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O autor português está entre os doze vencedores do Prémio de Literatura da União Europeia, destinado a escritores em início de carreira e que antes distinguiu Dulce Maria Cardoso e Afonso Cruz.
David Machado viu-se galardoado com o Prémio de Literatura da União Europeia (UE) de 2015 com a obra Índice Médio de Felicidade (Dom Quixote, 2013). O escritor português é um dos doze vencedores cujos nomes e nacionalidades foram hoje revelados na Feira do Livro de Londres por Tibor Navracsics, Comissário Europeu para a Educação, a Cultura, a Juventude e o Desporto.
Morreu o cantor norte-americano Percy Sledge, aos 73 anos. Famoso pela canção When a Man Loves a Woman, que gravou em 1966, Sledge era um nome respeitado da soul. Morreu em casa, esta terça-feira, em Baton Rouge, Louisiana.
Bragança vai ser, dia 25 de abril, palco da primeira etapa de "Viagem Literária", uma iniciativa que pretende fomentar o gosto pela leitura e pelo pensamento e que, neste dia, contará com as participações dos escritores Luís Sepúlveda e Valter Hugo Mãe.
O espaço escolhido para este encontro, que se inicia pelas 17 horas, é o Teatro Municipal da cidade. As entradas são gratuitas.
Pela primeira vez, um evento literário compromete-se a, mensalmente, percorrer o país, de norte a sul, do litoral ao interior, passando pelos Açores e pela Madeira, indo ao encontro dos leitores e desafiando-os para uma viagem na qual participarão grandes nomes da literatura.
A "Viagem Literária", uma iniciativa apresentada, esta quinta-feira, pela Porto Editora, vai acontecer em 18 cidades e terminará em Viana do Castelo, em setembro do próximo ano. De fora ficam Lisboa e Porto, "vincando-se assim a projeção nacional deste evento que pretende envolver os públicos que, regra geral, não têm acesso à mesma oferta cultural que existe nos dois maiores centros urbanos", sublinham os organizadores.
A ideia da "Viagem Literária" é a de que, em cada cidade estejam dois escritores à conversa, tendo como moderador o jornalista João Paulo Sacadura.
A Porto Editora esclarece que "os espaços em que decorrerão as sessões serão, preferencialmente, os teatros municipais, por forma a permitir a participação de centenas de leitores", e que "os bilhetes serão gratuitos".
Depois de Bragança, a "Viagem Literária" vai passar por Vila Real, Viseu, Guarda e pelas restantes cidades, só terminando em Viana do Castelo, em setembro de 2016. Confirmadas estão já as participações de autores como Laurentino Gomes, Richard Zimler, Francisco José Viegas, José Eduardo Agualusa, José Rentes de Carvalho, Miguel Esteves Cardoso, Rosa Montero e Gonçalo M. Tavares, numa lista que vai crescer e que, a seu tempo, será atualizada.
CANÇÃO DE BOAS-VINDAS
Esta é a tua mamã, este é o teu papá.
Bem-vindo sejas, carne e sangue da mamã e do papá.
Porque estás tão triste, pá?
Esta é a tua comida, esta é a tua bebida.
E também uns pensamentos, se a filosofia te é querida.
Bem-vindo sejas a tudo o que há na vida.
Esta é, praticamente limpa, a folha da tua vida.
Embora a modos que tarde, a ela sejas bem-vindo.
Sê, em todo o caso, bem-vindo.
*
Este ó teu cheque do mês, pagas tanto de alojamento.
Da natureza, o dinheiro é o quinto elemento.
Bem-vindo sejas a cada cêntimo.
Este é o teu enxame e o teu formidável cortiço.
Bem-vindo sejas ao lugar onde além de ti
vivem quase cinco biliões de castiços.
Bem-vindo sejas à lista telefónica onde o teu nome é protagonista.
Os dígitos são o desígnio oculto da democracia.
Bem-vindo sejas ao teu direito a seres notícia.
*
Este é o teu casamento, este é o divórcio.
Bom, a ordem é que não podes alterar.
Bem-vindo sejas ao casório; e mete-o onde não aleijar.
Esta é a tua lâmina da barba, esta é a veia do pulso.
Bem-vindo sejas ao terrorismo para teu próprio uso;
chama à peça "O Meu Médio Oriente Avulso".
Este é o teu espelho, a tua brancura dental.
No teu sonho há um polvo abissal.
Porquê esse grito animal?
*
Esta é a tua malga das pipocas, a tua televisão está ali ao lado.
O teu candidato está a passar um mau bocado.
Bem-vindo sejas ao seu arrazoado.
Esta é a tua varanda para veres os carros passar.
O teu cão olha-te contrito por tudo de merda sujar.
Bem-vindo sejas ao que diga para se justificar.
Estas são as tuas cigarras, além um passarinho,
a lágrima ao canto do olho cai dentro do chazinho.
Bem-vindo sejas a um infinito maninho.
*
Estes são os teus comprimidos no tabuleiro ambulante,
a tua desenganada radiografia arrepiante.
És bem-vindo a rezar daqui em diante.
Este é o teu cemitério, num vale que tratam bem.
Bem-vindo sejas à voz que diz "Ámen".
É o fim da linha, meu bem.
Este é o teu testamento e estes são uns quantos
beneficiários. Na igreja estão vazios os bancos.
Esta é a vida depois de ti, ou nem tanto.
*
E estas são as tuas estrelas que continuam a gostar muito
de brilhar como se nunca tivesses existido.
Lá terão as suas razões, meu menino.
Este é o teu post-mortem, sem sequer um rasto
de ti, especialmente do teu rosto.
Sê bem-vindo, e chama-lhe espaço.
Sê bem-vindo a onde não há ar para respirar. Mais,
dessa forma, o espaço assemelha-se ao que está por baixo,
e Saturno segura a coroa e a faixa.
Poema de Iosif Brodskii escrito em 1992 e retirado do livro "Paisagem com Inundação" edição Edições Cotovia 2001
Billie Holiday, a grande voz do jazz, faria hoje 100 anos.
Era depois da morte herberto helder
Ia fazer três anos que morrêramos
três anos dia a dia descontados no relógio
da torre que de sombra nos cobriu a infância:
rodas no adro - gira a borboleta que se atira ao ar -
o jogo do berlinde o trinta e um pedradas
nas cebeças nos ninhos nas vidraças
Foi quando verdadeiramente começou
a conspiração dos líquenes cabelos e avencas
na mina onde molhámos nossos jovens pés
e tirámos retratos para morrer mais uma vez
Os nossos filhos - nós outra vez crianças -
comiam e gostavam das laranjas essas mesmas laranjas
que mordemos em tempos ao chegar nas férias de natal
no quintal que as máximas mãos deixaram já depois abandonado
Era a seguir à morte meu poeta
era na meninice havia festa e na sala da entrada
pensávamos na morte - nunca mais - pela primeira vez
Trincávamos cheirávamos maçãs no muro sobre a praia
roubávamos o balde ou íamos atrás do homem dos robertos
Era nas férias havia o mar e íamos à missa
ouvíamos a campainha e o padre voltava-se pra nós
- orate fratres - ou íamos ao cemitério apesar do catitinha
Era depois da morte sobre a plana infância
o primeiro natal o cheiro do jornal
lido na adega ou na casa do forno
sentados pensativos sobre a terra húmida
Era na infância o sol caía enquanto água corria
entre os pés de feijão e os buracos de toupeiras
calcados prontamente pelas botas
soprava o vento e vinha a moinha da eira
o cão comia o bolo e morria debaixo da figueira
e teria sepultura com enterro e cruz e muitas flores
Havia casamentos o meu pai falava
e os noivos deitavam-nos confeitos das carroças
E os registos mistério tempo da prenhez
Era talvez no outono havia asma
havia a festa da azeitona havia os fritos
ao domingo havia os bêbados estendidos pelas ruas
havia tanta coisa no outono havia o cristovam pavia
Era a primavera o rio rápido subia
os barcos navegavam entre a vinha
e alastrava a sombra e a tarde adensava-se
num espesso e branco nevoeiro de algodão
noite dos candeeiros sombras nas paredes
e minha mãe pegava na espingarda ia à janela
e ouvia-se o chumbo no telhado lá ao longe
O leovigildo o marcolino o sítio do miguel
a sesta a monda das mulheres
a queda do bizarro exposto na igreja
isso e o almoço a saber mal
quando vinham da escola pra saber significados
Eram as despedidas de coelhos e galinhas antes das viagens
Eram as festas era o roubo dos melões
era a menstruação oculta da criada
Era talvez em tempo de tormenta
havia ferros entre a palha por baixo da galinha
que chocava os ovos dentro de um velho cesto
eram as nossas casas em adobe
e era o carnaval os bailes os cortejos
Íamos para a praia e eu lia camilo
ouvia o mar bater sem conseguir compreender
como podia estar ali se tinha estado noutro sítio
Era o tempo dos primeiros amores
eu via o pavão adoecia e só muito mais tarde lia
o trecho que me competia entre as amadas raparigas
A casa não ficava muito longe dos montes
não havia a cidade nem os outros
punham ainda em causa o meu reino de deus
senhor de tudo o que depois não tive
Era depois da morte ou era antes da morte?
Mas haveria morte verdadeiramente?
Lia o paulo e virgínia chorava e perguntava
se tudo aquilo tinha acontecido
Era o meu pai era esse sonhador incorrigível
sem nunca mais saber que havia de fazer dos dias
Eram as folhas novas eram os perdigotos
saídos não há muito ainda da casca
Era era tanta coisa
Seria realmente após a morte de herberto helder
Poema de Ruy Belo "Homem de Palavra[s]", 1970
AMOR DAS PALAVRAS
Amo todas as palavras, mesmo as mais difíceis
que só vêm no dicionário.
O dicionário ensinou-me mais um atributo
para o sabor de teus lábios.
São doces como sericaia.
Faz-me pensar ainda se a tua beleza não será
comparável à das huris prometidas.
No dicionário aprendi que o meu verso é
por vezes fabordão e sesquipedal.
Nele existe o meu retrato moral (que
não confesso) e o de meus inimigos,
rasteiros como seramelas sepícolas
e intragáveis como hidragogos destinados à comua.
O dicionário, as palavras, irritam muita gente.
Eu gosto das palavras com ternura
e sinto carinho pelo dicionário,
maciço e baixo e pelo seu casaco, azul
desbotado, de modesto erudito.
Poema de Rui Knopfli in "O país dos outros" - 1959
Apenas dois dedos de conversa. O que tem faltado para haver uma mão cheia de conversa?
lustração de Bernardo Carvalho para 'Praia Mar' Fotografia © Direitos reservados
Segundo o especialista Martin Salisbury, há um título português entre os 100 "grandes livros ilustrados para crianças": 'Praia Mar', de Bernardo Carvalho, editado pela Planeta Tangerina.
Os títulos foram escolhidos pelo colecionador Martin Salisbury, que é professor de ilustração na Cambridge School of Art, no Reino Unido, e que publicou agora o livro100 Great Children's Picture Book onde faz uma seleção dos melhores livros ilustrados para crianças publicados entre 1922 e 2011. Segundo explicou o autor The Guardian esta é uma lista subjetiva, e inclui títulos tão diferentes como Goggles, de Ezra Jack Keats (Nova Iorque, 1969) ou Kem Byt? (título em russo que se poderá traduzir por: O que é que vou ser?) de Vladimir Mayakovksy e ilustrações de Nisson Abramovich Shifrin (1931).
Um dos 100 livros elencados é português: Praia Mar, de Bernardo Carvalho, editado em 2011, é um livro só com imagens. Segundo Martin Salisbury, "a editora portuguesa Planeta Tangerina é uma das mais inovadoras que surgiu nos últimos anos. Os seus livros são conhecidos em todo o mundo. Praia Mar começou por ser uma edição de autor, para a família e os amigos, com uma introdução de Carvalho explicando a sua relação com a praia e o mar."