis
é o mais difícil de suportar.
ANTÓNIO FRANCO ALEXANDRE
o teu amor, bem sei, é uma palavra musical,
espalha-se por todos nós com a mesma ignorância,
o mesmo ar alheio com que fazes girar, suponho, os epiciclos;
ergues os ombros e dizes, hoje, amanhã, nunca mais,
surpreende o vigor, a plenitude
das coxas masculinas, habituadas ao cansaço,
separamo-nos, à procura de sinais mais fixos,
e o circuito das chamas recomeça.
é um país subtil, o olho franco das mulheres,
há nos passeios garrafas com leite apenas cinzento,
os teus pais disseram: o melhor de tudo é ser engenheiro,
morrer de casaco, com todas as pirâmides acesas,
viajar de navio de buenos aires a montevideu.
esta é a viagem que não faremos nunca, soltos
na minuciosa tarde dos lábios,
ágil pobreza.
permanentemente floresce o horizonte em colinas,
os animais olham por dentro, cheios de vazio,
como um ladrão de pouca perícia a luz
desfaz devagarmente os corpos.
ele exclama: quando me libertarás da tosca voz dormida,
para que seja
alto e altivo o coração das coisas? até quando aguardarei,
no harmonioso beliche, que a tua visão cesse?
POEMA DE ANTÓNIO FRANCO ALEXANDRE