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Ao princípio era só uma em cada olhar
após a grande divisão das águas
e mesmo, segundo disse Baudelaire, a imagem
até ao seu século do real múltiplo
era una, única e própria. Dementes
chamou este cantor aos fotogramas
que roubavam à alma a unicidade
e deram aos olhos frívolos as figuras
plurais, idênticas, dispersivas.
Era somente uma a imagem mística,
dos entes naturais aos transcendentes.
Só uma esta vermelha afelandra
embora as suas irmãs se lhe assemelhem
e desassemelhem, cada uma, sempre.
O concreto pulsava neste ritmo
das coisas parcas, poucas, singulares.
E de repente, mnos olhos do poeta
cada coisa reproduziu a imagem
inumeradamente, e a ideia
decaíra no banal prolixo.
Antes, podia hesitar-se entre o modelo
e as sombras de Platão, agora as flores
malignas podem reproduzir-se no mundo
nítidas, iguais, supérfluas.
Eu ainda vejo o olhar antigo de Baudelaire
e cada coisa vibra no seu mito,
e cada imagem cria o seu espírito,
e cada cópia fotográfica muda
na liminarmente máxima diferença.
Ao crítico e amante da Pintura
as dúbias imagens decerto deram
a cada rosto um só outro rosto,
a cada paisagem uma só tela.
Já os vidros, a água, a prata traziam
a incerteza aos traços, como se os olhos
que nos deu a Natureza nos fossem
infiéis. E o poeta pôde resistir
a esta perda das formas consagradas
e consubstanciais das coisas que ainda
ecoam a Criação como o eco cósmico
Poema de Fiama Hasse Pais Brandão, OBRA BREVE [Poesia Reunida], Assírio & Alvim, edição 0976, Maio de 2006
Guimarães no topo dos destinos europeus mais recomendados em 2012, de acordo com a National Geographic, Lonely Planet, CNNGo, Travelk & Leisure, USA TODAY, Budget Travel, e Frommers.
Parte V (continuação)
Tudo quanto foi atrás dito dificilmente explica as perniciosas implicações do neoliberalismo para com uma cultura política centrada no civismo. Por um lado, a desiguldade social gerada pelas políticas neoliberais prejudica qualquer esforço para dar forma à igualdade prevista na lei e necessária para conferir credibilidade à democracia. Os grandes conglomerados dispõem de recursos para influenciar os meios de comunicação e esmagar o processo político, e fazem-no com eficácia. Para dar um só exemplo, na política eleitoral dos EUA, o mais rico um quarto de um por cento dos americanos contribui com oitenta por cento do total de contribuições políticas individuais e, para o mesmo fim, as corporações ultrapassam em 10 para 1 os valores destinados a custos com pessoal. Visto sob o prisma do neoliberalismo tudo isto faz sentido, tendo em conta que as eleições então reflectem princípios de mercado, logo as contribuições são entendidas como investimento. Daí resulta o reforço da irrelevância da política eleitoral para a maioria do povo e a garantia da manutenção inquestionável das regras ditadas pelas corporações.
Excerto de um texto escrito por Robert W. McChesney em Outubro de 1998 e que serve de introdução ao livro de Noam Chomsky "Neoliberalismo e Ordem Global-crítica do lucro, publicado em 1999 e editrado em Portugal por editorial notícias em 2000.
O escritor Gonçalo M. Tavares venceu a quinta edição do prémio literário Fundação Inês de Castro, de Coimbra, com o romance "Uma Viagem à Índia".
O júri do prémio atribuiu ainda um Tributo de Consagração a Fernando Echevarría, 82 anos, pelo conjunto da obra literária.
O júri do prémio Fundação Inês de Castro integrou José Carlos Seabra Pereira, Mário Cláudio, Fernando Guimarães, Frederico Lourenço e Pedro Mexia.
O romance "Uma Viagem à Índia", editado em 2010, tem por referência "Os Lusíadas", mas é "uma narrativa de uma viagem contemporânea, no século XXI", como explicou o autor à agência Lusa quando o livro foi lançado.
O escritor receberá o prémio - que inclui uma escultura de João Cutileiro - 04 de fevereiro na Quinta das Lágrimas, em Coimbra.
Nas edições anteriores, foram distinguidos Pedro Tamen, Teolinda Gersão, José Tolentino de Mendonça e Hélia Correia.
"Uma Viagem à Índia" já valeu a Gonçalo M. Tavares o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio Literário Fernando Namora/Estoril Sol, tendo sido ainda finalista do prémio Portugal Telecom de Literatura.
Gonçalo M. Tavares nasceu em Angola, em 1970, e já recebeu vários prémios, nomeadamente o Prémio José Saramago 2005 e o Prémio LER/Millennium BCP 2004, ambos para o romance "Jerusalém".
O escritor publicou no final do ano passado o livro "Short Movies".
Fernando Echevarría, nascido em Espanha em 1929 filho de pai português e mãe espanhola, recebeu o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores 2009 pelo livro "Lugar de Estudo".
A obra-prima de Gustave Flaubert e uma das mais refinadas realizações literárias de todos os tempos
In "
Parte IV (continuação)
Portanto, o sitema neoliberal gera um importante e necessário subproduto - uma cidadania despolitizada marcada pela apatia e pelo cinismo. Se a democracia eleitoral afecta em tão pouco a vida social, torna-se irracional prestar-lhe grande atenção; nos Estados Unidos, berço da democracia neoliberal, em 1998, a abstenção nas eleições para o Congresso constituiu um recorde, somente com um terço dos cidadãos eleitores a exercerem o direito de voto. Apesar da preocupação demonstrada ocasionalmente pelos partidos tradicionais, como o Partido Democrático dos EUA, no sentido de tentar atrair so votos dos mais desfavorecidos, a forte percentagem de abstenção tende a ser vista como aceitável e é encorajada pelos poderes existentes como algo de salutar, visto que, sem surpresa, os não votantes situam-se maioritariamente entre os pobres e a classe trabalhadora. As políticas que poderiam conduzir a um rápido incremento do interesse dos votantes e a taxas de participação mais elevadas são bloqueadas antes mesmo da sua discussão pública. Por exemplo, nos Estados Unidos, os dois partidos mais importantes, que são dominados pelo mundo dos negócios, com o apoio da comunidade das corporações, recusaram alterar as leis que virtualmente impedem o aparecimento de novos partidos políticos (os quais poderiam fazer apelo a interesses alheios aos negócios) e que eles exerçam plenamente os seus direitos. Se bem que exista insatisfação pelo comportamento dos Democratas e dos Republicanos que é anotada e frequentemente referida, a política eleitoral é uma área onde noções de competividade e livre escolha têm pouco sentido. Sob certos aspectos, o teor dos debates e as propostas em elições neoliberais estão mais próximos dos levados a efeito nos Estados comunistas de partido único do que aquelas que têm lugar nas sociedades genuinamente democráticas.
Excerto de um texto escrito por Robert W. McChesney em Outubro de 1998 e que serve de introdução ao livro de Noam Chomsky "Neoliberalismo e Ordem Global-crítica do lucro, publicado em 1999 e editrado em Portugal por editorial notícias em 2000.
Parte III (continuação)
É precisamente a opressão exercida sobre as forças situadas fora do mercado que nos permite observar o modo de actuar do neoliberalismo não só como sistema económico, mas também como sistema político e cultural. Podem aqui verificar-se as suas diferenças para com o fascismo, com o seu desprezo pela democracia formal e com os seus movimentos sociais altamente mobilizados pelo racismo e pelo nacionalismo, que são notáveis. O neoliberalismo actua melhor quando existe uma democracia eleitoral formal, mas desde que a população seja desviada das fontes de informação e dos debates públicos que habilitam à formação participativa de uma tomada de decisão. Como foi salientado pelo guru do neoliberalismo, Milton Friedman, na sua obra Capitalism and Freedom, e dado que a obtenção de lucro é a essência da democracia, qualquer governo que conduza políticas contra o mercado está a comportar-se de forma antidemocrática, sendo irrelevante o apoio que goze por parte de uma população esclarecida. Logo é mais conveniente restringir a acção dos governos à tarefa de proteger a propriedade privada e fazer cumprir os contratos, e limitar o debate político a questões menores. (As questões importantes como sejam a produção e distribuição de recursos e a organização social devem ser determinados pelas forças do mercado.)
Munidos com esta perversa visão da democracia, os neoliberais, como Friedman, não levantaram quaisquer objecções ao golpe de Estado que em 1973 depôs o governo democraticamente eleito de Allende, visto que o presidente estava a interferir com o controlo dos negócios da sociedade chilena. Quinze anos após uma ditadura que com frequência foi brutal e selvagem - tudo em nome do democrático e livre mercado - a democracia formal foi restabelecida em 1989, com a promulgação de uma constituição que torma substancialmente mais difícil, senão impossível, aos cidadãos desafiarem o domínio da sociedade chilena exercido pelo complexo militar dos negócios. A democracia neoliberal pode resumir-se: um debate banal sobre questões menores levado a cabo por partidos que basicamente prosseguem as mesmas políticas favoráveis ao capital, independentemente de diferenças formais ou da forma que revestem os debates eleitorais. A democracia é permissível desde que o controlo dos negócios esteja fora dos limites de escolha ou de mudança como demonstração da vontade popular, i.e., desde que não exista democracia.
Excerto de um texto escrito por Robert W. McChesney em Outubro de 1998 e que serve de introdução ao livro de Noam Chomsky "Neoliberalismo e Ordem Global-crítica do lucro, publicado em 1999 e editrado em Portugal por editorial notícias em 2000.
Desculpem, mas apetece-me gritar, como o Luís Pacheco escreveu, puta que os pariu...
Parte II (continuação)
As consequências económicas destas políticas tiveram praticamente os mesmos resultados idênticos onde quer que tenham sido aplicadas: um aumento maciço da desigualdade social e económica; um assinalável incremento da forte dependência das nações e dos povos mais pobres do mundo; um desastre ambiental global; uma economia global instável, e uma bonança sem precedentes para os ricos. Ao serem confrontados com estes factos, os defensores da nova ordem liberal argumentam que os restos do que é bom invariavelmente sobejam para a generalidade da população - desde que não se encontrem em oposição às políticas neoliberais que exacerbaram estes problemas!
No fundo, não é possível aos neoliberais, nem essa é a sua intenção, defenderem empiricamente o mundo que pretendem construir. Muito pelo contrário, eles oferecem - melhor, exigem - uma fé religiosa na infabilidade da desregulmentação do mercado, que reconduz às teorias do século XIX que muito pouco tem a ver com o mundo actual. No entanto, o último dos trunfos dos defensores do neoliberalismo é acentuar a falta de alternativas. Eles proclamam o falhanço das sociedades comunistas, da social-democracia e até dp Estado Social n a sua forma mitigada, tal como existe nos Estados Unidos, e a aceitação do neoliberalismo popr parte dos cidadãos como a única saída possível. Poderá ser considerado imperfeito, mas é o único sistema económico possível.
No início do século XX, alguns críticos apelidaram o fascismo de "capitalismo sem luvas", significando com isto que o fascismo era o capitalismo na sua forma pura sem a presença de estruturas ou direitos democráticos. De facto, todos nós reconhecemos que o fascismo é amplamente mais complexo. Por outro lado, o neoliberalismo é na verdade o "capitalismo sem luvas". Representa uma era onde a força do dinheiro é mais forte e mais agressiva, confrontando-se com oposição menos organizada que anteriormente. Neste circunstancialismo político, a força do capital procura sedimentar o seu poder político em todas as frentes possíveis, e, como resultado, dificultar progressivamente que os negócios sejam postos em causa - e seguidamente tornar impossível - por negócios concorrentes situados fora do mercaso ou que não sejam lucrativos e acabar de uma vez por todas com as forças democráticas.
Excerto de um texto escrito por Robert W. McChesney em Outubro de 1998 e que serve de introdução ao livro de Noam Chomsky "Neoliberalismo e Ordem Global-crítica do lucro, publicado em 1999 e editrado em Portugal por editorial notícias em 2000.
Parte I
O neoliberalismo é o paradigma político definidor da economia dos nossos tempos, tendo como referência políticas e procedimentos que permitem que uns poucos interesses privados controlem o mais possível a vida social, por forma a maximizar o seu lucro pessoal. Inicialmente associado a Reagan e Margareth Thatcher, o neoliberalismo foi, ao longo das duas últimas décadas, a orientação dominante adoptada pelos partidos políticos situados ao centro, por muita da esquerda tradicional bem como pela direita no que se refere a opções de política global. Estes partidos e as políticas por eles desenvolvidas são representantes dos interesses imediatos de investidores extremamente poderosos e de umas quantas corporações cujo número não ascende a cem.
À parte alguns académicos e membros da comunidade dos negócios, o termo neoliberalismo é mal conhecido e pouco usado pelo cidadão comum, especialmente os Estados Unidos. Ali, muito pelo contrário, as iniciativas neoliberais são caracterizadas como políticas de livre mercado, encorajadoras da livre empresa e da liberdade da escolha dos consumidores, premiando a responsabilidade pessoal e a iniciativa empresarial e destruindo o peso morto que constitui um governo incompetente, burocrático e parasita, o qual nada poderá fazer de bom, mesmo que seja esse o seu objectivo, coisae raramente acontece. Toda uma geração de técnicos de relações públicas financiada pelas corporações desenvolveu esforços e conseguiu emprestar a estes termos e ideias uma aura sagrada. Daí resulta que as afirmações que produzem raramente necessitam de ser desmontradas, sendo antes invocadas como factor de racionbalização que cobre áreas que vão desde a redução dos impostos sobre a riqueza ou o abandono de determinadas regulamentações ambientais até ao desmantelamento de programas de educação pública ou de segurança social. Na verdade, qualquer actividade que possa interferir sobre o domínio da sociedade pelas corporações torna-se imediatamente suspeita, pois podem bulir com o funcionamento do livre mercado, considerado como o único distribuidor de bens e serviços racional, justo e democrático. No máximo da sua eloquência, os apóstolos do neoliberalismo, enquanto actores por conta de uns quantos endinheirados, surgem como defensores dos pobres e do ambiente e como estando a prestar um enorme serviço à comunidade.
Excerto de um texto escrito por Robert W. McChesney em Outubro de 1998 e que serve de introdução ao livro de Noam Chomsky "Neoliberalismo e Ordem Global-crítica do lucro, publicado em 1999 e editrado em Portugal por editorial notícias em 2000.
Quem diria que o velhinho com cara de pai natal sem barbas era um cínico dos diabos, com sentido de humor grotesco e obsceno?
Luís Miguel Nava
Atei uma ligadura ao mundo.
Seguindo uma estratégia diferente, há quem o aparafuse, ajoelhando-se na terra, ou abra nele um olho, uma pupila.
Por cima dele o céu é elástico.
Elástico, adesivo, eis dois dos atributos que, ao dar por acabado o livro de que este texto pode, entre outros, ser a introdução, mais me fascinam.
A própria alma é elástica: podemos, assentando um dedo sobre a sua superfície e pressionando-a, levá-la a tocar nas coisas mais inesperadas.
O real é um vidro pintado sob o sol berrante, as coisas prendem-se-me ao espírito. Do mar, para não dar senão um exemplo, fiz a minha máscara integral.
Luís Miguel Nava "Poesia Completa 1979-1994, publicações d. quixote, 2002
"São todos uns merdosos e traiçoeiros"
Daniel Craig sobre os políticos
O Assalto à EDP
O grande banquete da pátria está a ser servido aos senhores feudais com lugar sentado
Clara Ferreira Alves in "pluma caprichosa" Revista Expresso n.º 2016, 14 janeiro 2012
Natércia Freire
VILA PERDIDA
A vila não é aqui.
Vamos cegos mas sabemos
que a vila não é aqui.
Entre chaparrais e moitas,
se me afoito, se te afoitas
onde os tectos e os jardins
da vila que só eu vi?
Correm verões para a beira-rio
na velha vila deitada.
Correm verões anos a fio.
E a casa que está fechada,
a casa que nos ouviu
passos de voz compassada,
jaz na música do tempo,
humana, morta, inundada.
(Há romãzeiras no vale,
há pegos de água brilhante,
sons lentos, no salgueiral
de um murmúrio rastejante.)
Não estou aqui, nem ali.
Mas foi de lá que eu parti
com rumo à minha Cidade.
Sentei-me à beira da estrada.
Moços, pássaros, ciganos,
vi que passavam em bando.
E eu não perguntei o quando.
Parti nos sonhos de todos
e até de mim me esqueci.
Porque era longe a Cidade
de um correio me servi.
Escrevi cartas para Deus.
Respostas de eternidade
recebi e recebi.
O regresso não o encontro
nos passos que um dia demos.
Mora num dia incompleto;
baila os rostos esfumados,
veste-se de oiro e de preto.
Está no fundo da lagoa,
é de vidro e soa e voa.
Poema de Natércia Freire, Poesia Completa, QUASI EDIÇÕES, 2006
Passado na Pensilvânia, num cenário de grande beleza mas economicamente destruído, é um livro sobre a perda do sonho americano e do desespero - bem como da amizade, lealdade e amor - que dela advêm.
Esta é a história de dois rapazes ligados à cidade pela família, responsabilidade, inércia e beleza, que sonham com um futuro para além das fábricas e das casas abandonadas. Isaac English é deixado a tomar conta do pai depois do suicídio da mãe e de a irmã ter fugido para a universidade de Yale. Quando finalmente decide partir, acompanhado pelo seu melhor amigo, o temperamental Billy Poe, antiga estrela do futebol do liceu, são apanhados num terrível acto de violência que muda as suas vidas para sempre. Ferrugem Americana, evocativa dos romances de Steinbeck, leva-nos ao coração da América contemporânea num momento de profunda inquietação e incerteza quanto ao futuro. Trata-se de um romance negro mas lúcido e comovente, acerca da desolação que se bate com o nosso desejo de transcendência e acerca da capacidade salvadora do amor e da amizade.
Assim é a memória. Onde quer que eu me encontre abre um buraco, entra na terra, o que me dificulta a marcha ao mesmo tempo que acentua esta estranheza de eu me sentir eu até onde nem mesmo as minhas mãos, ainda que escavassem, lograriam ir. Granitos, xistos, cimentos, a nada ela deixa de aceder por causa deles - às vezes acontece essa inquietante coisa de, num prédio, ser como se ela atingisse o andar de baixo ou outro mais baixo ainda, o que é de tal forma insidioso que, se alguém que dele chegasse mer dissesse nada ter notado, eu ficaria atónito. Mas é na pele que tudo se reflecte com maior intensidade - a memória abre um sulco através dela, espalha-se-lhe à tona com tudo o que da terra atrás de si carrega até se misturar com a saliva, a qual - completamente subterrânea - é o que por fim lhe serve de coroa, aquilo a que chamamos, referindo o mar, rebentação. Vem sempre dar à pele o que a memória carregou, da mesma forma que, depois de revolvidos, os destroços vêm dar à praia.
Luís Miguel Nava, poesia completa 1979-1994, publicações dom quixote, lisboa 2002
- A Cidade de Ulisses, de Teolinda Gersão (Sextante)
- As Luzes de Leonor, de Maria Teresa Horta (Dom Quixote)
- Adoecer, de Hélia Correia (Relógio D’Água)
- Bufo & Spallanzani, de Rubem Fonseca (Sextante)
- Do Longe e do Perto – Quase Diário, de Yvette K. Centeno (Sextante)
- Dublinesca, de Enrique Vila-Matas (Teorema)
- O Homem que Gostava de Cães, de Leonardo Padura (Porto Editora)
- Os Íntimos, de Inês Pedrosa (Dom Quixote)
- Tiago Veiga – Uma Biografia, de Mário Cláudio (Dom Quixote)
Do júri fazem parte Ana Paula Tavares, Fernando Pinto do Amaral, José António Gomes, Patrícia Reis e Pedro Mexia. A reunião decisiva será a 22 de Fevereiro, com o anúncio oficial marcado para o dia seguinte, na abertura da 13.ª edição do Correntes d’Escritas.
Post retirado do blog "Bibliotecário de Babel"
O mundo da cultura portuguesa arrasta há quatro séculos uma existência crepuscular.
Passando à margem dos três decisivos acontecimentos espirituais da idade moderna - a cisão religiosa das reformas, a criação da físico-matemática e a filosofia cartesiana -, a nossa cultura dos séculos XV e XVI perdeu o que tinha de vivo e prometedor, para conservar apenas o comentarismo ruminante e estéril, do qual aliás jamais se libertara completamente, mesmo nas suas horas mais felizes.
De então para cá, têm-na salvo da morte absoluta os raros que teimaram em acreditar ser possível ascender de novo ao espírito da Europa. Mas sempre que isso aconteceu, a minoria responsável pelo nosso destino cultural não hesitou em submergir os seus autores no silêncio, antepondo-lhes uma inércia premeditada ou um veto concertado e decidido.
Excerto de um texto de Eduardo Lourenço retirado do livro Heterodoxia I, edição Gradiva 2005
Uma viagem de mil milhas começa com o primeiro passo
Lao-Tsé
Leio os jornais: Eduardo Catroga está reformado e aufere uma pensão de reforma de cerca de 10 000 euros por mês. Leio os jornais: Eduardo
Catroga foi convidado pelos «accionistas» da EDP para um cargo qualquer, onde vai auferir a quantia de 45 000 euros por mês. Primeiro, um país em que isto acontece, já não é um país é uma choldra imunda; segundo, os milhões de portugueses que recebem o salário mínimo, e pensões de reforma miseráveis (o equivalente ao que os Catrogas deste regime entregam de gorjeta no restaurante), ou os desempregados têm o legítimo direito de pregarem fogo a este palheiro; terceiro, a luta de classes, na época em que vivemos, é de todo um povo contra
as castas que vivem, como vampiros, à custa do sangue dos outros; quarto, quando pago a factura de electricidade só me vem à memória a notícia:
prostituta é presa após morder o pénis de um cliente. Só que nesta história de
prostitutas ninguém é preso. O regime abandalhou-se a este ponto. Paz à sua alma!
Por Tomás Vasques às 15:17
Post retirado do blog "Hoje há conquilhas amanhã não sabemos"
por Inês Pedrosa
In Revista Bravo
O Grupo Porto, do qual fazem parte as chancelas Porto Editora, Sextante e Albatroz, apresentou hoje as novidades editoriais para o primeiro semestre de 2012. Quase seis dezenas de títulos dos quais se destacam Grande Arte' a obra prima do brasileiro Rubem Fonseca, Adão no Eden, de Carlos Fuentes e Últimas Noticias do Sul, uma viagem pela Patagónia que junta textos de Luís Sepulveda a fotos de Daniel Mordzinsky.
Três nomes fundamentais das literatura contemporânea que transitaram de outras editoras directamente para o grupo Porto que no ano passado já tinha conseguido os direitos de publicação de Isabel Allende e de Jorge Luís Borges, (este através da Quetzal).
Das obras que serão lançadas até Julho fazem parte Lágrimas na Chuva da espanhola Rosa Montero, Baku-Últimos Dias, de Olivier Rolin, Os Malaquias de Andrea del Fuego, vencedora do Prémio Saramago, ou Os Filhos de Alexandria de Françoise Chandernagor.
Serão ainda publicadas obras de vários autores portugueses como Teolinda Gersão, João Pedro Marques, Sofia Marrecas Ferreira, Miguel Miranda, Joel Neto, João Bouza da Costa, entre outros.
Fernando Pessoa chega ao Grupo Porto pelas mãos de um ex-ministro da Justiça brasileiro, José Paulo Cavalcanti Filho. A obra que resulta de dez anos de pesquisa em torno do poeta português intitula-se Uma Quase Autobiografia.
O grupo aposta ainda em best sellers como Sveva Casati Modignani ou Agape do padre brasileiro que arrasta multidões, Marcelo Rossi.
Dentro do nicho infanto-juvenil o destaque vai para a colecção CHERUB, da qual serão publicados dois titulos:O General e Brigands M.
"Já no tempo de Alexandre as portas da Índia estavam fora de alcance, mas, ao menos, o gládio do rei mostrava a sua direcção. Hoje, as famosas portas estão mais longe e mais inacessíveis; mas ninguém mostra a direcção: muita gente brande gládios mas o olhar que pretende segui-los perde-os de vista"
Franz Kafka, "O novo advogado" em a Metamorfose