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PARA WALT WHITMAN NOS TEMPOS DO MACCARTHYSMO
Já não te podem suportar, Walt Whitman.
Como os doentes que na doença se comprazem e não
[toleram que lhes demonstrem a saúde.
Como quem à luz incomparável do real se sente albino
e proclama a noite em pleno dia,
assim eles te rejeitam, ó patriarca, te tornam episódico,
porque não querem que tenhas ainda muito mais
[ consequências,
porque não podem, inconfundível como és, aproveitar-te
para aumentar a confusão.
As grandes pontes fraternais que lançaste, vão-nas
[demolindo.
O amor sem limites que te trouxe até nós,
o teu orgulho de uma humildade insuportável,
de uma humanidade formidável,
perante as grandes e pequenas coisas deste mundo,
tudo isso vão eles negando e rejeitando,
e o seu ideal será dizer, um dia,
que nunca exististe, que não foste
mais do que, como nos filmes, mera coincidência.
Ó Walt, no país que foi o teu já não há ruas
como os versos por onde caminhaste até nós,
até este «nós», ruas largas, mas de fraternidade,
ruas percorridas por uma simpatia, uma saúde, uma
[alegria
que só esperavam mais rostos p'ra se demonstrar...
Que eu viaje, respire, viva
— escrevo hoje como escrevi um dia —
no teu verso democrático, ó Walt Whitman!
Como as sequóias que cresceram através dos séculos
até nos nossos dias se elevarem
cm majestosas catedrais,
assim também não foi em vão que tantas vozes cresceram
até na tua, muito alto, verdejarem.
*
Não sei porquê, Walt, a teu respeito
me lembro duma garrafa
que no país que ainda é teu há anos enterraram.
Tinha filmes, livros, notícias completas
deste tempo que é e não é nosso.
garrafa lançada ao mar do tempo
p'ra que os futuros homens, descobrindo-a,
soubessem o que fomos...
Poema de Alexandre O'Neil, In Poemas com endereço